Cesar Neto

A Nigéria é um dos países mais populosos do planeta. São 200 milhões de habitantes espremidos em um pequeno território. É a maior economia da África subsaariana em função da produção petroleira.

O país é governado por Muhammadu Buhari que foi eleito presidente em 2015. Ele é um militar da reserva do Exército que havia dado um golpe de Estado contra Shehu Shagari e instalado um ditadura que governou o país anteriormente, de dezembro de 1983 à agosto de 1985. Buhari, que se diz renovado, agora conquistou o poder pelo voto direto. Renovado em termos, pois nunca abdicou de suas posições pró imperialistas e da repressão aos trabalhadores.

Quando foi eleito, em 2015, havia muita expectativa de mudanças, mas rapidamente a expectativa foi sendo substituída pela desilusão. O ano de 2019 e o de 2020 foram marcados por grandes mobilizações.

Foram diversas mobilizações como a das mulheres que saíram as ruas denunciando a opressão que vinha se agravando pelos discursos de Buhari. Os petroleiros pararam pelo atraso no pagamento, por violação de direitos, por acidentes de trabalho, etc. Além disso, com a pandemia surgiram dois novos tipos de mobilização: dos profissionais de saúde e da população pobre contra as péssimas condições de vida no confinamento imposto pela pandemia.

Buhari mostrou o seu lado ditador e ordenou a repressão. Assim foi acionado o Esquadrão Especial Anti-Roubo (Special Anti-Robbery Squad-SARS nome em inglês), conhecido por SARS para reprimir as mobilizações.

O Esquadrão Especial Anti-Roubo (SARS) foi criado em 1992 e em muitas manifestações, passeatas e greves, eles não utilizavam uniformes, se infiltravam no meio das manifestações e começavam a violência física, com cassetetes camuflados e uso de armas de fogo.

Nos últimos meses as passeatas e marchas foram reprimidas violentamente com gás lacrimogêneo , balas de borracha e armas de fogo. Muitas pessoas foram feridas e até mesmo casos de mortes. Além disso, há inúmeras denúncias de sequestro, assédio e extorsão por parte de policiais do SARS.

As passeatas e marchas se radicalizaram e se estenderam pelo país e até mesmo fora do pais. O hashtag #EndSars ganhou notoriedade mundial e ajudou as mobilizações no incremento do ódio contra a SARS.

A semana que terminou no dia 10 de outubro foi marcada por violentos enfrentamentos nas principais cidades da Nigéria e também no EUA, Inglaterra e Canadá que são países com grandes concentrações de nigerianos. Em Londres a manifestação contou com o ator John Boyega, o Finn de Star Wars.

O ator John Boyega, o Finn de Star Wars, fala na manifestação em Londres.

No domingo 11, o governo entendeu que as manifestações estavam crescendo e se radicalizando. O governo Buhari agiu rápido e dissolveu a SARS.

Um vitória do movimento de luta contra a violência policial praticado pelo SARS. Uma importante vitória que deve servir de ânimo para que as massas se sintam fortalecidas no sentido de derrubar Buhari, por abaixo seu governo repressivo e sua política econômica de subserviência ao imperialismo.