Neste dia 23 de outubro, os eleitores foram às urnas responder à pergunta: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”. A maioria, cerca de 63,94%, optou pelo Não à proibição, contra 36,06% dos votos pelo Sim.

O Não venceu diante de uma forte pressão de todos os lados pelo Sim. A Rede Globo, o governo, as igrejas, os artistas famosos, a maior parte dos partidos da burguesia, a esquerda reformista, todos fizeram uma forte campanha, com um discurso apelativo sobre a população.

O Não também derrotou todas as previsões feitas pelos institutos de pesquisas, que agora, somam-se ao conjunto de mecanismos do Estado desacreditados pela população. Até duas semanas antes do referendo, as pesquisas indicavam a vitória do Sim, e, depois que estas passaram a mostrar a preferência pelo Não, apontavam uma pequena diferença entre as opções, bem longe do que foi o resultado final. Não há ‘margem de erro´ que explique isso.

O resultado em si não muda muita coisa na realidade dos brasileiros. O estatuto do desarmamento já entrou em vigor e foi feito pelos bandidos que estão no Congresso Nacional, que têm imunidades e proteção da polícia para seguir usurpando as verbas públicas.

Entretanto, esse referendo serviu para mostrar o repúdio da população a essas medidas que não combatem de fato a violência e buscam as causas e os culpados por ela nos trabalhadores. Revelou também o repúdio da maioria ao governo e ao próprio regime democrático-burguês, expresso ainda nos altos índices de abstenção e nos votos nulos.

O próprio diretor do Instituto Sou da Paz (a favor do desarmamento), Denis Mizne, reconheceu que o repúdio ao governo Lula foi decisivo para a vitória do Não no referendo. “O momento político não foi feliz e as pessoas utilizaram o `Não` como uma forma de protestar contra o governo e a corrupção“, disse ele ao jornal Folha de S. Paulo. Muitos analistas também apressaram-se em apresentar o resultado como um grito contra a situação da violência no país e a responsabilidade dos governantes.

A convocação do Referendo em um momento que o governo e o Congresso estão assando uma pizza para abafar os escândalos de corrupção não é mera coincidência. De fato, o que o governo queria era desviar a atenção. Só que a população não reagiu a isso com ingenuidade e foi às urnas votar contra o governo.

A própria crise ainda não se encerrou completamente. Nesta semana, na quinta-feira, Delúbio Soares, recém expulso do PT, estará em uma acareação na Câmara com Marcos Valério. Do lado da oposição burguesa, a serão feitos depoimentos em relação a compra de votos durante o governo FHC e aumentam as denúncias (e a blindagem) em torno do senador Eduardo Azeredo, cuja campanha ao governo do Estado de Minas Gerais teria sido financiada com o dinheiro do esquema de Marcos Valério.

Agora, é preciso saber que ir às urnas não basta. O governo teve uma derrota no referendo, mas isso não muda muita coisa. Para mudar a situação do país, é preciso ir às ruas, fortalecer o Fora Todos! e construir uma alternativa para as lutas dos trabalhadores e da juventude.