Foto: Paulo Pinto / Fotos Públicas
Redação

Joaninha de Oliveira, professora, integrante da Executiva Nacional da CSP-Conlutas e militante do PSTU; Luiz Carlos Prates (Mancha), metalúrgico, integrante da Executiva Nacional da CSP-Conlutas e militante do PSTU

Nessa semana, ganhou manchete na imprensa a movimentação das cúpulas das maiores centrais sindicais brasileiras para incentivar a formação de uma chapa com Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) para as eleições de 2022. Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central chegaram a se reunir com o tucano para “pedir explicitamente” que ele aceite ser vice do petista.

A CUT não participou da reunião, realizada no último dia 29, mas o presidente da central, Sérgio Nobre, em entrevista ao jornal Valor Econômico, declarou que “não tem nada contra a proposta”. Que vencer as eleições é um desafio, mas que “governar é um desafio maior ainda” e que, por isso, é preciso “juntar todo mundo”.

Vemos assim, lamentavelmente, a maioria das direções das centrais sindicais novamente se alinharem a mais um projeto de conciliação de classes. Após 13 anos de governos petistas de conciliação e tudo o que veio depois, essas direções ainda não aprenderam a lição.

Negociações de vento em popa

As negociações para viabilizar a chapa Lula/Alckmin estão de vento em popa, segundo declarações e elogios mútuos trocados em entrevistas à imprensa. Lula tem elogiado o governo Alckmin em São Paulo e disse que “quer uma chapa para ganhar as eleições” e voltar “aos bons tempos”. O petista chegou a dizer que Alckmin é o “único tucano que gosta de pobre”.

Os afagos de Lula são coerentes com os governos do PT que, de fato, não enfrentaram ou romperam com a burguesia e o sistema capitalista. Ao contrário, foram governos, como o próprio Lula costuma dizer, em que “nunca os empresários ganharam tanto dinheiro”.

Alckmin é um dos principais representantes da burguesia. Em suas gestões, como governador do estado de São Paulo, aplicou à risca os planos dos banqueiros e empresários, privatizando, sucateando os serviços públicos, atacando metroviários, professores e servidores em geral, bem como ficou conhecido internacionalmente pela violenta desocupação que promoveu no Pinheirinho, em São José dos Campos (SP).

O aval dessas direções sindicais a uma frente com o ex-governador tenta conciliar interesses de classes totalmente antagônicas, algo que já se tornou comum na prática destas centrais. Basta ver o recente apoio que deram à desoneração da folha de pagamentos, que desvia recursos que deveriam ir para a saúde, educação e serviços públicos paras os bolsos dos patrões, com a desculpa esfarrapada de manter os empregos. Algo que já se comprovou não ter ocorrido desde que foi adotada.

Não se pode cair em armadilhas ou repetir erros

É indiscutível a destruição que o governo de Bolsonaro vem impondo ao país. Sua política ultraliberal e de ultradireita resultou em mortes, desemprego, carestia, inflação, fome e miséria. Sem falar nas ameaças às liberdade democráticas, nas práticas milicianas e de ataques aos indígenas, quilombolas, mulheres, negro(as) e LGBTs.

Por tudo isso, frente ao desastre do governo Bolsonaro, muitos ativistas e trabalhadores podem pensar que realmente é preciso qualquer aliança pra enfrentar a ultradireita.

Mas não se pode cair em armadilhas ou repetir erros. Uma chapa e um eventual governo em aliança com a burguesia não terá nenhum compromisso com a defesa de medidas a favor dos trabalhadores e dos mais pobres, como a revogação das reformas Trabalhista e da Previdência ou da Emenda Constitucional 95 que impôs o Teto de Gastos que congelou os investimentos em serviços públicos ou ainda de privatizações.

Nós também estamos dispostos a fazer, nas lutas e nas ruas, a mais ampla unidade com todos que estejam dispostos a colocar para fora o governo Bolsonaro já, e para isso, construir uma Greve Geral.

No entanto, uma verdadeira saída para a atual crise, e para resolver os problemas históricos que penalizam a classe trabalhadora e os setores mais marginalizados e oprimidos, não pode ser construída com a burguesia e seus representantes, tal como Alckmin, que no fundo são os que se beneficiam dos ataques ao povo.  Tampouco, a saída é a que está sendo apresentada pelo PT, que governou com os empresários e banqueiros por 13 anos e já indica que pretende fazer um governo ainda mais à direita.

Na fase atual do imperialismo decadente, em que assistimos países como o Brasil sofrendo um avançado processo de recolonização, com desindustrialização, desnacionalização e rapina profundas, as organizações dos trabalhadores vivem um dilema permanente: trilhar um caminho independente dos patrões e seu Estado, defendendo uma perspectiva revolucionária de ruptura com o sistema capitalista, pela via da mobilização; ou se tornar gestoras deste sistema de exploração, ajudando os capitalistas a se manterem no poder, fazendo parceria com os patrões nas empresas, defendendo ajustes fiscais, medidas neoliberais e outros ataques.

A adesão das direções destas centrais a uma frente com a burguesia, após boicotar e frear o processo de lutas pelo Fora Bolsonaro já é uma opção pelo segundo caminho. Vale ressaltar uma opção perigosa. Como destacou o Manifesto do Polo Socialista e Revolucionário, iniciativa que vem reunindo diversos ativistas, à qual o PSTU também integra, “fazer corpo mole na luta pelo Fora Bolsonaro hoje, esperando derrotá-lo com as eleições de 2022 é uma política criminosa, pois ignora a tragédia que ele impõe à população agora. É também perigosa, porque subestima o perigo que representa um governo que trabalha todos os dias para implantar uma ditadura no país”.

Alternativa socialista e revolucionária

Diante da atual crise capitalista, que a cada dia leva à humanidade à barbárie, é preciso lutar por uma alternativa socialista e revolucionária. Uma alternativa que possa, de fato, trazer as mudanças necessárias para garantir emprego, direitos, saúde, educação, moradia, o fim da política de aumento abusivo no preço dos combustíveis, o congelamento do preço dos alimentos, enfim, condições de vida dignas para a maioria da população.

Ainda como destaca o manifesto, “para mudar a vida do povo, não basta mudar o governo atual. É preciso mudar todo o sistema, acabar com o controle da burguesia e do imperialismo sobre o nosso país, acabar com o capitalismo. Não atingiremos esse objetivo com as eleições. Para isso, é preciso fortalecer a luta, elevar a consciência, avançar a organização independente da classe trabalhadora, da juventude e dos setores mais marginalizados e oprimidos da população”.

Chamamos todos os setores combativos do movimento sindical, militantes da esquerda, a juventude, a construir conosco um polo que defenda uma saída classista, socialista e revolucionária.

Leia e assine o Manifesto pela construção do Polos Socialista e Revolucionário.

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