"Kit Covid" distribuído pela Prevent Senior
Redação

Desde o ano passado, já se sabia do conluio negacionista entre o governo Bolsonaro, hospitais e planos de saúde privada na promoção e distribuição generalizada de medicamentos comprovadamente ineficazes no combate à Covid-19. A Prevent Senior, plano originalmente voltado ao público idoso e tratado até então como um caso de sucesso no setor da saúde privada, já enfrentava denúncias de pressão ilegal para a indicação de cloroquina a casos suspeitos, inclusive demitindo médicos que se recusassem a fazê-lo.

Nas últimas semanas, porém, o caso que estourou na CPI do Senado chocou pela sua monstruosidade. Segundo um dossiê preparado por médicos e ex-médicos da rede, a empresa teria levado a cabo experimentos clandestinos, fraudando dados e escondendo as vítimas fatais dessa experiência macabra. Os pacientes e familiares desses experimentos, inclusive, sequer eram informados da prescrição do medicamento do “kit Covid”.

Segundo o dossiê, pelo menos sete pacientes morreram durante uma pesquisa ligada à hidroxicloroquina e à azitromicina, outro medicamento defendido por Bolsonaro como solução mágica à Covid-19. O estudo teve de ser cancelado por ordem da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, mas isso não impediu que a Prevent Senior fosse destacada pelo governo como um suposto exemplo da eficácia da cloroquina. “O SUS nunca procurou saber qual foi o protocolo usado”, chegou a twittar o senador Flávio Bolsonaro, o “01”, ao elogiar os “bons números” da rede.

O dossiê e o depoimento à CPI do Senado de um dos executivos da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior, revelaram outro modus operandi do plano de saúde: após um período de internação, o paciente de Covid-19 simplesmente tinha a doença apagada do prontuário. No caso de morte, assim, não aparecia como razão do óbito o coronavírus, mas qualquer outra complicação secundária. Foi o que aconteceu com o conhecido médico pediatra e entusiasta do “tratamento precoce”, Anthony Wong, e a própria mãe de Luciano Hang, dono da Havan.

Parte de um plano genocida

O escândalo rememorou as experiências conduzidas pelo médico Josef Mengele nos campos de concentração da Alemanha nazista. Ainda mais com as denúncias adicionais de que a Prevent Senior desocupava indevidamente leitos de UTI para abrir novas vagas, deixando que pacientes morressem numa espécie de homicídio que nada tem a ver com sérios cuidados paliativos.

No caso da Prevent Senior, os sinistros experimentos nada têm a ver com uma tentativa de se descobrir a cura para a pandemia utilizando métodos obscuros. Na verdade, o que existia, com a participação do governo, era um esquema bárbaro para promover o famigerado “tratamento precoce” e, com isso, garantir uma falsa sensação de segurança à população. Outros planos de saúde também impuseram o “kit Covid” a seus pacientes, como a Hapvida e a Unimed Rio, além de inúmeras prefeituras bolsonaristas.

Isso tudo dentro do plano de combate a qualquer medida de distanciamento social e às vacinas, em prol da concretização da chamada “imunidade de rebanho”. Um genocídio que já chega a centenas de milhares de mortos.

Diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior Foto Edilson RodriguesAgência Senado
PRISÃO AOS CRIMINOSOS

Estatização da Prevent Senior e da rede privada de saúde, sob controle do SUS

A Prevent Senior cresceu numa faixa etária em que a insuficiência do SUS aparece de forma mais dramática: entre os idosos. É um exemplo de como uma saúde pública precária e subfinanciada ajuda a encher o bolso dos bilionários que exploram o setor. E de como, ainda, a saúde privada vem faturando alto com a pandemia.

Em 2020, a empresa que frauda mortes e realiza experimentos secretos teve lucro líquido de R$ 4,3 bilhões, um crescimento de quase 20% em relação ao ano anterior. Não é um fato isolado. A Rede D’Or, maior rede integrada de saúde do país, quase dobrou sua receita no primeiro trimestre deste ano em relação ao ano passado, chegando a R$ 5,2 bilhões. Os planos de saúde de forma geral tiveram elevação de 22% no lucro no mesmo período. Resultado do aumento de mais de 1 milhão de pessoas no sistema e, principalmente, de 8,7%, em média, das mensalidades.

O caso da Prevent Senior é o exemplo mais macabro de um setor que enriquece às custas da saúde e da vida de milhões de brasileiros. E a razão pela qual os governos têm interesse na precarização cada vez maior do sistema público de saúde, empurrando cada vez mais gente para os planos privados e deixando quem não pode pagar à própria sorte.

É preciso botar na cadeia os assassinos da Prevent Senior, estatizar a empresa, assim como toda a rede privada, e colocá-la sob controle do SUS.