Geraldo Batata, de Contagem (MG)
Como já discutimos em um artigo publicado “O caso Americanas: os semideuses e os demônios do capitalismo, a fraude da Americanas abalou o “mercado”. Os principais bancos do país estão se digladiando, com batalhas judiciais e investigações criminais por fraudes, e a história também tem sido pauta em toda imprensa, nas instituições governamentais etc.
Abriu-se a “Caixa de Pandora” do sistema financeiro. A imprensa burguesa se escandaliza. Os bancos, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e as bolsas bradam contra os “semideuses do capitalismo” que, no reino da “pureza e honestidade”, maculam as normas do mercado (ohhhh!!!).
Descobriram que a controladora 3G Capitais tem uma verdadeira “ficha corrida” de escândalos e falsificações, que envolvem o Banco Garantia, a Kraft Heinz, a ALL, a Americanas e, agora, enquanto escrevemos esse texto, veio à tona um “possível rombo” de R$ 30 bilhões nas contas da AMBEV.
Mas o que explica, após tantos escândalos, que Lemann, Telles e Sicupira tenham gozado, durante décadas, de tanta confiança do “mercado”? Isso acontece porque, no capitalismo, as relações são baseadas na mais pura mentira, na corrupção e na violência imposta sobre a imensa maioria da população.
BTG, Bradesco, Itaú, Santander, SamSumg, Vale, dentre muitas outras, utilizam as mesmas práticas em seus negócios. A diferença, ao que parece, é que o trio da 3G sempre esteve muito à frente de seus concorrentes e sócios. Por isso mesmo são os homens mais ricos do país.
O tamanho do rombo
“Onde foram parar os R$ 40 bilhões? Nas contas dos sócios controladores?”, são algumas das perguntas que estão sob investigação. O que se sabe é que, no mínimo, em dez anos, foram distribuídos pelo menos R$ 800 milhões para diretores executivos, assim como dividendos para acionistas, aprovados por eles mesmos. E o restante?
Com uma atitude agressiva no mercado de “e-commerce” (comércio eletrônico), as ações das Americanas foram um atrativo para centenas de milhares de pequenos investidores, participantes de fundos de investimentos de corretoras e bancos. Muitas vezes trabalhadores, que buscavam fazer render um pouco mais suas economias.
Esse afluxo de compras elevou o valor das ações da empresa e, nas bolsas, atraiu mais investimentos e dividendos para os acionistas. Quem está no topo dessa pirâmide, e tem informações privilegiadas, negocia suas ações e decide quem ganha e quem perde.
Exploradores
Semideuses ou vampiros?
A 3G (como todos capitalistas) faz parte de um bando de “vampiros”, que vive parasitando o trabalho de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, no país e no mundo, além de pequenos e médios empresários.
Nas lojas Americanas há 44 mil trabalhadores diretos e outros 60 mil indiretos, além de mais de 7.000 fornecedores. Em 2021, essa imensa massa faturou R$ 25,6 bilhões de receita bruta, mas somente 3,92% desta quantia (R$ 1 bilhão) foram gastos para remunerar os salários. Lemann, Sicupira e Telles (da 3G) ainda são sócios da Ambev, maior cervejaria do mundo, com 40 mil trabalhadores, e de outras centenas de empresas onde têm participação.
A riqueza da 3G, guardadas as malandragens, não é obra da magia, nem de deuses e semideuses do capitalismo. É pura exploração. Uma engrenagem que garante a concentração da riqueza dos bilionários, por um lado, e uma imensa maioria de trabalhadores mal remunerados, precarizados, desempregados e miseráveis, por outro.
Parasitas
Quem se apropria das riquezas?
Essa situação transforma os donos do capital numa verdadeira autocracia, onde 55 bilionários têm fortunas pessoais que somam R$ 836,20 bilhões. O trio da 3G, sozinho, detém R$ 180 bilhões, o que os faz deles os homens mais ricos do país, donos de um verdadeiro império. É um nível de concentração impressionante que, por outro lado, revela o profundo grau de empobrecimento do país.
O Brasil vive um intenso processo de desindustrialização e a economia voltou-se para exportação de produtos primários. Esses grandes empresários investem no agronegócio, na especulação financeira, no confisco dos direitos sociais, nas privatizações de Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e instituições de ensino etc.
Por exemplo, através da Fundação Lemann e do grupo Eleva (maior grupo privado de Educação Básica do país), estes bilionários investem na privatização da Educação, influenciam políticos que sucateiam o ensino e fazem parcerias que mudam a gestão das escolas.
Como se vê, esse capital também é utilizado para controlar o Estado, os políticos e a vida econômica de milhões de trabalhadores.
Fraude
Lula, cancele a privatização da Eletrobrás!
A privatização da Eletrobrás seguiu o mesmo estilo das fraudes verificadas na Americanas. Por “pura concidência”, a PricewaterhouseCoopers, mesma empresa que assinou os balanços fraudados da Americanas, também operou a privatização. Ao final do processo, a 3G foi uma das principais beneficiárias. Agora, de lambuja, também vai controlar todo o setor elétrico do país.
A fraude na Eletrobrás representa, no mínimo, 20 vezes mais do que a realizada na Americanas S.A. Caso fique nas mãos do trio de fraudadores. O governo Lula pode, e deveria, questionar todo o processo de privatização da Eletrobrás.
No caso das Americanas, é preciso bloquear os bens dos acionistas da 3G e dos executivos das redes de lojas. E, ao que parece, de todo o império financeiro dos três bilionários, para garantir os salários, empregos e direitos das centenas de milhares de trabalhadores das empresas controladas pelo grupo. Além disso, é necessária a punição e cadeia) para os fraudadores.