As bandeiras do arco-íris tomam o céu de ItaperunaNo último dia 21 de setembro, na cidade de Itaperuna (RJ), aconteceu a Primeira Parada Gay da região noroeste fluminense, com a participação de caravanas de mais de treze municípios. A cidade foi tomada por bandeiras do arco-íris, da Conlutas, por faixas, cartazes e adesivos dizendo não ao preconceito e à discriminação e afirmando a necessidade da luta de todos os trabalhadores contra a opressão e a exploração.

Além de ser a primeira da região, esta parada teve características muito distintas da maioria das paradas que assistimos hoje em dia. Com muito orgulho, essa parada foi totalmente construída pelas entidades dos trabalhadores, o Sindsprev-RJ e o GT LGBT da Conlutas, e do movimento comunitário local.

A preparação da atividade ao longo do ano passou por todo tipo de problemas. Por ser uma região muito conservadora, com altos índices de violência contra homossexuais e travestis, os setores evangélicos, as oligarquias e elites, os políticos e a polícia locais fizeram de tudo para impedir a realização. Mas, apesar da resistência das elites e dos conservadores, a parada foi uma vitória absoluta, contando com mais de 3 mil pessoas na rua e outras tantas centenas que das varandas das casas, dos comércios e das fábricas paravam para assistir e apoiar.

Uma parada com conteúdo!
Essa parada, ao contrário das milionárias paradas que tomam o país, teve um claro conteúdo de luta. Com o eixo de combate ao racismo, machismo e homofobia, a agitação do carro de som denunciou com força a ligação entre opressão e exploração. Além de ser uma festa em nome do orgulho de ser diferente, também afirmou seu caráter de muita luta contra toda a violência que o capitalismo nos faz sofrer. Pautou ainda a necessidade de luta por direitos, a criminalização da homofobia e o oportunismo do governo Lula, que faz declarações hipócritas em favor dos setores oprimidos enquanto que capitula vergonhosamente aos setores católicos e evangélicos, à burguesia e ao imperialismo enquanto seguimos sendo discriminados.

No momento da concentração, chegou até a equipe de coordenação o informe de que os políticos locais que estão na disputa das eleições, após verem o sucesso que havia se transformado nossa atividade, estavam alardeando na cidade que as eleições já estavam ganhas e que para comemorar haviam organizado a parada. Como sempre, os capitalistas querem tirar proveito de tudo, inclusive das nossas lutas. No Carro de som foi feita uma pesada denúncia contra o oportunismo escancarado destes políticos que, depois de tentarem de tudo para emperrar a parada, tentaram tirar proveito de nossa luta contra a violência que eles mesmos nos impõem cotidianamente.

Para que não restassem dúvidas, afirmamos o tempo todo que esta era uma parada classista, organizada pelo movimento sindical, pelo Grupo de Trabalho de gays e lésbicas da Conlutas e pelos movimentos comunitários locais, uma parada totalmente independente dos patrões, da prefeitura, dos governos e das oligarquias reacionárias locais. Por isso e somente por isso, ela pôde ter o caráter que teve, de luta, de reivindicação e de afirmação da diferença.

Outro ponto importante que marca o perfil desta parada foi nossa intervenção específica para os operários. No meio do trajeto se encontrava a fábrica da Parmalat onde, em pleno domingo à tarde, operárias e operários trabalhavam intensamente. Quando a marcha passou em frente à fábrica os trabalhadores pararam em frente ao portão (onde os burocratas da chefia os seguraram) e no alto das torres das máquinas e das tubulações e ficaram atentos observando nossa passeata. O carro de som parou e houveram intervenções específicas para dialogar com estes trabalhadores, denunciando a precariedade geral que nossa classe vem sofrendo sob o governo Lula, o aumento dos preços dos alimentos e a necessidade de organização e luta por melhores salários e condições de trabalho.

Conlutas presente!
O GT-LGBT da Conlutas, desde o começo do ano, esteve ajudando, com todas as suas limitações, na organização do evento. Atividades, reuniões, jornais e todo um operativo de discussão e divulgação foi realizado pelos militantes do Sindsprev-RJ. Mesmo após a ruptura da corrente MTL (que compõe a direção do sindicato) com a Conlutas, a companheira Chris deu continuidade ao trabalho do GT na categoria, realizando um vitorioso seminário com mais de 120 pessoas para debater a homofobia, como parte das atividades, além de tocar a organização da parada ao longo do ano.

A parada ainda contou com a presença de uma delegação com membros do MNU, Sindsprev, Conlutas Nacional, Sindicato dos comerciários da Baixada Fluminense, do SEPE, sindicato de professores do RJ e da Oposição de Petroleiros de Macaé. Apesar de o movimento sindical como um todo refletir boa parte do preconceito contra gays e lésbicas, essa pequena delegação demonstra que é possível realizar a unidade entre movimento homossexual, negro, feminista e sindical e, acima de tudo, que é possível construir a solidariedade entre explorados e oprimidos em torno ao projeto de uma sociedade socialista. Essa é a proposta da Conlutas, com sua estrutura de Grupos de Trabalho sobre opressões (negros e negras, mulheres e LGBT), que está dando os primeiros passos na construção de uma nova forma de luta, que unifica a classe trabalhadora com toda a sua heterogeneidade e especificidades.

É preciso continuar a luta!
Outro ponto muito importante, que foi discutido nas intervenções ao longo do trajeto da parada, é que se levantamos nossas bandeiras neste dia, que é um no ano, a discriminação acontece ao longo de todos os dias, o que exige de todos nós avançar na organização e na luta, jogando nosso debate para as escolas, as fábricas, os bairros etc., mantendo nossa disposição de luta e enfrentamento com o preconceito no dia-a-dia.

Como parte disso, a Conlutas RJ realizará uma reunião estadual do GT no dia XX de outubro, além de estar preparando um calendário de atividades em escolas.

Uma vitória que precisa ser divulgada
Essa parada foi, sem nenhuma dúvida, uma Vitória dos que querem lutar. Seu caráter de luta, sua independência política e financeira, seu conteúdo de denúncia e reivindicação e toda a animação dos mais de três mil participantes demonstram o sucesso dessa iniciativa. Enquanto que na maioria das paradas do país é preciso pedir a permissão de ONGs burocráticas para se participar, sem direito à intervenções ou falas no carro de som, e ter que cumprir uma série de exigências burocráticas e impeditivas, desta vez todos tiveram acesso ao carro de som e ao microfone, onde puderam democraticamente se manifestar, demonstrando seu ódio ao oportunismo, ao preconceito e muita vontade de lutar. Essa é a diferença entre uma atividade da própria classe trabalhadora e as paradas milionárias financiadas pela burguesia, pelos governantes e pelos burocratas oportunistas.

Precisamos reivindicar em todos os locais de trabalho, escolas e universidades esse exemplo. É possível construir um movimento contra a opressão com caráter classista, independente e de luta. É possível unir explorados e oprimidos. É possível realizar paradas com recursos da própria classe trabalhadora. É possível resgatar a essência das paradas, de Stonewall, de luta, denúncia e reivindicação. É possível tornar a luta contra a opressão uma luta pelo socialismo!