Sepultamento de vítima da covid na tarde desta segunda-feira (01-03) no Cemitério Nossa Senhora Aparecida no Tarumã (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real)

As trevas abraçam o país. Vivemos o pior momento da pandemia com mais de 255 mil mortes pela Covid-19 (oficialmente) e o colapso do sistema de saúde. Na maioria dos estados não há mais vagas nos leitos de UTIs, a vacinação tem sido suspensa em várias cidades por falta do imunizante e todo o processo de vacinação no país caminha a passos de tartaruga.

Enquanto isso, o culpado por toda essa situação, continua sua cruzada de mentira e morte. Bolsonaro é o maior militante em prol do vírus em todo mundo.  O “capitão-covid” se recusa a comprar mais vacinas, ao mesmo tempo em que é um militante fervoroso contra o lockdown. No sábado, 27, proclamou aos berros: “O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e, daqui pra frente, o governador que fechar o seu estado, o governador que destrói emprego, ele é que deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do presidente da República essa responsabilidade”.

No dia em o país chegou a 255 mil óbitos notificados, Bolsonaro continuou zombando dos mortos. “Desculpe aí, pessoal, não vou falar de mim, mas eu não errei nenhuma desde março do ano passado”, disse.

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Bolsonaro negou a gravidade do vírus (“é só uma gripezinha”), zombou das vítimas (“todo mundo morre um dia”), é contrário ao uso de máscaras (“eu tenho minha opinião sobre máscaras, cada um tem a sua”), receitou cloroquina como tratamento preventivo, apesar de cientistas comprovarem sua total ineficácia (“uso da cloroquina se apresenta como algo eficaz”); e agora intensifica a sua campanha contra o  lockdown.

O seu argumento é simples. O lockdown levaria ao colapso da economia do país, levando à bancarrota empresas e o comércio. Portanto, argumenta ele, ser contra o fechamento é defender os empregos.

Trata-se de uma óbvia tentativa de se safar sobre a responsabilidade do seu governo em garantir empregos e a não deixar que pequenos comércios vão à falência. Bolsonaro não quer gastar nenhum centavo com algum auxílio emergencial digno para que milhões de trabalhadores, e nem oferecer ajuda aos pequenos comerciantes que tem seus negócios ameaçados.

No dia 28, Bolsonaro disse que deu dinheiro aos estados e divulgou uma conta sobre valores diretos e indiretos repassados. Porém, os governadores responderam que os dados são distorcidos porque englobam repasses obrigatórios pela Constituição Federal, previstos pelo pacto federativo.

Paciente chega ao Hospital de Campanha de Santarém, recém-aberto. Foto: Pedro Guerreiro / Ag. Pará

Bolsonaro sequer gastou o dinheiro reservado à compra de vacinas. Até 19 de fevereiro, foram gastos míseros 9% do dinheiro liberado em caráter de urgência e emergência para a compra e o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19. Também recusa a oferecer recursos para a abertura de novos leitos de UTI nos estados para o tratamento da doença. O que esperar, afinal, de um genocida que diante da falta de oxigênio em Manaus proclamou: “não é problema do governo”.

Bolsonaro quer empurrar os trabalhadores para a morte, usando-os como bucha de canhão para que os grandes capitalistas continuem lucrando.

Contudo, mesmo do ponto de vista da economia capitalista, a estratégia de Bolsonaro revela-se estúpida. Por sua culpa, o total descontrole da pandemia ameaça as expectativas de retomada da economia, projetada em 3,5% para 2021, o que na prática significa quase estagnação em relação ao trimestre final de 2020. Soma-se a isso a inflação da comida, que foi de mais de 20% em 2020 e ainda será o dobro da inflação média em 2021.

Mas tudo que está ruim pode ser ainda pior. Ao não interromper a circulação do vírus, especialmente agora em que suas mutações mais infecciosas circulam pelo país, combinada à extrema lentidão da vacinação da população, o Brasil poderá demorar muito mais em controlar a pandemia do que muitos outros países. Ao se desenvolver livremente, novas variantes do vírus podem surgir e escapar da imunização proporcionada por algumas vacinas e, inclusive, aumentar sua letalidade entre pessoas mais jovens, como algumas pesquisas científicas já começam a sugerir, e médicos já observam na prática nos hospitais.

Por isso, é fantasiosa a noção de “imunidade de gado”, como defende por Bolsonaro.  Essa imunidade não existe sem vacinação, e o genocida sabe disso. Ao seguir seu curso natural, qualquer vírus se modifica, e apenas uma vacinação em massa pode interromper tal curso.

A natureza ignora o tempo da economia capitalista e os discursos ideológicos. Nesse cenário de descontrole total, o Brasil poderá demorar anos para voltar ao normal, registrando por um longo período crises endêmicas de Covid-19. Em outras palavras, a Covid-19 poderá ser tornar endêmica, como a dengue, gripe, malária e tuberculose, por exemplo. Não basta muita imaginação para perceber que conviver com o vírus por mais dois ou três anos seria um enorme catástrofe “para a economia” e, principalmente, para a vida de mais de centenas de milhões de brasileiros.

Mas, se Bolsonaro é um Pilatos com sangue retinto nas mãos, os governadores têm a sua responsabilidade na conta do colapso atual. Praticamente todos se recusaram a decretar uma quarentena pra valer, mesmo diante das constantes advertências dos comitês científicos. Muitos, inclusive, liberaram aulas presenciais, como é o caso de João Dória em São Paulo. E mesmo diante do caos, os governadores ainda recusam a decretar um lockdown que interrompa todos os serviços não essenciais.

Adotaram medidas farsescas, como a interrupção parcial das atividades durante a noite e a madrugada. Ora, tal medida é absolutamente insuficiente. Não há nenhum registro científico sobre o comportamento notívago do vírus. As grandes concentrações, como transportes superlotados, as aglomerações no trabalho e no comércio, as aulas em escolas, ocorrem durante o dia e possibilitam a livre circulação do vírus. Por isso é hipocrisia a adoção desse tipo de medida que, aliás, apenas desmoraliza a quarentena aos olhos da população e fortalece as mentiras de Bolsonaro e mobiliza sua caterva na campanha em prol da Covid.

O Brasil precisa de uma vacinação em massa para todos imediatamente

A atual vacinação a passo de tartaruga é culpa de Bolsonaro que não quer comprar vacinas. Até o dia 1 de março, temos 10,9 milhões de vacinas disponibilizadas pelo programa de imunização do Ministério da Saúde. Destas, 8,7 mil já foram utilizadas, e apenas 3,2% da população recebeu alguma dose da vacina. Bolsonaro se recusa em comprar mais vacinas. O capitão-covid sequer garantiu que o Brasil recebesse doses suficientes do consórcio Covax Facility, aliança da Organização Mundial da Saúde (OMS). Receberemos apenas 9,1 milhões de doses do consórcio. Vários países receberão mais doses do que o Brasil, como Paquistão (17 milhões de doses) e Nigéria (16 milhões).

Para erradicar o vírus, é preciso vacinar cerca de 70% da população, ou seja, mais de 160 milhões de pessoas, com duas doses dessas vacinas. Isso significa que precisamos de mais de 300 milhões de doses de vacina. É urgente quebrar a patente das vacinas e produzi-las aqui em larga escala. Quanto mais rápido for a vacinação, menor será o risco de mutação do vírus, que pode desenvolver variantes mais mortais e resistentes às vacinas atuais.

É preciso também decretar quarentena pra valer

O médico e neurocientista Miguel Nicolelis já alertou que, sem lockdown, o Brasil vai conhecer uma “catástrofe épica”. Das grandes fábricas, passando pelos bancos, shoppings, grandes lojas, escolas, tudo o que não for essencial precisar parar. O lucro não pode estar acima das vidas. Mas para garantir a medida é preciso um auxílio emergencial digno para os trabalhadores e medidas de proteção ao emprego; também é preciso disponibilizar recursos e garantir condições aos proprietários de pequenos negócios para que não fechem e não demitam.

Bolsonaro é o maior obstáculo ao combate à pandemia. Precisamos botar pra fora Bolsonaro e Mourão. Só a luta e a mobilização botarão abaixo esse governo miliciano. Tirá-lo de lá é condição fundamental para enfrentar a pandemia e salvar vidas. Mas para que o povo volte a ocupar às ruas também precisamos de vacinas.

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