O rabo preso do governo com as empreiteiras está transformando a festa do futebol na farra da corrupção.No momento em que foi anunciada a vinda da Copa do Mundo ao Brasil, os governos e a grande mídia disseram que o evento seria uma oportunidade histórica para o país crescer. Haveria muitos investimentos, aumento na oferta de emprego, melhorias de infra-estrutura urbana e outros milagres a mais. Passados alguns anos da escolha, o que nós estamos vendo é outra realidade. O que cresce é a corrupção, a falta de transparência nos gastos, a doação de terrenos públicos às grandes empresas, a concentração de poder em “ilustres” personalidades, o aumento da entrega do gerenciamento de serviços básicos à iniciativa privada, o corte de gastos sociais para sustentar os empreendimentos e uma brutal criminalização da pobreza, por meio de desocupações, remoções, agressões e assassinatos.

Quando o Brasil foi escolhido para sediar os jogos do Pan Americano de 2007, no Rio de Janeiro, os governos profetizavam também grandes benefícios para o país. O que se viu foi o orçamento extrapolar em dez vezes mais o que era previsto. De R$ 390 milhões, descobriu-se um custo final de R$ 3,5 bilhões. Estamos falando de um verdadeiro escândalo de corrupção e desvios de verbas, nas três esferas governamentais, que nunca foi investigado.

Para a população mais pobre, o presente foi o terror. Em maio de 2007, a polícia começou uma verdadeira matança no Complexo do Alemão, culminando com uma chacina de 19 pessoas, no dia 27 de julho. Números não oficiais apontam para mais de 160 pessoas mortas em todo o período da ocupação militar no local.

O ‘rei’ da Copa
Com a Copa do Mundo tudo vai ser ainda pior. O corrupto presidente da CBF e do COL (Comitê Organizador Local da Copa), Ricardo Teixeira, investigado por desvios de recursos públicos, anunciava em 2007 gastos em torno de R$ 10 bilhões de reais com o custeio do mega evento. Hoje, alguns parlamentares já anunciam, por meio de estudos detalhados, projeções de custos que podem ultrapassar os R$ 100 bilhões. Esse mesmo Ricardo Teixeira, em 2007, prometia uma participação majoritária de recursos privados nos gastos com os projetos. Estudos do TCU (Tribunal de Contas da União) contrariam essas informações e apontam gastos públicos em 98,56% de tudo que vem sendo projetado até hoje. Só com estádios, novamente, o presidente da CBF falava, em 2009, sobre totais de R$ 2,5 bilhões. Agora, os gastos já estão em R$ 5,8 bilhões e a previsão do Ministério dos Esportes é que o total vai chegar a R$ 7 bilhões. Isso tudo, faltando ainda três anos para a abertura da Copa.

Agora, com a recente e absurda aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei de conversão da medida provisória 527/11 (que prevê nas obras e serviços da Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas, a flexibilização da Lei das Licitações), se abriu um enorme possibilidade para a legalização da corrupção. A Medida Provisória proíbe a divulgação dos orçamentos das obras, flexibiliza as licitações e extingui o limite de gastos nos orçamentos.

Destruição e aumento dos gastos
Um dos setores mais beneficiado por tudo isso foi, sem dúvida, o da construção civil. Construtoras e empreiteiras levam grandes vantagens dos governos, com isenções de impostos, financiamentos facilitados e concessões de terrenos públicos. Com as obras de estádios e arenas, ficou claro a facilitação e alcance de diversas empresas ao dinheiro público.

Quem conheceu o famoso estádio do Maracanã teve o prazer de ver grandes jogadores e sentir a emoção de milhares de torcedores cantando e vibrando pelos seus times. Infelizmente esse estádio não existe mais. Devido às exigências exageradas da FIFA, que também é alvo de denúncias de corrupção, o Maracanã está passando por uma reforma que destrói as arquibancadas e marquises históricas, diminui seus espaços e abre a possibilidade de se tornar uma arena completamente elitizada. Para realizarem essas obras inescrupulosas, o orçamento (que estava em R$ 705 milhões), saltou para R$ 956,8 milhões em função do superfaturamento. Por detrás desse empreendimento encontramos o Consórcio Rio 2014 formado pelas construtoras Delta, Andrade Gutierrez e Odebrecht, todas essas envolvidas politica e financeiramente com nossos governantes. O acidente com o helicóptero na Bahia expôs para toda imprensa a ligação do governador do Rio, Sérgio Cabral, com o presidente da Delta Construção.

Outro grande absurdo é a construção do Itaquerão. O novo estádio privado do Corinthians, que está lentamente sendo construído (também pela Odebrecht), para a abertura da Copa. O orçamento previsto (de R$ 350 milhões) já estourou. Só em incentivos fiscais da prefeitura de São Paulo serão de R$420 milhões. O resto será financiado com o dinheiro público, do BNDES. Especialistas estimam que o projeto passe para mais de R$ 800 milhões. E pode chegar a R$ 1,1 bilhão como forma de adaptar o estádio às famosas exigências da FIFA.

Em todo o país, nas cidades sedes e sub sedes dos mega eventos, os estádios e arenas estão sendo construídos, de um modo geral, pelas mesmas empreiteiras com os mesmos problemas de superfaturamento, de fraudes em licitações, de regras não cumpridas de Parcerias Público Privadas, de descaracterização de estádios tombados, de obras sem projetos definidos e outros crimes graves.

Resistência popular
No dia 30 de julho, os movimentos populares começaram a resistir aos ataques dos governos e empresários. O Comitê Popular da Copa e Olimpíada, da qual fazem parte o PSTU, a CSP-Conlutas e a ANEL, organizou uma grande atividade. No Rio, cerca de 600 pessoas fizeram uma caminhada no dia do sorteio das eliminatórias da Copa, para protestar contra toda a violência contra as camadas mais populares. Em função dos megaeventos, estão ocorrendo remoções de comunidades inteiras, em todo o país. Tudo isso para garantir os lucros dos mega empresários com a especulação urbana.

Diversas comunidades, como Arroio-Pavuna, Recreio 2, Comunidade do Metrô, Campinho, Vila Autódromo, Vicente de Carvalho, entre outras, se somaram à luta pelos seus direitos. Nesse dia, denunciamos também a violência dos governos e da polícia, por meio da militarização e ocupação das comunidades. No ato, diversas faixas e bandeiras exigiam a saída do corrupto Ricardo Teixeira e a moralização do futebol.
Vamos, agora, por meio de comitês populares em todo o país, organizar unitariamente a nossa ida à Brasília nas jornadas de luta de agosto, e culminar com um grande ato no Dia dos Excluídos.

Post author Rafael Nunes, do Rio de Janeiro (RJ)
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