Ana Cristina, de São José dos Campos (SP)

No último dia 21 de outubro, um sábado, trabalhadores e trabalhadoras da GM, em três fábricas da montadora no estado de São Paulo, foram surpreendidos por telegramas e e-mails enviados pela empresa com uma sucinta comunicação de demissão. “A queda nas vendas levou a General Motors a adequar seu quadro de funcionários. Por isso, comunicamos que a empresa decidiu pela rescisão do seu contrato de trabalho”, informou a multinacional.

Repete-se, assim, o mesmo modus operandi adotado em outros momentos, como a demissão em massa feita em 2015, em pleno Dia dos Pais, sem qualquer responsabilidade social ou mínima preocupação com o impacto desse tipo de notícia sobre a vida dos trabalhadores(as) e suas famílias. 

Três dias depois, quando fechávamos esta edição, a empresa ainda não havia informado oficialmente quantos cortes foram feitos e nem se disposto a reunir com os sindicatos de São José dos Campos, Mogi das Cruzes e São Caetano do Sul, onde foram feitas as demissões. 

A estimativa dos sindicatos de trabalhadores é que o facão tenha afetado mais de mil funcionários, dentre os quais vários em lay-off (suspensão dos contratos de trabalho), trabalhadoras grávidas e portadores de problemas de saúde.

Mobilização imediata e unidade

A reação dos trabalhadores foi à altura do ataque feito pela GM. Ainda no domingo (22), o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, filiado à CSP-Conlutas, convocou uma assembleia em sua sede. A rua em frente à entidade acabou lotada, com centenas de trabalhadores. 

Numa forte e unânime votação, os metalúrgicos declararam “guerra” contra as demissões e foi aprovada greve, a partir de segunda-feira (23). No dia seguinte, outra assembleia, agora unificada com funcionários e funcionárias dos três turnos da montadora, também aprovou a paralisação, por unanimidade e tempo indeterminado, com a exigência do cancelamento imediato das demissões.  Em assembleia, os funcionários da GM em Mogi das Cruzes e São Caetano aprovaram o mesmo. 

Ao todo, são 12 mil metalúrgicos(as) de braços cruzados, numa importante luta unificada. Em São José, nos piquetes nas portarias, além dos dirigentes sindicais e ativistas, os trabalhadores começam a se revezar no apoio à mobilização e à organização da luta.

A verdade

GM não está em crise. Objetivo é reestruturação e lucros.

Em São José dos Campos e Mogi das Cruzes, a GM tem um acordo firmado com os sindicatos, que garante estabilidade no emprego para todos os trabalhadores em razão do lay-off em vigor. A validade é até maio do próximo ano. A demissão em massa, portanto, descumpre o acordo de forma ilegal.

Além disso, os sindicatos questionam a alegação da empresa para os cortes. Os resultados financeiros da montadora revelam outra realidade. No segundo trimestre deste ano, a GM obteve lucro líquido de 3,06 bilhões de dólares (quase R$ 13 bilhões). A receita foi de US$ 44,1 bilhões, equivalente a um aumento de 5,4% em comparação ao mesmo período anterior. 

No Brasil, nos três primeiros meses deste ano, em comparação ao mesmo período de 2022, a companhia teve crescimento de 42% em suas vendas.

Luta

Trabalhadores fazem exigência aos governos Lula, Tarcísio e Anderson

Este ano, Lula e Alckmin iniciaram o governo lançando um programa para subsidiar a venda de carros zero-quilômetro, que garantiu um aumento nos emplacamentos de várias marcas, inclusive da GM. As montadoras aderiram em peso ao programa, sem compromisso algum com a manutenção dos empregos.

Segundo dados da Receita Federal, divulgados em junho, somente em 2021, 29 montadoras se beneficiaram com R$ 20,7 bilhões com isenções fiscais. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que benefícios tributários para o setor automotivo desde 2010 “entregaram pouco desenvolvimento regional”. Ou seja, a guerra fiscal entre as empresas, e estimulada por governos, não favorece os trabalhadores.

Os sindicatos enviaram ofícios aos governos federal, estadual e municipal para agendar reuniões e a exigência é de que as autoridades tomem medidas para reverter as demissões e garantir os empregos. Afinal, são esses mesmos governos que mantêm uma política permanente de benefícios às empresas, principalmente às montadoras.

Depoimento

“É guerra contra essas demissões”, dizem metalúrgicos

“Não existe crise na GM. O que existe é um processo de reestruturação da montadora em todas as suas unidades no mundo. Nos Estados Unidos, os metalúrgicos da GM, da Ford e da Stellantis estão em greve há um mês, por melhores salários e direitos. Precisamos fortalecer a unidade nacional e internacional dos trabalhadores para enfrentar a ganância das multinacionais e cobrar dos governos que garantam medidas em defesa dos empregos”, ressalta Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José e militante do PSTU. 

“É guerra contra essas demissões arbitrárias feitas pela GM. Vamos à luta pelo cancelamento de todas as demissões, por estabilidade no emprego e pela redução da jornada sem redução salarial”, acrescentou Weller. “E se a GM se negar, que seja nacionalizada e estatizada sob controle dos trabalhadores”, concluiu o companheiro.