Imprensa e intelectuais enxergam na eleição de Obama o surgimento de um novo mundo, onde os Estados Unidos não invadem outros povos e não exploram seus trabalhadores e os de outros países.

A imprensa mundial pode novamente falar bem dos EUA. Sem constrangimentos, retornaram os discursos sobre como é boa a democracia dos EUA e a capacidade da sociedade norte-americana de mudar o rumo de seu governo. Como afirmava o jornal espanhol El Pais, “a vitória de Obama destrói a barreiras raciais e revalida os EUA como modelo universal”.

De olho nos votos mais conservadores, McCain chegou a acusar Obama de socialista na campanha eleitoral. Outros consideram a possibilidade de Obama acabar com o imperialismo, construir uma nova ONU (agora sim “democrática”) e um mundo multilateral. Querem-nos vender a idéia de que a democracia burguesa pode superar o imperialismo e que um governo, ou melhor, um presidente é capaz disto, ainda que com dificuldades.

Contudo, teríamos que nos perguntar se Barack Obama vai propor ao Irã o desmantelamento de todos os arsenais nucleares, começando pelo arsenal dos EUA, o maior de todos. Se vai exigir que Israel destrua suas duzentas ogivas nucleares. É preciso perguntar também se as multinacionais norte-americanas, a partir de agora, vão deixar de saquear os países semicoloniais, ou se as bases militares dos EUA por todo o planeta serão fechadas…

O imperialismo não muda sua natureza, ainda que mude a cor da pele de seu presidente. O modelo que nos põem como exemplo é o da democracia imperialista, que vai seguir oprimindo os trabalhadores de seu próprio país e do resto do mundo. O presidente eleito pode chegar a dar alguma concessão, como fez Roosevelt nos anos 1930, com os planos de obras públicas, para resgatar a economia da crise de 1929 e frear as mobilizações operárias que deram lugar às grandes organizações sindicais nos EUA. Contudo, diante da crise econômica, Obama agirá como todo governo capitalista: vai tentar jogar a crise sobre as costas dos trabalhadores.

Os governos dos países capitalistas servem para administrar os negócios da burguesia. Para que Barack Obama pudesse (o que não é sua intenção) mudar o papel dos EUA no mundo e acabar com a exploração dos trabalhadores ou com a discriminação racial e a opressão da mulher, teria que destruir o Estado burguês, ou seja, acabar com o capitalismo.

As guerras, invasões e agressões do imperialismo vão continuar enquanto existir o imperialismo. Como dizia o general e estrategista prussiano Carl Clausewitz (1780-1831), “a guerra é a continuidade da política por outros meios”. E o imperialismo não pode se manter sem se impor militarmente. Os EUA foram até agora a “polícia” mundial do capitalismo. Obama quer contar com o apoio dos outros países imperialistas do mundo para que o sistema siga existindo.

Obama não vai destruir o sistema. Sua tarefa é fazê-lo perdurar. Neste sentido seu governo tem um caráter preventivo frente à possibilidade, pela crise econômica, de uma forte ascensão das lutas. Para acabar com o sistema, não bastam os “Obamas” no governo. É necessário que sejam os trabalhadores que diretamente tomem o poder, através da revolução socialista, e destruam o Estado capitalista. Algo que já foi dito por Marx (muito lembrado por economistas e jornalistas de todo mundo em razão da crise econômica) e nunca foi desmentido pela história.

Programa de Obama e continuação do capitalismo
O caráter do Estado que defende Barack Obama se reflete no programa com o que se apresentou às eleições e nas medidas anunciadas após seu triunfo. Os assessores que cercam Obama e os nomes para seu governo são personagens conhecidos, muitos dos quais foram parte dos governos de Bush, Clinton ou, inclusive, Ronald Reagan. Sobre os temas de economia, os principais assessores de Obama são Paul Volcker e Robert Rubin. Volcker foi presidente da Fed (Federal Reserve), o banco central dos EUA, entre 1979 e 1987, nos tempos de Reagan. Foi um dos pais do neoliberalismo e teve um papel fundamental na implementação da “globalização capitalista”. Nessa época, seu lema era: “As famílias norte-americanas têm que diminuir seu nível de vida”.

Evidentemente, as famílias à que se referia não eram as endinheiradas… Outros conselheiros de Obama são Lawrence Summers, ex-Banco Mundial e também secretário do Tesouro de Clinton; Jamie Dimon, atual presidente do Banco de Investimentos JP Morgan, e Timothy Geithner, ex-gerente do FMI.

Também entre seus assessores econômicos se encontra Warren Buffet, o homem mais rico do mundo. Collin Powel, que dirigiu a primeira guerra de Iraque e é membro do partido republicano, também é cotado para o novo governo, bem como a mesmíssima Hillary Clinton. Num governo que parece de unidade nacional, como o de Ângela Merckel com o SPD (Partido Social-democrata da Alemanha), Barack Obama conta com o apoio do próprio McCain nesta etapa. Com eles Obama quer “um novo amanhecer de liderança norte-americana”.

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