Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

Os serviços de teleatendimento no Brasil são inúmeros. Serviços de cobranças, vendas, atendimento ao cliente se espalham pelo país com milhares de trabalhadores, especialmente jovens, muitos em seu primeiro emprego. A situação é difícil, pois é um trabalho com muita pressão, que leva a altos níveis de estresse por parte dos trabalhadores. Além disso, de maneira geral, o salário dos operadores de telemarketing é muito baixo, sendo difícil pagar as todas as contas e chegar até o fim do mês.

Com a pandemia, muitos serviços migraram para Home Office, mas muitos continuaram sendo presenciais, fazendo com que os trabalhadores ficassem num alto nível de vulnerabilidade e contaminação pela COVID-19. Nos serviços presenciais, trabalham cerca de 100 a 200 pessoas no mesmo ambiente fechado sem qualquer ventilação e com ar condicionado, ou seja, os locais de atendimento viram verdadeiros ambientes propagadores da doença. Isso é um absurdo, estamos num momento com média de mais de mil mortes por dia no país! Mesmo nessas condições, não houve sequer aumento de salário ou plano de periculosidade. Enquanto isso, os lucros das grandes empresas que prestamos serviços seguem na casa dos bilhões.

Alta exploração: salários baixos x lucros bilionários

A maioria dos serviços de telemarketing são prestados para grandes empresas: TIM, Vivo, Claro, Amazon, Decolar, bancos como Itaú, Bradesco ou Santander, entre outros. Como falamos no início, os salários são muito baixos. Trabalhamos, geralmente, de segunda até sábado para ganhar cerca de R$ 900 por mês. Enquanto passamos por tudo isso, enquanto estamos na linha de frente, tentando lidar com diversos problemas dos clientes, ouvindo xingamentos por problemas criados pela empresa e não por nós, ganhamos um salário miserável.

Agora, ao observarmos o lucro dessas grandes empresas que trabalhamos, vemos que o abismo é gigantesco. Aqui queremos dar alguns exemplos: em plena pandemia, o lucro da Amazon dobrou no quarto trimestre de 2020, passando de 3,2 bilhões de dólares para 7,2 bilhões. Lembrando que Jeff Bazos, dono da empresa, é o homem mais rico do mundo e tem uma fortuna de mais de 200 bilhões de dólares. O lucro do Bradesco cresceu 35% no último trimestre do ano passado, chegando a R$ 8,7 bilhões. No terceiro trimestre de 2020, a VIVO fechou com lucro de R$ 3,4 bilhões, um aumento de 25,5% em relação a 2019.

Esses números parecem irreais perto do que essas empresas pagam aos trabalhadores. Essas empresas inclusive se aproveitam que a maioria dos empregados são jovens ou estão em primeiro emprego para pagar salários baixos e explorar mais. Além disso, quando vemos esses lucros, é muito absurdo pensar que tem milhares de pessoas que passam fome no Brasil e no mundo, ou que estão desempregadas e não possuem renda.

Teleatendimento e saúde mental

Todos os dias estamos submetidos à frustração e pressão. No trabalho de telemarketing, todos os momentos estão sendo monitorados, nossas ligações, o tempo que elas duram, quantos momentos ficamos logados nos computadores, o tempo das nossas pausas. Em algumas empresas, especialmente quando relacionadas à cobrança ou vendas, existem metas que devem ser cumpridas semanalmente ou mensalmente, fazendo com que a pressão seja alta.

As ligações também tem uma nota e às vezes somos penalizados por tirar notas ruins. Outro aspecto negativo são as ligações difíceis. Às vezes temos um cliente muito difícil, que não aceita o que é passado, fazendo com que a gente ouça muitos xingamentos como “você é incompetente, burro e idiota”. Nós não podemos derrubar esse tipo de ligação, sendo uma penalidade grave.

Às vezes o cliente está com problema e nos solidarizamos com eles, mas não conseguimos resolver e ajudá-lo como gostaríamos O problema é que muitas vezes os clientes ligam porque foram lesados de alguma forma pela empresa e nós não conseguimos também resolver o problema, pois muitas vezes não temos como. A empresa, dessa forma, coloca os usuários contra os operadores de telemarketing, sendo que na verdade a culpa dos problemas é da empresa. Sem falar que existem relatos de assédio moral ou sexual dentro das empresas, fazendo com que esse quadro de ansiedade e angústia piore, especialmente para as mulheres. É por isso que constantemente muitos trabalhadores relatam problemas de ansiedade, depressão, síndrome do pânico ou precisam se afastar do trabalho por um tempo.

O que nós defendemos para melhorar um pouco as condições

Aumento do salário: Trabalhamos muito, numa situação de muita pressão e ganhamos muito pouco por isso. Nossa média salarial é de um salário mínimo, que com os descontos chega a ser cerca de R$ 890,00, num momento em que o preço das coisas estão em alta. Nosso salário dificilmente chega até o fim e trabalhamos geralmente de segunda a sábado, incluindo feriados.

Acompanhamento psicológico para todos: Todas as empresas devem pagar um acompanhamento psicológico semanal para os trabalhadores, mesmo para quem não estiver com problemas relacionados a isso.

Proteção à Covid: Durante a pandemia, todos serviços de telemarketing devem ser feitos em Home Office, com equipamentos necessários fornecidos pela empresa, bem como auxílio nas contas de energia e internet, pois utilizaremos da nossa casa. É um absurdo que num momento como esse, nossa vida seja tratada com tanto descaso.

Sem penalidade: Não podemos ser penalizados e ameaçados caso não consigamos bater as metas ou tenhamos um zero na monitoria!

Aumento das pausas: Nossas pausas são todas controladas e se a gente estoura, muitas vezes somos penalizados! Precisamos de mais tempo para conseguir almoçar ou jantar!

Adicional Insalubridade: Nosso trabalho é insalubre, pode causar danos psicológicos e auditivos. É por isso que exigimos adicional de insalubridade, especialmente nesse momento de pandemia que estamos arriscando nossas vidas!

O que deve ser feito para melhorar mais definitivamente

Nós achamos que essas medidas iriam ajudar a trabalharmos em condições mais dignas. Entretanto, no capitalismo, sempre seremos explorados, especialmente os trabalhadores mais jovens! Nós achamos que para melhorar nossa situação de verdade devemos lutar contra a exploração e opressão imposta pelo capitalismo, para construir uma revolução e uma sociedade diferente! É isso que o movimento Rebeldia defende. Quer conhecer mais sobre essa ideia? Entre em contato com a gente! Vamos trocar ideias!

Relatos dos operadores de telemarketing

“Trabalho em uma empresa que desde o inicio da pandemia resistiu ao máximo para liberar seus funcionarios, sobretudo os terceirizados, para o trabalho de homeoffice. Hoje, parte do quadro de funcionários exercem seu trabalho remotamente, mas com diversas problemáticas como o aumento da pressão psicológica e o prejuízo financeiro, considerando que a empresa disponibilizou um valor desprezível para custear os as despesas como consumo de energia e internet.

Para nós que mantivemos o trabalho presencial, lidamos com a exposição aos riscos desde as duas horas, em média, nos transportes públicos lotados enquanto atravessamos a cidade para ir à empresa até a escassez de computadores em determinados horários e essa questão recorrente prejudica muitos funcionários, já que o tempo de trabalho não é contabilizado pela nossa entrada na empresa, mas pelo tempo que estamos atendendo.

Logo, se não há computadores disponíveis, somos cobrados de cumprir esse tempo que aguardamos a liberação dos computadores depois ao final da nossa escala de trabalho. Em outras palavras, somos responsabilizados pela falta de infraestrutura da empresa.
Além desses fatores, não é incomum encontrar operadores nos corredores com crises de ansiedade, desesperados após passar por transtornos durante algum atendimento conturbado.

Muitos funcionários costumam fazer banco de horas trabalhando algumas horas a mais nos dias de trabalho ou até mesmo em suas folgas. O problema é que essas horas a mais só são contabilizadas em nossa folha de pagamento depois três meses se não são descontadas antes. É comum os funcionários serem pressionados a não entregarem atestado quando a ausência é justificada e usarem o banco de horas para isso.

No cotidiano passamos por tantas pressões que esquecemos da dimensão do faturamento que o nosso trabalho desgastante gera para a empresa. Nossos salários não chegam a um bilionésimo dos lucros dos nossos chefes e mesmo assim não medem esforços para tirarem de nós até a alma.

A empresa que trabalho não tem a política de Home Office para os trabalhadores e tem turnos no período da manhã e da tarde. Em cada turno, trabalham entre 100-150 pessoas no mesmo lugar, um ambiente fechado com ar condicionado. A empresa, para aumentar a produtividade, oferece horas extras para as pessoas e, como nosso salário é muito baixo, muitas pessoas fazem a hora extra para receber mais, fazendo com que o ambiente sempre esteja com muita gente e gente de outros períodos.

A empresa tem uma política de ronda para verificar se as pessoas estão usando máscara, mas os potes de álcool gel espalhados pelo local de atendimento estão sempre vazios. No refeitório, a situação se agrava pois é um ambiente ainda menor, com pessoas sem máscara para o horário da refeição, fazendo com que nosso local de trabalho seja uma bomba de transmissão da covid. Além disso, trabalhamos com todos esses riscos, para ganhar um salário e benefícios extremamente baixos e que não chegam ao fim do mês com essa carestia toda e com as contas para pagar. É muito revoltante que as pessoas, para conseguir um dinheiro extra, tenham que trabalhar 12 horas por dia durante vários dias seguidos para ganhar algo entre R$ 1.500 e R$ 1.800, tendo que se arriscar constantemente, sendo que seria possível primeiramente esse serviço ser realizado em casa, bem como os trabalhadores receberem um salário um pouco mais digno.

Para além disso, a questão do nível de estresse em que estamos submetidos faz com que estejamos sempre sofrendo com problemas de ansiedade, fazendo com que muitos jovens deixem o serviço, é por isso que o telemarketing é um trabalho sempre muito rotativo. As empresas não oferecem nenhum suporte a esse problema e na verdade sempre aumentam a pressão sobre os trabalhadores, com monitorias, notas e metas, fazendo com que esse ciclo da ansiedade se agrave.

Foi nesse contexto citado acima que recebemos a notícia que uma colega nossa morreu após complicações com a COVID-19. Uma mulher, negra, trabalhadora, jovem, mais uma vítima do descaso do governo e das empresas. Mais uma morte que poderia ter sido completamente evitada. É muito triste que isso tenha acontecido e só traz mais revolta para nós trabalhadores.

Na empresa onde eu trabalho, estamos trabalhando dentro de um ambiente onde se vive em aglomeração. Sofremos assédio moral e perseguição por parte da gestão. E os trabalhadores estão adoecendo dentro a empresa.”