PSTU-ABC

Emanuel de Oliveira, de São Paulo (SP)

Depois de 13 dias paralisados, os operários e operárias da General Motors (GM), em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, retomaram o trabalho, no dia 15, sexta-feira. A luta dos trabalhadores, contudo, poderia ter sido vitoriosa, em função da força do movimento, da unidade dos trabalhadores e pela disposição de luta demonstrada na rebelião que ocorreu no dia anterior, quando, nas assembleias dos dois turnos, por amplíssima maioria, os operários votaram pela continuidade da greve; decisão que foi desrespeitada pela direção do sindicato.

Nelas, o fim da greve não foi aprovado, mesmo depois da sentença do Tribunal Regional do Trabalho 2 (TRT2), que determinava a volta ao trabalho sob pena de multa de R$ 50 mil por dia (a ser paga pelo sindicato) e com o presidente do sindicato, Aparecido Inácio da Silva, o “Cidão”, tentando  amedrontar os trabalhadores, dizendo que a empresa poderia demitir.

Essa absurda traição da direção do sindicato, comandado pela Força Sindical (FS), ao se recusar a garantir a decisão dos operários, impediu que o movimento grevista fosse vitorioso.

Os operários estavam em campanha salarial e a paralisação ocorreu porque a direção da GM não queria dar o reajuste integral da inflação, além de querer retirar a cláusula 42 (que trata dos trabalhadores lesionados), se recusar a dar um Vale Alimentação (VA) e, também, aumento real.

Superexploração: é isso o que faz a GM

Há alguns anos, o sonho de qualquer jovem era trabalhar em uma montadora. Mas, hoje, esse sonho virou um pesadelo. Segundo o depoimento de um jovem trabalhador, o salário de ingresso é de R$ 1.700 ou R$ 10,78 por hora.  “Na quinzena, eu tiro R$ 600 e no final do mês, depois dos descontos, do INSS, transporte, plano de saúde, entre outros, eu tiro mais ou menos R$ 700 ou R$800, dependendo do mês”, explicou um jovem, que preferiu não se identificar.

Agora você imagina quem é casado e tem filhos, com esse salário. Não dá para pagar aluguel, comprar comida, pagar água, luz, gás, roupa etc. Nossa situação não está fácil. Por isso, o VA era muito importante, para comprar comida”, disse à reportagem.

O ritmo de trabalho é alucinante e muitos colegas ficam doentes e a empresa quer tirar a cláusula dos lesionados. Muitos colegas pedem as contas em seis meses. Não aguentam o ritmo das linhas de produção, mesmo sabendo que a situação do emprego aqui fora está difícil”, concluiu o metalúrgico.

GM está aumentando produção

A GM está lucrando muito. Em 2020, o lucro líquido da montadora foi de US$ 6,4 bilhões. Somente a planta de São Caetano faz em média 1.000 veículos por dia (nos dois turnos) e sua produção anual aumentou de 250 mil para 330 mil veículos, segundo a própria empresa. Para aumentar seus lucros, a empresa está produzindo veículos mais caros, como o Tracker, cujo modelo mais barato custa R$ 103.780,00.

E, todos os anos, a GM envia bilhões de dólares para sua matriz nos Estados Unidos. Enquanto isso, não abre mão de um mísero Vale Alimentação. E mais: a empresa ainda lucra milhões com isenção de impostos, do pagamento da taxa de água, de luz, IPTU e, também, com os empréstimos generosos que obtém com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

‘Não adianta fazer parceria com a empresa’

Nesses últimos anos, a empresa vem se reestruturando e quando se fala em reestruturação, leia-se ataques contra os trabalhadores. A GM vem congelando salários, reduzindo os salários de ingresso [grades diferenciadas] e jogando sobre as costas dos trabalhadores o aumento nos planos de saúde, no valor dos transporte etc. Faz isso alegando que é necessário para obter investimentos da matriz. O sindicato da Força Sindical concordou com essas exigências. Mas de nada adiantou. Os trabalhadores foram penalizados e ficou demonstrado que nada disso deu certo”, explicou Luiz Carlos Prates, o “Mancha”, operário da GM de São José dos Campos (SP) e dirigente do PSTU e da CSP-Conlutas.

Essa é uma lição importante: não adianta fazer parceria com a empresa. É necessário enfrentar esse processo com unidade entre os trabalhadores. Só dessa forma podemos travar uma dura luta contra os ataques e a retirada de direitos feitos pala empresa”, concluiu o sindicalista.

Lições

Consciência fortalecida, apesar da traição da direção

Apesar de que uma parte das reivindicações foi atendida, como INPC integral, de 10,42%, manutenção da cláusula 42 e das cláusulas sociais, os trabalhadores saíram da greve com uma sensação de derrota, pois não conquistaram o Vale Alimentação nem o aumento  real.

Nessa greve, os trabalhadores sentiram a traição da direção do sindicato na pele. Um movimento que poderia ter sido vitorioso terminou com a volta ao trabalho, sendo que a decisão dos trabalhadores era de manter a paralisação.

A direção do sindicato não garantiu a decisão dos trabalhadores e simplesmente virou as costas, deixando os trabalhadores nas mãos da empresa, que usou de chantagem e ameaças de demissão para forçar a volta ao trabalho.

No dia seguinte à decisão dos trabalhadores favorável à manutenção da greve, o sindicato não apareceu na porta da empresa e mandou um comunicado de esclarecimento, assinado pelo seu presidente, Cidão, sobre a suspensão da greve e retorno ao trabalho. O comunicado dizia que “não podia ter sido outro encaminhamento, visto que existia uma decisão judicial do TRT”. Assim, o movimento acabou sem sequer passar por outra assembleia.

No entanto, a consciência dos trabalhadores saiu fortalecida. “Essa greve foi boa para nós ganharmos experiência, pois eu nunca tinha feito uma greve”, disse um jovem operário à reportagem.  Agora é necessário construir outra direção para que os operários possam lutar por suas reivindicações e manter suas conquistas, pois a empresa vai continuar tentando acabar com elas e os direitos garantidos em anos de luta do movimento operário no nosso país.