No dia 18 de julho, em plena luz do meio-dia, um atentado de caráter fascista foi praticado contra uma aldeia de 45 índios da etnia guarani. A aldeia fica localizada na Praia de Camboinhas, região de mansões e prédios de luxo da Região Oceânica de Niterói, contrariando interesses econômicos dos poderosos da especulação imobiliária da cidade. Os índios chegaram ao local há oito meses e batizaram a aldeia de Camboinhas de Tekoá Mboy-Ety (Comunidade com Sementes).

O indígena Joaquim Karaí Benites ficou gravemente ferido com queimaduras de 2º grau. Cinco ocas, a casa de oração e a escola da aldeia foram totalmente destruídas, sendo perdidos vários objetos como cobertores, documentos, livros da escola, alimentos e dinheiro. Também ficaram destruídos instrumentos sagrados e manuscritos de um livro que o cacique estava organizando sobre saberes dos antepassados.

Covardemente, o atentado criminoso foi cometido enquanto os homens da tribo participavam de uma reunião com membros da comunidade da Serra da Tiririca e pescadores de Itaipu. No momento do incêndio, havia apenas mulheres e onze crianças guaranis que entraram em pânico. O medo e o ódio marcaram uma das paisagens mais belas do país. O incêndio foi provocado por quatro homens armados que teriam fugido em alta velocidade num veículo Ômega de cor prata com placa de Minas Gerais, concretizando várias ameaças feitas meses atrás.

Horas depois do atentado, o presidente do Instituto Estadual de Floresta (IEF), André Ilha, lá esteve e foi devidamente expulso do local sob ameaça de flechas e bordunas. Tudo começou quando o representante do governo Sergio Cabral (PMDB) explicava à imprensa, por telefone, que a permanência da aldeia no local não era permitida porque a área pertence à União.

“Essa é uma boa oportunidade para que a Funai e o Incra encontrem um local definitivo para essa aldeia. Aqui eles não podem ficar. Há um impedimento legal”. A nefasta declaração demonstrou de que lado ele estava, mas foi ouvida pelos índios que o cercaram com justa indignação e revolta. Outros governistas que o acompanhavam também foram expulsos da aldeia.

No dia seguinte, foi organizado um ato coordenado pelo CCOB (Conselho Comunitário da Orla da Baia) com a presença de personalidades, autoridades e entidades apoiadoras da aldeia localizada no Sítio Arqueológico de Itaipu, com cinco sambaquis (cemitérios indígenas), por isso exigem seu reconhecimento, conforme afirmou o cacique da tribo Darcy Tupã, de 29 anos, na presença do Representante da Funai, Cristino Cabreira. “No próximo mês, mais de 800 índios vão chegar ao local para morar. A guerra está longe de terminar. Hoje põem fogo, amanhã alguém pode vir aqui nos matar”. (…) “Agora chegou a hora de botar o pé firme e lutar”. Enfatizou o jovem e valente cacique.

A Conlutas marcou presença no ato, em que, além da solidariedade, foi assumido o compromisso de uma campanha de denúncias em nível internacional. Exigindo também do governo Lula para que atenda todas as reivindicações dos integrantes da aldeia que vive da venda de artesanatos, apresentações do coral e doações.

Neste sentido, todas as entidades e organizações ligadas a Conlutas deverão ajudar com doações de medicamentos, colchões, cobertores, além de cestas básicas.

Este crime nos traz a triste lembrança de outro semelhante, há 11 anos atrás, quando o pataxó Galdino de Jesus teve seu corpo queimado por cinco rapazes de classe média de Brasília, sendo assassinado enquanto dormia numa parada de ônibus. Na época, o fato causou protestos em todo pais. E agora não poderá ser diferente.

Todo apoio a Aldeia Indígena Tekoá Itarypu de Niterói!
Moções de apoio à aldeia e de exigências ao governo devem ser enviadas para:

Instituto Estadual de Floresta (IEF)
Gabinete do presidente André Ilha
[email protected]

Fundação Nacional do Índio (Funai)
Coordenação Geral de Defesa dos Direitos Indígenas
[email protected]

Com cópias para:
CCOB
[email protected]

Conlutas-RJ
[email protected]
Tel.: (21) 2509 1856