PSTU-São José do Rio Preto

O carnaval do ano 2019 vai ficar marcado na memória dos brasileiros pela resistência eo protagonismo em todos os cantos do Brasil. É claro que essa característica carnavalesca não é de hoje. Mas o Carnaval de 2019, de certa maneira, refletiu o momento político que nós estamos vivendo.

Esse foi o caso da Escola Paraíso da Tuiuti, que apresentou um samba enredo composto por Jack Vasconcelos sobre a Escravidão no Brasil e politizou as avenidas cariocas, junto a Mangueira, que homenageou os verdadeiros heróis do nosso povo (negras e negros, indígenas e pobres) e foi vencedora de vários prêmios.

Faixa do bloco anunciava a resistência contra o genocídio da população negra.

Vale ressaltar também a politização presente nos blocos de carnaval que se espalharam de norte a sul do país. E aquele que foi o principal alvo das marchinhas compostas especialmente para esse momento tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro e sua corja de corruptos.

Mas não foi apenas nas grandes capitais que a resistência e a luta contra essa sociedade racista, machista, homofóbica e desigual marcaram presença. Em São José do Rio Preto (SP), o desfile também contou com o grito forte de resistência do Òbárà Bloco Afro, que levou para a avenida o tema “Agbara obirin – África mãe do mundo! Òbàrà Bloco Afro na luta pela eliminação da discriminação racial!”. O bloco denunciou o racismo e o genocídio do povo preto no Brasil, tanto nas músicas quanto na faixa carregada por integrantes do bloco, na qual podia se ler a frase “Unidos contra o genocídio da população negra”. A denúncia foi acompanhada pelas fortes e contagiantes batidas de ritmos populares negros como o afoxé e o samba afro.

O porta voz e coordenador do Bloco, Vinícius Rocha, fez um discurso, apontando os casos de Pedro Gonzaga, morto por um segurança no supermercado Extra, na Barra da Tijuca (RJ) e de Crispim Terral, homem negro maltratado e agredido em um banco da Caixa em Salvador (BA). Além disso, o desfile do bloco fez uma forte referência às religiões de matrizes africanas, que vêm sofrendo perseguição no país e na cidade. Misturando palavras de ordem, como “O Brasil é Negro, o carnaval é Negro”, com letras “preta resistência é viver sem medo” e louvando os orixás (“Exú elegbara agó abre os caminhos pra gente”), o bloco foi contagiando os rio-pretenses que estavam assistindo ao desfile. Em uma cidade marcada pela ausência de políticas de combate ao racismo, foi realmente lindo de se ver tanto o desfile do bloco, quanto a platéia erguendo os punhos ao som de “Quilombo axé”.

Por isso, o carnaval, além de ser um espaço de diversão, também foi um espaço de denúncia e politização. 2019 foi o ano em que os trabalhadores e as trabalhadoras, negros e negras, indígenas, LGBTs e quilombolas não ficaram “à toa na vida, olhando a banda passar”, mas entraram na banda e gritaram a sua própria História. No carnaval de Rio Preto também teve resistência negra.