Montadoras exigem aumento do ritmo de trabalho para acompanhar o aquecimento do mercadoA crise econômica e financeira que desponta nos EUA ainda não chegou ao Brasil. Apesar de seus reflexos já serem sentidos por aqui, como na inflação dos alimentos, o conjunto da economia ainda apresenta crescimento. Bancos, indústria, comércio, serviços, agro-negócios, nunca banqueiros e empresários lucraram tanto.

Na outra ponta, porém, no lado dos trabalhadores, está o salário que não acompanha esse crescimento e, mais que isso, o aumento da exploração. O crescimento da economia, da produção e vendas, vem acompanhado pela retirada de direitos e, mais do que isso, pelo aumento da carga de trabalho que se expressa tanto no alargamento da jornada, e adoção de banco de horas por exemplo, como pelo aumento do próprio ritmo exigido aos trabalhadores.

Recorde de venda e produção
A indústria é um dos setores que mais se expande nos últimos anos. Dentro dela, o setor automotivo é um dos mais dinâmicos. Em 2007, foram vendidos 2,4 milhões de veículos. O resultado supera o recorde anterior, em 1997, quando 1,9 milhões de veículos foram vendidos.

A produção e venda diminuíram de 1997 até 2003. O setor, porém, se recuperou até atingir o recorde em 2007. Os empregos, no entanto, não acompanharam tal crescimento. O número de empregados nas montadoras se mantém no nível de 1997, ou seja, de 104 mil operários.

Em 2008, a tendência de aumento se mantém. A produção de veículos bateu novo recorde em abril, com a produção de mais de 300 mil unidades, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Já as vendas tiveram crescimento de 29,9% nos quatro últimos meses, segundo dados da Federação Nacional dos Revendedores.

Como se vê, a produção e a venda aumentam em uma proporção bem maior que o número de empregos no setor. Isso significa mais lucros para os empresários e uma exploração ainda maior em cima dos trabalhadores. Para acompanhar o grande aumento da produção, ao invés de realizar novas contratações, as empresas exigem um ritmo ainda maior de trabalho. Além disso, retiram direitos para poderem lucrar ainda mais.

Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) resistem
O caso da General Motors, uma das maiores montadoras do mundo, é exemplar. Sozinha, ela vendeu em 2007 mais de 500 mil carros no país. Em São José dos Campos a empresa, para atender a necessidade do aumento da produção, anunciou a abertura de 600 novas vagas para a planta instalada na cidade. No entanto, exigiu para tanto a redução do piso salarial e adoção do banco de horas. Como os metalúrgicos e os operários da empresa não aceitaram tal ataque, a montadora transferiu os empregos para outra cidade e agora ameaça fechar a fábrica.

Os operários de São José dos Campos resistiram a esse ataque e enfrentam uma dura campanha pela retirada de direitos, coordenada entre a empresa aliada com o governo. Se por um lado a luta dos metalúrgicos da GM demonstra que crescimento econômico significa na prática maior exploração aos trabalhadores, por outro a mobilização dos operários indicam o caminho e mostram que, pela luta, é possível derrotar os ataques.