Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ

A imprensa divulgou, em vários canais, o encontro realizado, na última quinta-feira, entre Marcelo Freixo (PSB) e Eduardo Paes (PSD) para discutirem as eleições do ano que vem. Defensor de primeira hora de uma frente amplíssima contra Bolsonaro, Freixo tem feito acenos a Paes desde o início do ano.

Freixo parte de uma necessidade com a qual concordamos – a necessidade de derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo, o que inclui derrotar a máfia miliciana que domina nosso Estado. Porém divergimos totalmente dos caminhos propostos por Freixo, que é também a proposta de Lula – de que a derrota de Bolsonaro passa pelas eleições e de que é necessário juntar “todos” que se opõem a ele, independente do programa e dos interesses que representam.

Nessa busca de aliados, se esqueceu, aparentemente, dos muitos ataques que Paes fez e continua aplicando contra os trabalhadores e a população mais pobre da cidade e do Estado do Rio de Janeiro. Basta lembrar da política de Paes de sucateamento e privatização da saúde via Organizações Sociais. Ou ainda de seu trato atual da pandemia, sem quarentena, mantendo tudo liberado e forçando as aulas presenciais, mesmo sendo o Rio o “epicentro” da Delta. Mantendo também a redução da quantidade de linhas de ônibus.

Basta lembrar também dos ataques sucessivos aos funcionários públicos, como a recente reforma da Previdência do município. E, em especial, dos ataques aos trabalhadores da educação, que estão lutando contra a política de perseguição de Paes contra a greve pela vida. Paes e seu secretário Ferreirinha implementou inquéritos, descontos e, agora, o não pagamento do 13º salário 2020 e a primeira parcela do 13º salário 2021 para alguns grevistas.

Perguntamos, ainda: desde quando Paes é um inimigo da milícia? Parte da sua base eleitoral na Zona Oeste também é construída em acordos com a milícia. Não é à toa a fala de Paes de “que a milícia é melhor que o tráfico” (!).

Mesmo assim, Freixo declarou: “Eu e Eduardo Paes temos nossas diferenças. Mas o Rio de Janeiro passa por um momento trágico e nós temos que deixar essas diferenças de lado, termos responsabilidade e dialogarmos para que a gente possa agir junto e tirar nosso estado do buraco.” “Nós temos nos encontrado para falar desses desafios” — diz Freixo sobre o encontro.

A encruzilhada da militância do PSOL

Freixo faz uma movimentação desse tipo há muito mais tempo, desde quando era a principal figura pública do PSOL Rio. Apesar de declarar-se publicamente contra aspectos do programa daquele partido, nunca houve qualquer reação por parte da direção do PSOL. Desde dentro do PSOL, tinha total liberdade de declarar-se em apoio às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) durante o governo de Sérgio Cabral, exigindo que elas fossem sociais e não somente policiais.

Há também sua defesa das PPP’s (Parcerias Público-Privadas). Igualmente, defendeu o financiamento privado de campanha por empresas e grandes burgueses, tanto em causa própria como de outras candidaturas (como a de Wesley na Baixada Fluminense). E isso ocorria não só por uma lógica eleitoral, mas também por uma questão de modelo de partido, em que as figuras públicas podem tudo e não se submetem à opinião da base.

E, depois de tantos anos construindo a figura de Freixo, ele abandona a sigla do PSOL, com a maior naturalidade, o que trará sérias consequências, inclusive eleitorais, à sigla no Rio de Janeiro.

Neste momento, a militância do PSOL tem um grande desafio: seguir a política da direção do PSOL, que é essencialmente igual à de Freixo – a de construir no Rio uma frente amplíssima e apoiar Lula no primeiro turno. Isso vai significar a descaracterização do projeto, já limitado, de origem do próprio PSOL. Nesse sentido, o PSTU faz um chamado para um outro projeto.

É preciso construir um Polo Socialista e Revolucionário, nas lutas e nas eleições

Nós defendemos a mais ampla unidade pra lutar contra Bolsonaro. Inclusive achamos que é necessário mais empenho na construção das lutas. O dia 18 de agosto, por exemplo, poderia ter sido muito superior caso as direções das grandes centrais sindicais e dos maiores partidos tivessem se colocado a construí-lo. Temos, neste momento, um grande desafio, que é colocar milhares nas ruas no dia 7 de setembro, contra as ameaças golpistas de Bolsonaro.

No entanto, não achamos que formar blocos políticos com a burguesia, como propõe Freixo no Rio e Lula no Brasil, política na qual a direção do PSOL tem dado demonstrações de que vai embarcar, tenha qualquer possibilidade de ter outro resultado que não seja mais ataques aos trabalhadores, fortalecimento da burguesia e, no final, a gestação de governos como o de Bolsonaro.

Os aliados propostos – que vão de Paes a Rodrigo Maia, passando pela bancada do Centrão – estão à frente dos maiores ataques que são aprovados hoje – da minirreforma trabalhista às privatizações da Cedae, dos Correios, da Eletrobrás.

Não basta apresentar um projeto ” anticapitalista”, que se limite a ser contra Bolsonaro e tente remediar algumas medidas neoliberais que foram tomadas pelos diversos governos anteriores. Não é possível, nem suficiente, ser anticapitalista sem defender um programa socialista, que parta das necessidades mais básicas da população, como salário, renda, emprego, moradia e lockdown, ao mesmo tempo que indique que, para alcançar esses objetivos é necessário parar de pagar a dívida pública, proibir o envio de lucros para o exterior, reestatizar as empresas privatizadas. Um programa que enfrente o grande capital e defenda de fato os interesses da classe trabalhadora e dos setores oprimidos.

Portanto, ser responsável é partir da experiência recente das políticas de frente ampla e não repetir os erros do passado. Alimentar ilusões de que uma aliança com Paes, Rodrigo Maia e companhia possa resolver os problemas mais básicos da nossa classe é uma irresponsabilidade completa. Chamamos o conjunto dos lutadores a se somarem na construção de um polo socialista e revolucionário. Venha debater com a gente!