Gustavo Machado do canal Orientação Marxista

É comum escutarmos que o socialismo não deu certo, é bonito na teoria, mas inviável na prática. Ou ainda, o capitalismo não é perfeito, tem muitos problemas, mas é o melhor “modelo” possível. É normal que muitos pensem assim.

É difícil imaginar uma sociedade diferente da capitalista. Nós nascemos dentro dela. Tudo o que fazemos nessa sociedade, ou não, depende do capital. À primeira vista, dependemos das empresas capitalistas para conseguir um emprego ou para comprar uma mercadoria qualquer. Parece ser impossível organizar a sociedade de outra forma que não seja comparando tudo e todos por meio do dinheiro. E o movimento do dinheiro depende de sua acumulação como capital pelas empresas capitalistas.

Única sociedade possível?

As empresas apenas vão empregar trabalhadores se for possível acumular um excedente em dinheiro: o lucro. Ao mesmo tempo, os trabalhadores dependem do capital em posse do capitalista para ter contato com os meios para produzir e, assim, trabalhar. Somente assim têm acesso a uma fatia da riqueza produzida por meio do salário. É um círculo vicioso sem fim, que parece impossível de se escapar. Sem o capital, toda a sociedade paralisaria. De fato, na sociedade capitalista, todos dependem do capital para sobreviver. A questão é: o capitalismo é a única forma de sociedade possível?

Visto de outro ângulo, tudo aparece de modo bem distinto. Se pensarmos bem, veremos que o capital não passa de uma forma como os homens se relacionam para produzir e distribuir a riqueza produzida. Podemos olhar por um microscópio ou até embaixo do colchão, e não encontraremos capital algum. Nenhum indivíduo se alimenta de capital, mas de alimentos. Nada é transportado por capital, mas por carros, caminhões, aviões, trens etc.. Não é necessário capital para produzir riquezas, mas máquinas, equipamentos, matérias-primas e, sobretudo, trabalho. O capital é apenas uma forma social em que a distribuição de toda a riqueza é realizada por um mecanismo que ninguém controla e extremamente confuso: o mercado.

Nova sociedade

Você não precisa do capitalismo para viver

Pois bem, o socialismo é uma forma de sociedade infinitamente mais simples e transparente. Enquanto o mercado é um jogo do bicho, um método tosco e ineficiente de tentativa e erro: joguem nele as mercadorias – sejam coisas ou pessoas – e vejamos no que dá; no socialismo são os próprios produtores que definem, por meio de seus organismos, o que e quanto produzir. O objetivo não é o crescimento do capital de uns poucos, mas o atendimento das necessidades de todos. As necessidades de alimentação, moradia, transporte, lazer, ciência etc..

Tomemos o exemplo do Brasil nos dias de hoje. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/IBGE) e cálculos do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), o país possui 44,2 milhões de trabalhadores formais e 92,1 milhões de pessoas sem emprego ou na informalidade. Essa é a eficiência do mercado: para cada pessoa trabalhando, temos dois ou mais fora do mercado formal de trabalho. Some-se a isso que dos 44 milhões de trabalhadores formais, uma boa parte não realiza funções produtivas, mas procura salvar o capitalismo das mazelas que ele produz. Milhões devem trabalhar como seguranças, policiais e assim por diante. Outros tantos, produzir armas, equipamentos de segurança ou atuar em instituições gigantescas feitas para salvaguardar os proprietários do capital e as principais potências capitalistas.

Em uma sociedade socialista, organizada em função das necessidades dos próprios produtores, não há obstáculo algum para que todos trabalhem. Nesse quadro, com mais de 130 milhões de brasileiros em idade para trabalhar, de fato trabalhando, poderíamos ter uma jornada de trabalho de 20 horas ou menos e, ainda assim, produzir muito mais. Podemos definir o que produzir, quais as prioridades tendo em vista as necessidades individuais e coletivas, como por exemplo as ambientais.

Seria possível organizar toda essa massa de pessoas, de modo a produzir de modo eficiente, alocando os recursos de forma otimizada? Uma sociedade assim organizada, sem ser movida pelo capital, mas pelas decisões dos próprios produtores, não entraria em colapso por falta de estímulo à livre-iniciativa? Trataremos desses dois aspectos no próximo texto da série de três artigos que agora iniciamos.

Por ora, deixaremos o leitor refletir se ele realmente precisa do capital para sobreviver, ou se o que realmente necessita é das coisas e indivíduos que, no capitalismo, se movimentam como escravos da relação social capital e de seus portadores. Aceitaremos ser eternamente apenas uma peça inconsciente de uma relação social de exploração em que somos subjugados pelos produtos de nossas próprias mãos?