PSTU na 17ª Parada LGBT em SP

Pedro Henrique Ferreira da secretaria LGBT do PSTU (RJ) e Alessandro Furtado do setorial LGBT da CSP-Conlutas

Mais de 100 entidades de todo o Brasil estão chamando o dia 10 como dia nacional de lutas pelo Fora Bolsonaro! Nós LGBTs trabalhadoras temos um papel especial nessa jornada pra colocar pra fora não só Bolsonaro, mas também Mourão e todo o seu governo que hoje é o principal inimigo das LGBTs trabalhadoras! O PSTU e a CSP-Conlutas estão construindo essa jornada de luta e fazem um chamado a todas LGBTs trabalhadoras a se somarem a ela.

Auto-organização para seguir nas lutas

O mês de junho acabou, mas as lutas seguem! Tivemos um mês do Orgulho LGBT no meio de uma pandemia e profunda crise social que atingem em maior peso as LGBTs trabalhadoras. No entanto, isso não significou que as LGBTs voltaram para os armários, pelo contrário: mesmo com a quarentena e com toda a opressão cotidiana, seguimos na luta. Em Londres, uma grande marcha no dia 27 “Vidas Trans-Negras Importam” lotou as ruas mesmo em meio à pandemia e se somou às lutas antirracistas que estão tomando os Estados Unidos e o mundo.

Nos Estados Unidos a greve dos portuários em Oakland é ainda outro grande exemplo de luta contra a exploração capitalista e contra as opressões que este sistema podre se utiliza para dividir nossa classe e lucrar ainda mais. Foi uma greve construída em grande parte por trabalhadoras e trabalhadores negros e negras contra a violência policial racista que explodiu neste país.

Essas lutas recentes mostram o caminho para o Brasil. Por aqui o governo Bolsonaro segue com sua política de genocídio. O Brasil caminha para 70 mil mortos pela Covid-19, sendo o segundo país no mundo com o maior número de doentes e de mortos. Bolsonaro por um lado aproveita a pandemia para jogar as trabalhadoras para a morte estimulando a volta do comércio e nenhum dos governos estaduais garantiram quarentena real. As LGBTs trabalhadoras neste mesmo contexto são particularmente atingidas por estas medidas genocidas, uma vez que estamos na informalidade e nos trabalhos mais insalubres e expostos ao vírus.

O governo nesse momento já fala na redução e na suspensão do auxílio emergencial! Os R$ 600 já eram insuficientes para a nossa sobrevivência e agora Bolsonaro e Guedes querem que este valor seja reduzido pela metade. Isso sem contar em milhares de pessoas que não receberam mesmo tendo o direito. Diversas pessoas transgênero relataram que não estão conseguindo solicitar o auxílio justamente pela recusa de seus nomes na burocracia da receita federal e do Dataprev.

A conta da pandemia cai nas costas das LGBT’s trabalhadoras

A divulgação da reunião ministerial de 22 de abril revelou o show de horrores e a crueldade engendrada pela corja que compõe o governo Bolsonaro, como o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, quando afirma que se deveria aproveitar do momento de pandemia e “passar a boiada”, para simplificar normas que se estendem a todos os ministérios. Com esse requinte de maldade, a verdadeira intenção revela o ataque às liberdades democráticas e aos poucos direitos que a classe trabalhadora até o presente momento conseguiu manter.

A pandemia acelera o processo de recessão e os trabalhadores mais prejudicados serão aqueles que encontram maiores dificuldades para conseguir um lugar no mercado de trabalho.

O número de desempregados cresce durante a pandemia. A população LGBT é uma das que mais sofre com o isolamento imposto pela pandemia de Covid 19: de acordo com pesquisa feita pelo coletivo Vote LGBT, 21,6% do grupo de entrevistados formado por LGBTs está desempregado. No montante, 12,2% dos brasileiros estão fora do mercado de trabalho, o que significa que, dentro deste total, o índice de desempregados entre pessoas LGBTs é bem maior que o da população em geral. Mas além de toda a crise suscitada pela pandemia, outros ataques chegam em momento crítico exatamente para detonar ainda mais com as LGBTs que ainda conseguem se manter empregadas, mesmo que em situação de precarização.

Dentre as Medidas Provisórias de Bolsonaro, Guedes e Mourão que avançam para destruir os diretos trabalhistas, temos a MP 927, aprovada na Câmara em 17 de junho. Esta chega ao Senado como PLV 18 com intenção exclusiva de salvar a vida dos empresários, pois deixa o empregado na mão em momento de crise social e de saúde pública. A MP 927 permite redução de salários, estabelece o home office, afasta o sindicato das negociações, prevê que o acordo entre empregado e patrão prevaleça sobre as leis trabalhistas, dentre outros ataques. O emprego, que já é difícil de ser mantido para as LGBTs, expostas ao preconceito e  opressão diversificadas, agora se torna um artigo de luxo, já que os direitos são enfraquecidos pelos patrões capitalistas, que se respaldam na política nefasta da ultradireita.

No mês passado, também foi aprovada pelo senado a MP 936, que permite manter a redução salarial e a suspensão de contratos de trabalho durante a pandemia.

A questão de moradia é outro grande problema da LGBTs; muitas de nós estamos submetidas à violência doméstica e a expulsão de casa, o que nos deixa ainda mais expostas à Covid e a violência das ruas. Em relação às mulheres trans essa realidade é ainda mais bárbara. A falta de acesso a emprego faz com que elas estejam submetidas à prostituição e a cafetinagem, sendo obrigadas a manter o pagamento diário de aluguel para seus exploradores para não serem colocadas na rua. Atualmente 96% das mulheres trans não tem emprego formal e 90% se prostitui para sobreviver. Essa realidade possivelmente se aprofundará com a decadência capitalista que cotidianamente nos marginaliza, super-explora e oprime.

Combater o governo Bolsonaro e Mourão e a LGBTfobia

O governo Bolsonaro segue a cartilha dos capitalistas em tempo de crise econômica. Aprofunda os ataques aos direitos econômicos da classe trabalhadora de conjunto e se utiliza do preconceito e da discriminação contra negros e negras, mulheres e LGBTs justamente por saber que esses preconceitos dividem a classe trabalhadora e facilita sua sobrevivência no governo.

Não é novidade suas posições LGBTfóbicas. Ainda antes de assumir a presidência já defendia que prefere um filho morto em um acidente a um filho gay. A ministra Damares representa o que há de pior nas instituições religiosas neopentecostais, é declaradamente LGBTfóbica e utiliza a pasta de Direitos Humanos como centro de difusão de suas ideias preconceituosas e opressoras contra as LGBT.

Nosso recado enquanto trabalhadores LGBTs tem de ser o oposto ao de Bolsonaro, Mourão e Damares! Se eles querem cada vez mais ver trabalhador contra trabalhador nós devemos dizer o contrário, devemos levar nossas pautas e a bandeira do arco-íris ombro a ombro com os trabalhadores não LGBT, inclusive combatendo a LGBTfobia entre os trabalhadores.

Construir o 10 de julho pelas nossas vidas

Apesar de o governo Bolsonaro se mostrar um governo frágil ele ainda não está acabado. As medidas de desmonte da quarentena (que por si só eram insuficientes) expõem às claras que Bolsonaro e Mourão têm um projeto de morte pra trabalhadoras e que não estão nem aí para as vidas das LGBTs.

É uma questão de sobrevivência derrubar esse governo. Somente dessa maneira podemos combater a realidade de adoecimento, morte, miséria e violência a qual nós LGBTs trabalhadoras estamos expostas. Derrotar Bolsonaro-Mourão, Damares e seus comparsas é uma tarefa dos trabalhadores de conjunto! E, para isso, não podemos dar espaço à LGBTfobia. Esse preconceito que, infelizmente, existe entre os trabalhadores é parte das concepções dos ricos e poderosos e não tem lugar nas lutas de todos os trabalhadores contra Bolsonaro e Mourão e pelo fim da exploração capitalista.

No dia 10 devemos construir assembleias nos locais de trabalho, utilizar uma peça de roupa preta e construirmos um grande panelaço as 20:30 para colocar fora Bolsonaro e Mourão já! E não podemos parar por aí! Devemos aliar a luta e a demanda das LGBTs à luta geral de todos os trabalhadores, somente assim podemos construir uma nova sociedade que não se utilize das nossas diferenças e as transforme em desigualdade, opressão e violência.

Um lugar além do arco íris

A crise capitalista que já estava colocada antes da pandemia se aprofunda a olhos vistos neste momento. Derrotar Bolsonaro, Mourão e toda a corja que governa o Brasil é uma primeira tarefa, mas as LGBTs trabalhadoras – e a classe trabalhadora e operária de conjunto – precisam ir além disso. Qualquer governo de plantão terá na ordem do dia o ataque às LGBTs de forma mais explicita ou mais as escondidas. Os trabalhadores em toda diversidade devem estar no controle econômico e político da sociedade, incorporando em seu programa todas as reivindicações das LGBTs trabalhadoras. Essa realidade só é possível do outro lado do arco-íris: numa sociedade socialista sem opressão e exploração.

Fora Bolsonaro e Mourão!

Quarentena geral pra valer, já!

Pela vida, emprego, renda, liberdades democráticas! Pelo fim do Racismo! Vidas LGBT importam!