Edifício-Sede do Banco Central em Brasília
Redação

No último dia 2, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, enfim, reduzir os juros básicos da economia, em 0,5 ponto. Com isso, a taxa Selic, que são os juros que remuneram os títulos da dívida pública, passaram de 13,75% para 13,25%, ainda um dos mais altos juros reais do mundo.

A pretexto de controlar a inflação, essa política de juros altos beneficia o grande capital financeiro, principalmente internacional, que compram títulos do governo e se enriquecem cada vez mais, se apropriando de bilhões do país sem produzir nada. Cada ponto percentual significa R$ 43 bilhões a mais de gastos ao ano, segundo dados do próprio Banco Central. Dinheiro que sai da saúde, educação, e demais áreas sociais, direto para um pequeno grupo de investidores internacionais.

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Subserviência

Ao mesmo tempo em que reclama dos juros, o governo Lula não toma nenhuma medida efetiva contra o presidente do Banco Central. A última de Campos Neto foi dizer à BlackRock, simplesmente o maior grupo especulador do mundo, com 10 trilhões de dólares na carteira e que vive de parasitar principalmente os países semicoloniais, que tem a intenção de “terceirizar” ativos do BC. O principal “ativo” do banco são as reservas internacionais, uma montanha de 324,7 bilhões de dólares, construída a partir de uma política de arrocho e cortes, com o objetivo de garantir a remuneração dos banqueiros em moeda forte. O presidente do BC quer passar isso diretamente à BlackRock.

O governo Lula poderia, por exemplo, já ter mandado Campos Neto embora há muito tempo, mesmo com a independência do BC. Mas não só não se moveu um centímetro para isso, como tenta garantir o arcabouço fiscal (um novo teto de gastos), e toda a política exigida pelos banqueiros.

Rapina

O sistema da dívida pública é um dos principais mecanismos de rapina e espoliação da América Latina. A própria BlackRock declarou, através de seu gerente de recursos de “mercados emergentes“, Pablo Goldberg, que a região é o mercado prioritário do grupo hoje. “Para nós, a oportunidade é muito maior nos lugares onde os bancos centrais têm muito espaço para cortar juros” afirmou à imprensa. Onde se lê “espaço para cortar”, pode-se entender como os juros na estratosfera.

O que esses grupos de “investimentos” fazem? Pegam dinheiro nos países com juros baixos, como os EUA ou o Japão, e aplicam na América Latina, principalmente em países como o Brasil, México e Colômbia, com os juros altos. Esse “investimento” não se reflete em incremento da produção, ou seja, em mais fábricas ou empregos, pelo contrário, após engordarem com os juros são trocados por dólar e voltam para os bolsos dos magnatas. É especulação pura, ou simples roubo e rapina.

Outro executivo da BlackRock voltado à América Latina, Axel Christensen, reafirmou ao Estadão a preferência do grupo por papeis da dívida do país. “Já estava entre as preferências da BlackRock desde o ano passado, mas, agora, a empresa está tornando essa opção mais explícita“, declarou, explicando que esses juros permitem ao investidor “um ganho muito bom”. A entrevista ocorreu pouco antes do anúncio do BC do corte de 0,5% dos juros, mas isso só confirmou a expectativa do executivo de que Campos Neto vai reduzir os juros de forma bem vagarosa, mantendo-os lá em cima por um bom tempo.

Indpendência do BC e suspensão da dívida

É preciso acabar com a “independência” do Banco Central, mas não só, impedir a aprovação definitiva e enterrar de vez o arcabouço fiscal de Lula e Lira. É necessário ainda parar de pagar a dívida, e investir o dinheiro que hoje enriquece meia dúzia de investidores como os da BlackRock, na Saúde, Educação, e demais serviços públicos, assim como na geração de empregos. É preciso, no mesmo sentido, investir aqui a montanha de dinheiro que hoje compõe as reservas internacionais, e estatizar o sistema financeiro.

Nesse mesmo sentido, é preciso lutar pela reestatização das empresas entregues ao capital internacional e que, assim como ocorre com a dívida, funcionam como instrumento de rapina e exploração, e colocá-las sob o controle dos trabalhadores, para que atuem de acordo com os interesses e necessidades da maioria da população.

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