Mais uma vez, o governo Lula vem atuando como falso bombeiro da crise política boliviana. No início, o Itamaraty divulgou nota em que dizia acompanhar “com grande preocupação a evolução dos acontecimentos na Bolívia” e lamentar “o recrudescimento da violência e dos atos de desacato às instituições e à ordem legal”.

Na nota, embora condene a possibilidade de um golpe na América Latina, o governo brasileiro pede a “todos os atores políticos” no país “que exerçam comedimento, respeitem a institucionalidade democrática e retomem os canais do diálogo e da concertação, na busca de uma solução negociada e sustentável”. Traduzindo a linguagem diplomática, o governo brasileiro defende que Evo Morales faça concessões à burguesia da Meia Lua.

Não há, porém, uma só condenação explícita aos protestos da oligarquia boliviana, sequer uma condenação às ocupações, à destruição dos prédios públicos ou ao assassinato de camponeses pelos bandos fascistas. A razão dessa omissão é justificada pela política de “não ingerência” do governo brasileiro nos assuntos internos da Bolívia.

Mas a verdadeira posição do governo brasileiro sobre a crise apareceu na declaração de Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Relações Exteriores do Palácio do Planalto, ao jornal O Estado de S. Paulo de 17 de setembro. “Marco Aurélio disse que, na avaliação do Planalto, um aspecto negativo e outro positivo foram constatados na crise boliviana nas últimas horas. O negativo foi a ordem de prisão para o governador de Pando, Leopoldo González. O positivo, disse ele, foi o estabelecimento de uma agenda de negociação entre governo e oposição em torno de três pontos: mudanças no projeto constitucional, autonomia de Estados e impostos. ‘Isso significa que hoje existe uma negociação em andamento’, afirmou Garcia”.

É muito grave a posição do governo Lula. Qualquer concessão à sabotagem da oligarquia da Meia Lua significaria, na prática, uma vitória política da direita boliviana que sairia fortalecida da crise atual e poderia no futuro preparar novos enfrentamentos contra La Paz.

Mas, ansioso pela negociação, Marco Aurélio chega a defender as principais reivindicações da direita boliviana, considerando positivo que o governo Evo realize “mudanças no projeto constitucional, autonomia de Estados e impostos”. Quanto a prender e punir os assassinos e seus mandantes, Marco Aurélio afirma que é algo “negativo”. Ou seja, o assessor de Lula exige que Evo capitule completamente à direita.

Depois o governo confirmou sua presença na Unasul (conferência dos países sul-americanos para discutir a crise), mas só após obter a garantia de que a conferência ocorreria com a concordância do governo e da oposição de direita boliviana. “Não temos o direito de tomar nenhuma decisão sem que haja uma concordância do governo boliviano e da oposição”, declarou Lula. O que significa tal declaração? Lula está apoiando as ações criminosas da oligarquia da Meia Lua contra os trabalhadores e o governo boliviano?

A resposta do governo Lula para a crise mostra a política da burguesia brasileira, que apóia os autonomistas da Meia Lua. Ocorre que o Brasil atua como um país que oprime a Bolívia e se aproveita de suas riquezas em parceria com o imperialismo norte-americano. Na área do gás, a maior multinacional que atua na Bolívia é a Petrobras, que controla 20% do PIB do país.

Mais de 35% da soja boliviana, produzida justamente em Santa Cruz, está nas mãos de fazendeiros brasileiros, que cultivam 350 mil hectares de soja por ano, atraídos pelo baixo preço da terra (em média seis vezes menos que no Brasil). Há relatos da participação de jagunços brasileiros nos massacres dos camponeses bolivianos. Algo que foi denunciado até pelo governo boliviano.

Os trabalhadores brasileiros e os movimentos popular, sindical e estudantil não podem aceitar a política de Lula de apoio à direita boliviana. É preciso mostrar solidariedade aos trabalhadores e camponeses da Bolívia.

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