A crise política que terminou com a demissão de Palocci foi a primeira derrota importante de Dilma. Foi tipicamente uma crise nas alturas. Não existe uma relação direta entre a demissão de Palloci e as lutas sindicais. Trata-se de dois processos simultâneos, partes da mesma totalidade, mas sem relação entre si. Não foram as greves que derrubaram Palocci, mas uma pressão de setores importantes da burguesia.

Não se trata de uma vitória direta da oposição burguesa. A pressão contra Palocci surgiu do PMDB e de setores do PT. O objetivo era pressionar para mudar a forma com que Dilma governa, para que ela passasse a negociar com seus próprios aliados no Congresso de forma menos imperial. Palocci era o símbolo dessa postura, e esse foi o motivo das denúncias e do descaso do PT e do PMDB em defendê-lo.

A demissão de Palocci é uma primeira derrota do governo, e o enfraquece. O PMDB conseguiu seu objetivo de obrigar Dilma a retomar a negociação das verbas e cargos no atacado e no varejo, como ocorria com Lula.

Junto à população, porém, mesmo depois de Palocci e da inflação, Dilma manteve sua popularidade. As pesquisas indicam que ela mantém o mesmo patamar de apoio do início do ano (aumentando inclusive de 47% a 49% entre ótimo e bom).

A insatisfação está se ampliando, mas ainda é espalhada, sem identificar no governo um inimigo. Com frequência os trabalhadores só entendem como adversário seu próprio patrão. Não entendem que a política econômica do governo apoia diretamente esses patrões. Só quando as mobilizações se enfrentam contra os governos ou quando existe repressão é que se assume um caráter mais político, como é o caso dos bombeiros no Rio (e outras mobilizações regionais do funcionalismo, como no Rio Grande do Norte e em Alagoas).

A estabilidade burguesa ainda não foi abalada
O ciclo de greves e a queda de Palocci compõem uma conjuntura bem diferente da que existia no início do governo. Há um número maior de greves e crises políticas do que em relação ao segundo governo Lula. Tais elementos são muito importantes, logo no primeiro semestre, porque indicam a possibilidade de o governo Dilma seja mais frágil que os dois mandatos de Lula.

Essa, porém, é apenas uma possibilidade. É bom ter em conta que mesmo na atual conjuntura a estabilidade burguesa não foi abalada. Os elementos mais estruturais da dominação do grande capital não foram modificados. A economia segue crescendo, mesmo em meio à crise europeia e árabe, em função do desenvolvimento chinês. A burguesia continua unida em seu projeto econômico e político para o país. A crise de Palocci foi apenas um atrito menor em função da disputa de espaços, sem alterar o acordo entre o imperialismo, todo o bloco governista e a oposição burguesa ao redor da política econômica aplicada por Dilma. As disputas eleitorais não abalam isso, e mesmo assim a oposição burguesa está bem enfraquecida.

O ascenso – ainda que muito importante – ainda continua nas fronteiras sindicais e sem unificação. Esse elemento importante tem a ver com o governo de frente popular e seus braços no movimento (CUT, Força Sindical, UNE etc.). As organizações governistas desviam as lutas e impedem sua unificação.
A conjuntura de lutas e crise que vivemos necessitaria dar um salto com a unificação e politização das lutas, além de uma divisão mais importante na burguesia, para assim abalar a estabilidade reinante.

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