A revista Época que chegou às bancas no dia 18 de março trouxe a carta na manga do governo, que supostamente bloquearia as pressões pela saída de Palocci do ministério da Fazenda. Ao menos era essa a intenção. Entretanto, esse tiro acabou saindo pela culatra. Ao divulgar que a poupança do caseiro Franscenildo dos Santos Costa fora vasculhada e que os bisbilhoteiros acharam depósitos de R$ 38 mil, a revista tentou sustentar a tese de que Nildo fora pago para afirmar em seu curto depoimento, interrompido por liminar do STF, que Palocci freqüentava a famosa casa de lobby em que integrantes da República de Ribeirão Preto promoviam negócios e festas.
A revista informou que ele recebeu altos depósitos no início do ano em sua conta de poupança na Caixa Econômica Federal, algo incompatível com sua renda. A matéria afirma que, no início do ano, a conta possuía um saldo de R$ 24,76. Entre 6 de janeiro e 6 de março, recebeu cinco depósitos em dinheiro, que, somam R$ 38,6 mil.
Nildo deu entrevista, no dia 17, dizendo que o dinheiro era uma doação familiar. O advogado Wlício Chaveiro Nascimento explicou que Nildo é filho, não reconhecido, do empresário Euripedes Soares da Silva, dono de uma empresa de ônibus em Teresina. “O pai mandou este dinheiro em segredo, porque a família não sabe que ele ajuda o Franscenildo”, disse o advogado. Bem, agora sabe.
O caseiro mostrou em sua entrevista os extratos comprovando que os depósitos vieram realmente do Piauí, e afirmou ainda que o montante depositado não foi de R$ 38,6 mil, mas de R$ 25 mil.
A exposição das finanças do caseiro ocorreu sem que o sigilo bancário de Nildo fosse quebrado. Na entrevista, o caseiro apresentou uma suspeita de que foi a Polícia Federal efetuou a investigação de sua conta. O extrato foi retirado no exato momento em que os documentos dele (incluindo o cartão do banco) estavam com a Polícia Federal. “Mexeram nas minhas contas, o que posso esperar mais? (…) Eu confiei na polícia. E fazem isso aqui. Como eu posso me sentir?”, questionou o caseiro.
O advogado de Francenildo, Wlício Chaveiro Nascimento, entrará com uma ação judicial contra a Caixa Econômica pelo ocorrido. A invasão por parte dos defensores do governo, ao contrário de cumprir seu objetivo de desqualificar a testemunha, apenas colocou mais lenha na fogueira. E deixa claro os interesses que estão em jogo. Tanto é assim que, até hoje, o sigilo bancário de diversos picaretas não foi quebrado, como o do empresário compadre de Lula.
Palocci ameaçado
Independentemente de ser confirmado se Nildo recebeu dinheiro ou não para dar seu depoimento, ele não é a primeira testemunha que afirma que Palocci realmente esteve na “mansão do lobby”. Apesar das negativas do ministro, o motorista Francisco das Chagas Costa já havia apresentado na CPI o mesmo testemunho que o caseiro.
O PSDB e o PFL não estão mais tão dispostos a dar trégua a Palocci e pedem sua saída do cargo. O próprio ministro parece cogitar a possibilidade, para não prejudicar a imagem de Lula. Por outro lado, a saída de Palocci seria como assinar um atestado de culpa. Lula permanece dizendo que o afastamento do colega está fora de questão.