A última reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizada no dia 9 de fevereiro, foi marcada pela recomposição do chamado “Campo Majoritário” da sigla, grupo que dirigia o partido até 2005, mas foi esfacelado pela crise do “mensalão”.

O marco da recomposição foi a eleição do deputado José Eduardo Cardozo para secretário-geral do partido. Cardozo é do Campo Majoritário e foi alçado ao cargo devido a uma aliança entre os grupos de José Dirceu com o grupo ligado ao ministro da Justiça, Tarso Genro. Os acordos isolaram o grupo ligado à ministra do Turismo, Marta Suplicy, que amargou a derrota de seu pupilo, Jilmar Tatto, para a Secretaria Geral.

Mesmo que seja apontado como circunstancial, devido à proximidade das eleições municipais, algumas especulações apontam para horizontes mais amplos: a sucessão de Lula 2010.

Muitas discussões que marcaram a reunião assumiram contornos surreais. Em resolução política aprovada, o diretório do PT classificou as recentes derrotas do governo de “nova ofensiva da oposição e de seus aliados na mídia”. Entre as derrotas, está a votação do fim da CPMF. Segundo o PT, tratou-se de “uma tentativa de retomada da agenda neoliberal derrotada nas eleições de 2006”.

Estranhamente a CPMF – que sempre foi taxada de neoliberal pelo partido nos tempos de FHC – agora significa a maior presença do Estado “em políticas sociais”. Puro delírio. A afirmação ainda diz que PT não pode permitir que “a ofensiva da direita venha a restringir os direitos sociais e a evolução econômica do país”. Outro delírio, considerando que é o governo do partido que retira bilhões do orçamento para pagar a dívida pública.

Sobre os recentes escândalos dos cartões corporativos, o partido não se pronunciou formalmente. Como no caso do “mensalão” prometeu genericamente que faria “um Código de Ética que discipline a conduta de todos os petistas”.

Sobre as eleições, a reunião apontou para alianças preferenciais com PSB, PCdoB e PDT. Contudo, a mesma resolução informa que a próxima reunião do diretório deverá discutir a política de alianças.

Mais uma vez, o que se vê no PT é um jogo: falam em “contra-ofensiva da direita neoliberal” enquanto protagonizam um dos governos mais neoliberais da história do país. Quebrando recorde após recorde todo o entreguismo de FHC. Imagens que só podem ser comparadas ao filme Blow-Up (Depois daquele beijo) do italiano Michelangelo Antonioni, onde, na cena final, mímicos fingem jogar uma partida de tênis (sem bolas ou raquetes), enquanto os espectadores fingem que de fato estão diante de uma partida real.