Enquanto o sistema público de saúde vive um caos generalizado em todo o país, com doentes morrendo nas filas dos hospitais, o governo bate mais um recorde. Só em julho de 2007, a economia realizada pelo setor público para o pagamento de juros da dívida fechou em R$ 7,9 bilhões. O resultado é 40,7% superior ao mesmo período do ano passado. Os dados foram divulgados no último dia 29 pelo Banco Central.
O arrocho e o comprometimento com o pagamento dos juros em detrimento dos investimentos sociais são aplicados por todas as esferas de governo. Tanto o governo federal quanto os estados e municípios, seja governado pelo PT, por partidos da base governista ou pela oposição, impõem a mesma política. No mês, só a União economizou R$ 4,9 bilhões. Os estados foram responsáveis por R$ 1,7 bilhão, enquanto os municípios deixaram de investir R$ 485 milhões.
Nos sete primeiros meses do ano, o superávit primário (economia que o governo faz para pagar os juros da dívida) foi de R$ 79,5 bilhões. Considerando o período dos últimos 12 meses, esse valor chega a R$ 106,9 bilhões, ou 4,37% do Produto Interno Bruto (a soma do valor das riquezas que o país produz no período de um ano), montante bem superior à meta de superávit para o ano, de 3,8% do PIB, o que somaria R$ 95,9 bilhões.
No entanto, mesmo com o arrocho e a contenção dos investimentos, a economia do governo não foi suficiente para pagar os juros. Em julho, as despesas com juros totalizaram R$ 14,1 bilhões, o que significou um rombo de R$ 6,1 bilhões no orçamento público. Ou seja, mesmo com o aperto fiscal, o governo não consegue pagar os juros da dívida, que cresce cada vez mais.
Em julho, a dívida do setor público aumentou R$ 9,6 bilhões, chegando a R$ 1,104 trilhão, ou 44,4% do PIB, quase a metade de tudo o que o país produz em um ano. Em junho essa relação era de 44,3% e o próprio governo estima que em dezembro era será de 44,5%.
Cruzamento de dados realizado pelo jornal Folha de S. Paulo entre os gastos do governo com os juros da dívida e a despesa com o Bolsa Família revela que, só com o que foi economizado em 2007 para pagar juros, daria para manter o Bolsa Família por quase 10 anos. O orçamento do maior programa social do governo Lula é de apenas R$ 8,7 bilhões.
Plebiscito Popular questiona dívida
Uma das perguntas do Plebiscito Popular sobre a Vale do Rio Doce, realizado durante a semana da Independência, questiona a prioridade do governo no pagamento das dívidas interna e externa, em detrimento dos investimentos sociais. O resultado do arrocho em julho ressalta a importância dessa questão e rebate a falsa tese de que a dívida pública não é mais um problema.