Milhares de pessoas realizaram uma passeata pela capital do México, no dia 31 de janeiro, para protestar contra o aumento do preço das tortillas, o “pão” dos mexicanos. O crescimento da demanda por etanol nos EUA fez com que o preço do milho atingisse os patamares mais altos da última década, puxando para cima o preço das tortillas. Antes da crise, o quilo do produto custava 5 pesos. Nas últimas semanas, porém, enquanto o mercado do milho registrava um crescimento da demanda, o preço das tortillas de milho subia para até 15 pesos (US$ 1,36 dólar) o quilo (o equivalente a cerca de 35 unidades).

O México já foi um dos maiores produtores de milho do continente. Mas hoje, devido a tratados de livre comercio, como o Nafta, a agricultura do país enfrentou uma enorme crise. De produtor, o México passou a importador de milho dos EUA a fim de complementar sua produção nacional.

Durante a manifestação, as pessoas exibiram espigas de milho e criticaram Felipe Calderón, presidente mexicano que chegou ao poder por meio de fraudes eleitorais. López Obrador, “derrotado” por Calderón nas eleições, participou do protesto e atacou duramente governo.

A “rebelião das tortillas“, como já estão sendo chamadas as manifestações, apimentam ainda mais o caldeirão político e social do país. Em 2006, protestos varreram o México contra as fraudes que deram a vitória a Calderón, provocando uma tremenda crise institucional. Foi no ano passado, também, que se deu o processo de luta mais avançado, em Oaxaca, onde uma greve dos professores transformou-se numa insurreição popular, com a população organizando a APPO (Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca), que se tornou, de fato, num organismo de poder popular, ocupando prédios públicos e rádios, sob a bandeira do “fora Ulises”. Os novos protestos estão desgastando ainda mais a imagem de Calderón que, pelo que tudo indica, já está sofrendo uma indigestão de tortillas.