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Erika Andreassy, da Secretaria de Mulheres do PSTU

No dia 20 de janeiro, o jogador brasileiro Daniel Alves foi preso no Estado Espanhol sob acusação de estupro. O crime teria ocorrido numa boate, em 31 de dezembro, em Barcelona.

Apesar de que o jogador negue as acusações, apurações preliminares e resultados de exames médicos, que comprovam violência, foram suficientes para a justiça aceitar a denúncia e decretar prisão preventiva. O caso segue sendo investigado.

Violência machista e cultura do estupro no futebol

Não se trata de um episódio isolado. De agressões verbais a feminicídios, são recorrentes os casos de violência contra mulheres envolvendo jogadores de futebol.

Basta lembrar o goleiro Bruno, Cuca, Marcelinho Paraíba, Robinho, Neymar e uns tantos outros jogadores investigados ou condenados por violência contra mulheres para que possamos debater e colocar em evidência o machismo e a cultura do estupro que predominam no esporte que tantos de nós amamos.

De acordo com levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo, em 2021, somente no estado de São Paulo a cada cinco dias uma mulher denuncia um jogador por violência doméstica ou sexual. E isso considerando apenas os casos que viraram registros formais na delegacia.

Sabemos que o futebol é um reflexo da sociedade e, portanto, num país onde um estupro é registrado a cada 10 minutos, não é de se espantar a quantidade de jogadores envolvidos em denúncias desse tipo.

Mas, não podemos banalizar ou naturalizar a violência cometida por essas personalidades, sob a alegação de que são “produtos” de uma sociedade machista. Ao contrário! É só pensar, por exemplo, a comoção e o escândalo que seriam provocados caso jogadores de futebol se envolvessem em roubos de carros na mesma proporção em que o crime é registrado na sociedade de conjunto. Seria considerado um absurdo. Como é inaceitável que a mesma “lógica” seja utilizada em relação à violência contra as mulheres.

Não à impunidade! Violência sexual é crime!

É precisamente porque são figuras reconhecidas e, em vários casos, servem como “exemplos” para muitas pessoas, que as atitudes dos jogadores precisam ser discutidas. E que, quando cometam crimes (e nunca é demais lembrar que violência sexual é um crime!), eles sejam investigados e punidos rigorosamente.

O debate gerado por casos como este precisa ajudar não só para que o futebol e o ambiente esportivo em geral se tornem mais acolhedores e menos opressores para as mulheres, mas principalmente para que a própria luta contra o machismo e a violência contra a mulher avance.

Tanto para que os homens, em especial os trabalhadores, tomem consciência de que precisam respeitar as mulheres, quanto para que as mulheres saibam que podem e devem exigir respeito, independentemente do lugar onde estejam.

Conquista

Um exemplo na luta contra o machismo

A prisão de Daniel Alves ocorre após um avanço na consciência da sociedade espanhola, provocado pelo grande levante ocorrido em 2018, em resposta ao bárbaro caso de estupro coletivo, em 2016, intitulado “La manada” (manada ou bando, em referência à asquerosa forma como os próprios estupradores se identificaram ao registrar o crime em vídeos).

A reação política que se seguiu, combinada com a força do movimento de mulheres, que saiu às ruas, aos milhares e em todas regiões do país, exigindo justiça, obrigou o Estado Espanhol a rever sua condução diante de casos de violência sexual.

A desqualificação da vítima e sua palavra costuma ser um dos recursos mais utilizados por abusadores e agressores, servindo à impunidade e à perpetuação da violência. O embate travado entre as mulheres em luta e o sistema judiciário no caso “La Manada”, contudo, levou a uma mudança de paradigma no enfrentamento ao machismo em dois pontos essenciais: o acolhimento à vítima e a agilidade institucional.

Um protocolo em defesa das vítimas

O protocolo adotado pela cidade de Barcelona após a rebelião contra o “La Manada” fez com que a boate não vacilasse, chamando prontamente a polícia, levando a jovem à realização de todos os procedimentos médicos necessários e dando início à investigação que, aliás, aponta, para dizer o mínimo, em fortíssimos indícios contra o jogador.

O desdobramento desse caso é o reconhecimento pela justiça burguesa, forçada pela luta nas ruas, da vulnerabilidade da vítima e do conteúdo desumanizante que representa esse tipo de violência contra as mulheres e outras identidades de gênero, vítimas do machismo ou da transfobia naturalizados.

Uma vitória que precisa servir de exemplo para o movimento de mulheres trabalhadoras no Brasil no enfrentamento dessa cultura machista, tão impregnada na justiça e na sociedade brasileira, exigindo punição exemplar para todos os crimes relacionados à violência de gênero. Basta de machismo!