As montadoras de automóveis, que tiveram altíssimos lucros nos últimos anos, ameaçam demitir trabalhadores no Brasil. A Volkswagen quer mandar embora 5.773 operários e a General Motors, 960, em São José dos Campos. O pretexto é um só: o câmbio valorizado teria causado queda nas exportações e prejuízo.

Trata-se de uma farsa, porque as empresas estão tendo lucros altos e ampliando suas vendas no país. Na verdade, as empresas querem fazer uma reestruturação para reduzir custos. Querem aumentar os lucros no Brasil para compensar prejuízos de suas matrizes nos EUA e na Alemanha.

As duas empresas querem demitir os atuais funcionários para contratar outros com salários inferiores. A Volks quer o “consórcio modular”, com firmas terceirizadas atuando nas linhas de produção, pagando salários miseráveis. A GM quer transferir parte da produção para a fábrica de Gravataí (PR), com salários muito menores.
As demissões são mais um capítulo da reorganização produtiva destas empresas, que se utilizam do avanço da tecnologia para atacar salários e empregos. De 1996 até agora, a Volks demitiu 14 mil trabalhadores (40% dos funcionários) e aumentou a produção em mais de 50%.

É muito importante que os trabalhadores de todo o país acompanhem esta luta, entre outras razões para ver a atuação do governo Lula. Para os que acham esse governo diferente das administrações da direita, será um choque ver como agem de maneira igual. Ambos atuam em defesa das empresas, não dos operários.

FHC emprestou R$ 1,3 bilhão à Volks, enquanto Lula repassou R$ 2,4 bilhões. Agora, em meio às ameaças de demissões, o governo do PT confirmou o empréstimo de mais R$ 497 milhões à montadora alemã. Ou seja, Lula financiará o plano de reestruturação das montadoras, que inclui as demissões de milhares. E sequer exige algo em troca, nem para evitar as demissões. Como afirma o boletim Ferramenta (da oposição sindical metalúrgica do ABC), o governo está emprestando as balas para a Volks atirar nos trabalhadores.

Mobilizações
A direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (de onde saíram Lula e Marinho, atual ministro do Trabalho) tem uma política dupla. Por um lado, está obrigada a fazer alguma mobilização, pela radicalização dos trabalhadores. Só por isso haverá paralisação de um dia nas fábricas de São Bernardo, São José dos Pinhais e Taubaté, como parte de uma mobilização internacional, que atingirá Espanha, México e Portugal.

Por outro lado, essa direção evita de todas as formas entrar em choque com o governo Lula, já que o apóia. Por isso não cobra nada do governo, nem mesmo diante do escandaloso empréstimo para a montadora. Até agora, essa direção se recusa a unificar a luta com os trabalhadores da GM.

A direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, ligada à Conlutas, está promovendo um plano de lutas na GM, buscando a unificação com a luta da Volks. A mobilização já realizou uma paralisação de duas horas e repetirá o feito quando a Volks parar. O sindicato também exige a nacionalização das empresas que demitirem operários.

Post author Emmanuel Oliveira, de São Bernardo do Campo (SP)
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