Redução da jornada de trabalho e aumento dos salários. Uma reivindicação histórica dos trabalhadores ignorada pelo Congresso vai contemplar agora pelo menos uma categoria: a dos próprios parlamentares.

Em reunião de líderes realizada dia 10 de abril na Câmara dos Deputados, foi reafirmada a intenção dos parlamentares de aumentar seus próprios salários. -Mais do que isso, os deputados discutiram a necessidade de estender o tempo de folga, deixando de trabalhar na segunda-feira a fim de dar maior atenção às suas “bases”. Isso seria feito suspendendo as votações nas segundas. Desta forma, a semana de “trabalho” do deputado iria apenas de terça à quinta-feira. Na verdade, eles vão apenas oficializar uma prática que já é vergonhosamente conhecida: a semana, no Planalto, começa na terça-feira.

Até mesmo o líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), defendeu a folga dos parlamentares. “As sessões das segundas estavam ineficientes do ponto de vista da produtividade. A decisão foi unânime”, afirmou o deputado ao jornal Correio Braziliense.

Com mais um dia de descanso, os deputados ainda querem elevar seus salários dos atuais R$ 12.847 para R$ 16.250. Como se isso não bastasse, os parlamentares abocanhariam também um generoso aumento da verba de gabinete, que passaria de R$ 50,8 mil para R$ 65,1 mil por mês.

No entanto, temendo não serem vistos como democráticos, os deputados propuseram ainda elevar os salários do presidente e dos ministros. O presidente da Câmara, o petista Arlindo Chinaglia (SP), propõe um aumento salarial de 82,8% para o presidente. O valor dos vencimentos de Lula ficaria, desta forma, equiparado ao futuro salário dos deputados.

Efeito Cascata
Além de representar um verdadeiro escárnio à grande maioria da população, que sofre com salários miseráveis, o exemplo abre ainda a porta para um verdadeiro efeito cascata nos estados e municípios. Na capital paulista, por exemplo, os vereadores aprovaram no dia 10 de abril um pacote de privilégios.

Um dos pontos da medida aprovada institui um aumento de verbas de R$ 10 mil para R$ 12,5 mil por mês. Além disso, o pagamento que hoje é feito em espécie (xerox, gasolina, telefone, etc.) passaria a ser feito em dinheiro. Com a exigência apenas de apresentação de notas fiscais, abre-se uma avenida para todo tipo de fraude.

Desconfiança
Não é à toa que o Congresso é a instituição em que a população menos confia, como demonstra pesquisa CNT/Sensus divulgada dia 10 de abril. Exatamente quando o término dos trabalhos da CPMI dos Correios completa um ano, sem que ninguém tenha sido punido, a imagem do Congresso não se recuperou. Apenas 1,1% dos entrevistados afirmou confiar na instituição.