Relatório da ONU indica que tropas terão de ficar `anos` no paísO presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu novamente a missão da ONU no Haiti, em seu discurso à 15ª Cúpula Ibero-Americana, na cidade espanhola de Salamanca. Para Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Relações Exteriores, a intervenção no Haiti estaria criando “um novo paradigma de tratamento desse tipo de questão”. “Foi uma intervenção respeitosa aos direitos humanos e com número mínimo de baixas”, afirmou Garcia. “Tenho testemunhos diretos que dizem que, sem a força de paz, dificilmente eles teriam a possibilidade de participar no processo eleitoral”, ratificou.

Desde o início do ano, denúncias, como a do Centro de Justiça Global, apontam diversos casos de violação dos direitos humanos e acobertamento de crimes cometidos pela polícia haitiana – o que só faz crescer o descontentamento da população submetida a incursões que se assemelham às forças dos EUA no Iraque. O processo eleitoral haitiano, por sua vez, já foi adiado quatro vezes – a previsão é de que as eleições legislativas e presidenciais ocorram em 20 de novembro. Para garantir a farsa eleitoral, ainda será necessário que os países invasores a financiem, em função do déficit público de US$ 4,1 milhões.

Violência pode recrudescer
O Haiti, sob ocupação militar e sem exército próprio desde a queda do corrupto e neoliberal Jean Bertrand Aristide, encontra-se numa crise de violência e caos social. E, segundo relatório do próprio secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, a violência na capital pode se agravar ainda mais. Annan recomenda à missão da ONU, liderada pelo Brasil, que permaneça atenta durante o processo eleitoral.

Apesar de afirmar que a preparação das eleições “avança favoravelmente”, o relatório admite que “os avanços obtidos seguem sendo pequenos” e que “é necessário resolver alguns problemas organizacionais, assim como a possibilidade de que aumente a violência durante o período da campanha eleitoral e também cresça a persistente impunidade e falta de respeito pelos direitos humanos”. O descrédito e o baixo comparecimento à inscrição eleitoral têm sido respondidos com um verdadeiro Estado de exceção, prisão dos principais opositores e sistemático terror à população. Será este o avanço favorável do qual trata Annan?

O conteúdo do texto de Annam permite supor que, assim como no Iraque, a ocupação não terminará com a farsa eleitoral. “O governo que assumir o poder depois das eleições enfrentará importantes desafios políticos, de segurança e de direitos humanos, aos quais terá de responder com uma capacidade técnica limitada e poucos recursos”, indica Annan. Por isso, será indispensável “que a comunidade internacional mantenha o auxílio, pelo menos pelos próximos anos”. Annan confirma, nas entrelinhas, que o direito à autodeterminação do povo haitiano – ou seja, de decidir sobre o próprio destino – não virá das urnas nem tampouco dos “capacetes azuis”.

Fora tropas brasileiras do Haiti, já!