Redação

O ano começou com uma imagem de esperança: a primeira vacinação, numa enfermeira negra da linha de frente do combate à pandemia.

Pouco depois, porém, a esperança deu lugar à revolta com a tragédia anunciada em Manaus. Pacientes morrendo sufocados por falta de oxigênio, familiares vendendo o carro para tentar comprar cilindros do gás e trabalhadores do SUS desesperados.

Indignação ainda maior ocorreu quando foi revelado que o general Eduardo Pazuello esteve dias antes na capital amazonense, foi informado sobre a falta de oxigênio e nada fez. Ou melhor, fez: distribuiu cloroquina. Em qualquer lugar civilizado, ele já estaria preso, assim como seu chefe, afinal um manda e o outro só obedece.

Ficou cada vez mais evidente que o governo de Bolsonaro e Mourão é um completo entrave à vacinação em massa.

Na mesma semana, as pesquisas revelaram o forte desgaste do governo. A revista Exame mostrou um tombo na aprovação do presidente de 37% para 26%. No Datafolha, a rejeição sobe 8 pontos, indo para 40%. Já a pesquisa Atlas mostra que a maioria do povo, 53%, é a favor do impeachment. Reflexo da crise sanitária junto com o fim do auxílio emergencial e do avanço do desemprego (leia mais na página 7).

Mobilizações precisam avançar

A tampa da panela de pressão começa a se mexer. Os panelaços retornam com força. As carreatas foram fortes e aconteceram em todas as regiões. Mas esse governo não vai cair sozinho. É preciso intensificar as lutas e utilizar todo o arsenal disponível neste momento para pôr abaixo este governo.

Temos, por um lado, uma oposição de direita que não está disposta a tirar Bolsonaro, mas desgastá-lo para colocar uma alternativa sua nas próximas eleições. A oposição parlamentar de esquerda, por sua vez, é absorvida pela disputa da presidência da Câmara, na qual um setor do PT, por exemplo, defende apoiar o candidato de Bolsonaro, e outro defende o de Maia. O mesmo ocorre no PSOL, em que os parlamentares se digladiam sobre apoiar ou não o candidato de Rodrigo Maia. A perspectiva também não é derrubar Bolsonaro, mas construir uma frente ampla com a burguesia para 2022.

A hora é a de unificar a luta para tirar Bolsonaro e Mourão já! Nesse sentido, foi importante a plenária nacional popular ocorrida no último dia 25. Reunindo movimentos, partidos e diversas organizações, foi aprovado um calendário de lutas que inclui um conjunto de ações (confira aqui). É decisivo que as organizações joguem todo o peso nessa jornada, como defende a CSP-Conlutas.

Proposta dos trabalhadores para ter vacina, auxílio e emprego

Ao mesmo tempo, precisamos exigir investimentos maciços no SUS e nos institutos como o Butantan e a Fiocruz que, embora precarizados nos últimos anos, são referências em vacinas. Da mesma forma, é preciso quebrar a patente de todas as vacinas. O Brasil tem condições de produzir os insumos para si e para o mundo, inclusive com tecnologia mais avançada, desde que se invista em ciência e pare de sucatear o setor.

É fundamental ainda a volta do auxílio emergencial de R$ 600 (que deveria ser, na verdade, de pelo menos um salário mínimo). É urgente isentar a tarifa de ônibus, luz e água aos desempregados, assim como reduzir e congelar os preços da cesta básica e do gás de cozinha.

É preciso garantir a estabilidade no emprego, estatizar sem indenização as grandes empresas que fecham ou demitem, como a Ford; reduzir a jornada para abrir novos postos, sem reduzir salários; investir num plano de obras públicas que gere emprego; e garantir a sobrevivência do pequeno negócio e do pequeno empresário, isentando de impostos, garantindo crédito e assumindo a folha de pagamento das empresas com até 20 funcionários.

Para conseguir isso, basta atacar os lucros dos bilionários, das grandes empresas e dos banqueiros; proibir a remessa de lucros e taxar fortemente as multinacionais, nacionalizando os setores essenciais e as 100 maiores empresas, que controlam 70% da economia. Uma taxação de 40% da fortuna dos 43 bilionários garantiria com sobra o auxílio emergencial e as vacinas. Além disso, é preciso defender a soberania e impedir as privatizações.

O governo e o Congresso Nacional reclamam que não há dinheiro e que só podem conceder um auxílio (ainda menor que os R$ 600) se tirar da saúde e da educação ou se atacar os setores remediados, como os servidores, mas não fazem nada contra os banqueiros, grandes empresários e bilionários. Pelo contrário, dá isenções e entrega estatais para eles. Chega! São os ricos que devem pagar pela crise.

Nessa luta, precisamos levantar ainda a necessidade de um governo socialista dos trabalhadores, que governe em conselhos populares. É preciso colocar no horizonte a estratégia da revolução socialista, que permita construir uma sociedade igualitária, com pleno emprego, sem miséria, opressão ou exploração aqui e em todo o mundo. Para isso, precisamos também nos organizar. Venha construir uma alternativa socialista e revolucionária conosco.