Redação

Roberto Aguiar, da redação, e Jocemir Souza, de Joinville (SC)

Na posse em Brasília, Lula (PT) subiu a rampa com representantes de setores marginalizados, oprimidos e invisibilizados da sociedade, entre eles os povos indígenas com a presença do Cacique Raoni. Uma cena forte, podemos dizer. Mas, de lá para cá os povos originários seguem ainda sofrendo com situações de abandono e descaso, mesmo com a criação do ministério dos Povos Indígenas, que tem a indígena Sônia Guajajara (PSOL) à frente.

Nos últimos dias, quatro situações mostraram o descaso que passam os povos indígenas. O povo Laklãnõ Xokleng era duramente reprimido pela Polícia Militar a mando do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), para fechar uma barragem e colocar populações inteiras em risco. No Maranhão, estado da ministra Sônia Guajajara, a Terra Indígena do Alto Turiaçu ardia em chamas com um incêndio florestal que durou mais de um mês. No Amazonas, indígenas dos povos kokamas, tikunas e mayorunas estão adoecendo de diarreia, infecção intestinal e vômito por beber água contaminada, já que as comunidades estão sem acesso à potável devido à seca do Rio Amazonas. Em Roraima, os garimpeiros voltam a invadir Terra Indígena Yanomami, conforme denúncia feito por Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), ao jornal Folha São Paulo, no último dia 20. 

Maranhão

Floresta na Terra Indígena do Alto Turiaçu em chamas

Incêndio que durou mais de um mês destruiu florestas e matou animais na Terra Indígena do Alto Turiaçu. O território abrange uma área de 531 mil hectares no oeste do estado do Maranhão, onde vivem mais de 4 mil indígenas das etnias Ka’apor, Tembé e Awá-Guajá.

A devastação só ganhou notoriedade no dia 13 de outubro, quando os indígenas começaram a postar vídeos nas redes sociais mostrando a destruição do incêndio que teve início nas grandes fazendas que cercam o território. Eles denunciavam que estavam há um mês lutando sozinhos para controlar o fogo, sem nenhum tipo de ajuda dos governos estadual e federal.

Depois disso, 31 agentes do Corpo de Bombeiros, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade foram encaminhados para o território, mas só isso não foi suficiente. O fogo só foi controlado com a ajuda de outros povos indígenas, que enviaram equipes de guardiões para atuar no combate ao incêndio. As chuvas que ocorreram nos últimos dias também foram importantes para cessar o fogo. 

Em vídeo enviado ao Opinião Socialista, disponível em nossas redes sociais, o Cacique Iracadju Ka’apor denunciou o descaso dos governos estadual e federal. Informou que devido ao contato com a fumaça, vários indígenas estão doentes na comunidade e estão precisando de ajuda médica e de remédios. Ele também denunciou a precariedade do serviço de saúde ofertado à comunidade e cobrou medidas urgentes por parte da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), órgão ligado ao Ministério dos Povos Indígenas. 

Santa Catarina

Território Indígena Xokleng pede socorro!

Não bastassem as fortes chuvas que atingiram Santa Catarina, castigando o Território Indígena Xokleng onde casas foram alagadas, o governador Jorginho Mello (PL) usou a PM para reprimir violentamente o povo Xokleng para fechar arbitrariamente uma barragem inoperante e colocar populações inteiras em risco. 

Uma campanha solidária foi realizada em apoio ao povo Xokleng, vítima de descaso dos governos estadual e federal. A mobilização nas redes sociais foi fundamental para chamar atenção do que estava acontecendo. O PSTU e o Coletivo Rebeldia de Santa Catarina foram parte dessa campanha.

O ministério dos Povos Indígenas foi obrigado a se mover. No último sábado, dia 21, a Funai, Joenia Wapichana, visitou a comunidade e anunciou a cessão de um imóvel, o que garante a Comunidade Indígena Xokleng na área de 8,6 milhões de m², inclusive no que se refere à aplicação de políticas públicas voltadas à promoção e proteção dos direitos do povo indígena, mesmo com a demarcação do território tradicional ainda em andamento. Isso foi fruto da luta e não uma concessão do governo federal.

Apoiar os povos originários

Chega de descaso!

Já são 10 meses de governo de Lula, situações de descaso com os povos originários seguem. Chega! Não basta só subir a rampa com os indígenas para dar “close”. 

É preciso medidas concretas para impedir a ação de garimpeiros, de grileiros, de latifundiários que tocam fogo e que derrubam matas nas terras indígenas. Não é admissível que indígenas fiquem doentes por não ter água potável para beber. Não podemos aceitar que os Ianomâmis sigam sendo ameaçados e assassinados por garimpeiros, é preciso retomar as ações de segurança, que foram reduzidas pelo governo federal. Em verdade, o genocídio dos povos originários do Brasil  se assemelha ao genocídio palestino. Por isso também apoiamos todas as ações de autodefesas dos povos indígenas que se organizam para defender suas vidas e seu território dos invasores. Basta de descaso com os povos originários!