Em 1822, o Brasil conseguiu sua independência formal, livrando-se do colonizador português. Mas, isso não alterou substancialmente o regime econômico-social existente.

A independência do país ficou conhecida como a mais conservadora das Américas, nada comparável à revolução negra no Haiti, às lutas pela América espanhola ou mesmo à independência dos EUA. Aqui ela foi um “arranjo político” entre setores da elite brasileira na época. Cuidadosamente, esses grupos procuraram manter as massas fora do processo e adotaram como regime político a monarquia, que ao longo do século XIX esteve a serviço dos grandes proprietários de terras escravocratas.

Para garantir o reconhecimento da independência brasileira, foi realizado um acordo, no qual o Brasil assumiu uma dívida de Portugal com a Inglaterra. Assim, começou nosso endividamento e nossa dependência econômica da maior potência capitalista da época.

O Brasil passaria da antiga dominação colonial portuguesa para novas formas de dependência, a princípio da Inglaterra e, mais tarde, no século XX, dos EUA.

De lá para cá, o Brasil continuou transferindo suas riquezas para as grandes potências mundiais, demonstrando que alcançamos apenas uma pseudo-independência.

No final dos anos 80, a globalização capitalista, impulsionada pelos EUA, tornou-se uma política para transformar novamente os países pobres em colônias. Para isso, o imperialismo encontra aliados nas próprias elites desses países e conta com a colaboração de seus governos. No Brasil, essa ofensiva recolonizadora da globalização foi aplicada pelos governos FHC e agora por Lula.

A necessidade da ruptura
Por muito anos, se difundiu no Brasil a história de que não é possível romper com o imperialismo, pois isso resultaria num “isolamento do país”, de que isso levaria à “fuga dos investimentos do Brasil”. Esse argumento foi defendido com muita força pelas classes dominantes, governos, partidos e grande mídia. Esse argumento conservador foi parte de toda a ofensiva ideológica (como o mito do “fim do socialismo”) que acompanhou a implementação do neoliberalismo nos anos 90. Com o passar dos anos, também foi assumido pelo PT e pelos dirigentes sindicais da CUT.

Hoje, os defensores do governo Lula afirmam que seria uma utopia romper com o imperialismo e, portanto, é necessário ser “realista”, mantendo tudo como está para evitar uma crise de grandes proporções. Tentam justificar, assim, a manutenção do modelo econômico neoliberal.

Crise do imperialismo
Se tomarmos a realidade da América Latina de conjunto, veremos que hoje ocorre uma profunda crise do neoliberalismo. Por outro lado, nunca houve um rechaço tão grande ao imperialismo quanto existe agora com o governo Bush. É justamente esse sentimento que explica boa parte da vitória de candidatos da esquerda reformista em vários países da região.

Nos últimos anos, as massas trabalhadoras do continente protagonizaram levantes e insurreições contra os governos neoliberais de plantão. A luta contra as privatizações e o questionamento à dominação imperialista estiveram na pauta destas grandes mobilizações que sacudiram países como Bolívia, Equador, Argentina e Venezuela. Países que gozavam de certa estabilidade política também estão passando por mobilizações de questionamento aos planos neoliberais, como é o caso do Chile governado por Michelle Bachelet.

As ações das massas obrigaram, inclusive, governos nacionalistas burgueses (como o de Chávez) e de frente popular (como o de Evo Morales) a anunciarem a nacionalização de empresas que estavam sob o controle de empresas privadas. Embora parciais e limitadas, essas medidas são vistas com muita simpatia pelos trabalhadores de todo o continente.

Por outro lado, o imperialismo passa por uma profunda crise, cuja face mais visível é o atoleiro em que se transformou a ocupação do Afeganistão e do Iraque. Neste momento, a crise imperialista tende a se aprofundar ainda mais, perante uma nova crise econômica, cujo epicentro está nos EUA. É importante lembrar que a última crise arrastou as massas latino-americanas para o caminho das mobilizações e resultou na queda de vários governantes.

Portanto, se o Brasil, que é a maior economia da América Latina, rompesse com o imperialismo, não haveria nenhum isolamento, mas uma onda de apoio dos trabalhadores e da juventude de todo o mundo. Se o Brasil rompesse com o imperialismo, poderia convocar uma frente de todos os países que se disponham a parar de pagar a dívida, a reestatizar as empresas privatizadas, etc. O único isolamento que haveria seria dos banqueiros e dos governos imperialistas, que teriam seus negócios prejudicados.

O argumento dos “realistas” contra a ruptura é semelhante ao dos pelegos “fura-greves”. Quando estes querem impedir que os trabalhadores enfrentem os patrões, dizem que a greve pode prejudicar os trabalhadores, provocando represálias do patrão. No entanto, sabemos que sem greve, sem o enfrentamento com os patrões não haverá conquistas, nem aumento de salários.

“Mas os investidores estrangeiros fugiriam do país”, diriam alguns supostos “realistas”. Ora, todo o lucro desses investidores já foge do país através das remessas de lucros das multinacionais instaladas aqui. Segundo o Banco Central, em 2006 as empresas estrangeiras enviaram nada menos que U$ 16,4 bilhões às suas metrópoles.

Somente a ruptura com o imperialismo e o fim do pagamento das dívidas permitirão que o país tenha condições de investir em tudo aquilo que é necessário para melhorar a vida dos trabalhadores como saúde, educação e reforma agrária.

O país precisa deixar de pagar as dívidas externa e interna, implodir o plano econômico feito para gerar superávits e engordar o cofre dos banqueiros, expropriar as grandes empresas multinacionais e nacionalizar as empresas privatizadas.

Sustentamos que a ruptura é o único caminho para acabar com a dependência e o atraso, para acabar com a fome, a violência, a falta de habitação e o desemprego. Cuba demonstrou que esse caminho é possível, na revolução de 1959-60, quando rompeu com o imperialismo e possibilitou o crescimento massivo dos investimentos em áreas sociais.

Evidentemente, o imperialismo e a burguesia brasileira vão reagir contra estas medidas. Por isso, elas devem ser apoiadas por uma grande mobilização dos trabalhadores da cidade e do campo. Só assim poderemos conquistar nossa soberania.
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