Nos últimos anos generalizou-se uma tendência na esquerda mundial de definir como “fascista” todo movimento, governo ou político reacionário de direita. Assim, chama-se de “fascista” desde um governo que joga a polícia para reprimir uma manifestação a numerosas organizações e movimentos.
Essa generalização abusiva, iniciada pelo stalinismo durante o período em que surgiu o fascismo europeu (anos 1920 e 1930), impede a compreensão das verdadeiras características do fascismo e, portanto, a proposição de políticas e métodos adequados para lutar contra ele.

O mais grave, porém, é que quem utiliza de modo generalizado a definição de “fascista” não aplica as lições históricas sobre como os trabalhadores e as massas deveriam combater o verdadeiro fascismo. Assim, suas propostas políticas confundem ainda mais o movimento de massas.

Atualmente, esse debate desenvolve-se sobre o crescimento de organizações da ultradireita europeia, em razão da crise econômica. O atentado terrorista promovido por um militante de extrema-direita em Oslo, na Noruega, esquentou ainda mais o debate.

Para melhor abordar esse tema específico é preciso resgatar algumas definições de Leon Trotsky, que estudou o fascismo e apontou propostas de como derrotá-lo.

Impulsionado pelo capital financeiro
Para Trotsky, o fascismo é como um movimento político impulsionado à serviço dos setores mais concentrados do capital financeiro e monopolista, que recruta a pequena-burguesia desesperada e empobrecida pela crise, os operários atingidos pelo desemprego e elementos do lúmpen-proletariado para atacar e derrotar o movimento operário e de massas com métodos de guerra civil.

As organizações fascistas são, inicialmente, marginais ou pequenas. Mas, rapidamente, podem adquirir um peso de massas devido ao aumento do desespero desses setores que os empurra até a direita. O fascismo também cresce, na medida em que a perspectiva da revolução socialista não se concretiza e, portanto, a classe operária se debilita enquanto alternativa de direção à crise. Assim, Trotsky assinalava, em 1930, que, “se o Partido Comunista é o partido da esperança revolucionária, o fascismo, enquanto movimento de massas, é o partido da desesperança contra-revolucionária”.

Como lutar contra o fascismo?
Trotsky propõe duas questões principais. A primeira é que essa batalha era, em grande parte, uma luta do movimento operário para ganhar a pequena-burguesia ou setores importantes dela para seu campo de luta. Em épocas de crises e de processos revolucionários, esse complexo setor social (incapaz de ser o sujeito social com uma saída própria) oscila entre a classe operária e a burguesia, entre a esquerda e a direita.

Se os trabalhadores surgem como um claro pólo independente e oferecem uma possibilidade verdadeira de revolução socialista, ganhará para essa perspectiva um importante setor pequeno-burguês. Mas, há um fator fundamental: a existência de uma direção revolucionária (ou uma alternativa de direção) que impulsione essa política.
Mas, se a classe operária não oferece uma clara alternativa e a perspectiva da revolução socialista se diluir, o fascismo ganha setores crescentes e se fortalece cada vez mais.

Trotsky criticou duramente a política de impulsionar os governos de “frente popular” (França e Espanha nos anos 30) que o stalinismo passou a adotar naquela época. Qualificou a Frente Popular como “a penúltima tentativa da burguesia para frear a revolução, antes do fascismo”.Alertava que, longe de ajudar a derrotar o fascismo (como diziam o stalinismo e a social-democracia), as frentes populares, por sua política de conciliação de classes e tentativas de esmagar as mobilizações de massa, só ajudariam a desmoralizar os trabalhadores.

Trotsky também propunha ações unitárias pontuais com setores burgueses para combater o fascismo, mas a única política revolucionária para os partidos e as organizações operárias era a de não depositar nenhuma confiança nem dar nenhum apoio a esses governos. Qualquer forma de apoio a esses governos levaria à derrota da classe operária e abririam o caminho do triunfo do fascismo.

Combater o fascismo nas ruas
Outra proposta central de Trotsky pode ser resumida em uma única frase: “Com o fascismo não se discute. Com o fascismo se combate”. Não se podia atuar com o fascismo da mesma forma como com outras correntes, disputando sua influência entre os trabalhadores e as massas, através da atividade política tradicional.
Trotsky propõe o enfrentamento físico e militar contra os bandos fascistas. Para isso, propunha a formação de grupos de autodefesa e milícias operárias, capazes de defender a classe operária dos ataques fascistas.

Muito importante é a proposta de formar uma frente única das organizações operárias (centralmente de comunistas e social-democratas, os dois grandes partidos operários da Europa nessa época). A frente tinha como objetivo dar uma resposta conjunta da classe aos ataques fascistas. Ao mesmo tempo, buscava impulsionar as lutas unificadas contra os ataques econômicos da burguesia.

Lições para a Europa atual
A tragédia na Noruega se inscreve numa conjuntura na qual os partidos e movimentos de inspiração fascista e xenófoba se utilizam da crise econômica para ganhar espaço. Os governos de plantão acalentam e estimulam a xenofobia, para melhor dividir os trabalhadores e enfraquecer sua luta. Assim, tentam colocar os trabalhadores imigrantes, negros e homossexuais na mira da opinião pública.

O terrorista norueguês militou por anos no ultranacionalista Partido Progressista, legenda que vem experimentando grande crescimento nos últimos anos, tornando-se a segunda maior força política do país nórdico. Nas últimas eleições, o partido teve 23% dos votos. Da mesma forma, Áustria, Finlândia, Itália, entre outros países europeus, testemunham o fortalecimento da ultradireita. Uma das principais líderes desse processo é a francesa Marine Le Pen, dirigente extremista apontada como favorita para as eleições presidenciais de 2012.

Hoje, porém, esses “destacamentos de choque” não têm peso de massas como tinham os fascistas na década de 20 e 30. Portanto, a rigor não há uma organização fascista que possa tomar o poder através desses métodos. Mas, a experiência histórica mostra que, se o oponente não os enfrenta com total decisão, crescem muito rapidamente.
A política de conciliação de classes e os ataques aos trabalhadores desferidos pelos “governos socialistas” apenas fortalecem essas organizações ultradireitista.
Com o fascismo não se discute. Se combate na luta. Essa é a única forma real para derrotá-los. Só uma ação e uma organização independente da classe operária podem enfrentá-los.

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