Lula, tentando acalmar a população, diz que as reservas internacionais do país – cerca de 200 bilhões de dólares – colocam o Brasil numa situação confortável. Isto é falso. Estas reservas podem se reduzir a pó num piscar de olhos. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, “os estoques de investimentos estrangeiros especulativos no Brasil equivalem hoje a cerca de três vezes o tamanho das reservas em dólares no BC, segundo os últimos dados (…). O superávit comercial que o Brasil tinha, antes da crise, cobria o déficit da balança de pagamentos (remessa de lucros, dividendos), que já alcançou 19,5 bilhões de dólares nos 12 meses acumulados até julho de 2008.

Este déficit da balança de pagamentos é coberto com investimentos estrangeiros no país. Com a crise, vai secar esta fonte. O governo terá que entrar com suas reservas para cobrir o rombo e estas reservas são insuficientes para isto. Na crise de 1998, o governo FHC torrou 70 bilhões de dólares das reservas em poucos dias. Na Rússia de hoje, já se gastou 100 bilhões de dólares de suas reservas para impedir a desvalorização da sua moeda, o rublo (inclusive, a Rússia está ameaçada de quebrar, é a bola da vez).

Queda dos preços das matérias-primas e das empresas já mostra o Brasil imerso na crise
Se a crise nos EUA se expressou em uma bolha especulativa nos imóveis, a bolha brasileira se expressa na supervalorização do preço das commodities, dos minérios, dos alimentos, e das empresas ligadas a esta área – como a Vale, a Petrobras e o agronegócio. Grande parte da produção brasileira é voltada aos produtos primários para a exportação (commodities). O setor representava 45% da indústria em 2006.

Por isso, uma das expressões mais espetaculares da crise no Brasil é a queda da Bolsa de Valores. O valor de mercado das empresas cotadas na Bovespa caiu de 1,4 trilhão de dólares para 934 bilhões de dólares. Quer dizer, perderam 33% do valor. A Vale caiu de 201 bilhões de dólares para 130 bilhões de dólares. A Usiminas teve queda de valor de 53%. A CSN, de 48%, A Gerdau de 44%. A maioria destas empresas produz matérias-primas ou alimentos, revelando a nova relação colonial do Brasil com o mercado mundial.

A queda dos preços dos alimentos no mercado mundial já alcançou 40% com a crise e isto inviabilizará a produção do agronegócio brasileiro em 2009, reduzindo a área plantada.

O comércio desigual entre o Brasil e os países imperialistas
Um estudo da Organização Mundial do Comércio (OMC) revela que “até meados do ano, a alta do preço das commodities estava salvando as exportações brasileiras. Mais da metade da alta das exportações se deveu aos preços e não ao volume. (…) “O Brasil apresenta um dos maiores aumentos das importações frente as principais economias.”

Por isso, os primeiros efeitos da crise no Brasil, provocaram uma queda do saldo comercial. A soma de exportações e importações chegou a 348,6 bilhões de dólares ao ano. Quase triplicou entre 1999 e 2007, aumentando de 97,31 bilhões de dólares para 281,27 bilhões de dólares. O superávit alcançou 46,1 bilhões de dólares em 2006, e caiu para 40 bilhões de dólares em 2007. O de 2008 deverá ser, na conta dos otimistas, de cerca de 25 bilhões de dólares.

A comprovação de que estamos voltando à velha relação colonial se mostra em um estudo do Banco Mundial, que aponta o fato de que o Brasil reduziu seus ganhos com a venda de café entre 1990 e 2002, enquanto o valor das vendas duplicaram nesse período. Isto quer dizer que estaremos vendendo cada vez mais tonelagens de produtos primários por preços cada vez menores, enquanto importamos produtos de alta tecnologia a preço alto.

Os efeitos da crise no Brasil já são muito evidentes, inclusive na produção industrial. Alguns dados a imprensa e o governo estão escondendo: mil trabalhadores já foram demitidos na FIAT de Betim (MG). A indústria automobilística mundial enfrenta a sua maior crise: uma das maiores empresas do mundo, a GM, está falida. No Brasil, o setor é responsável por 22% do PIB industrial brasileiro. Sua crise é a crise da indústria, que vai somar com a crise das siderúrgicas e das mineradoras.

Lula entrega soberania do Brasil às multinacionais e governa para elas
A política do governo Lula tem sido a mesma de todos os governos do mundo: injetou mais de R$ 180 bilhões de dinheiro público para salvar grandes empresas e bancos.

Com a diferença que o governo norte-americano salva “seus” bancos, “suas” transnacionais, enquanto Lula salva as montadoras estrangeiras (GM, norte-americana; Volkswagen, alemã; Fiat, italiana). Elas demitirão trabalhadores em massa para recuperar sua rentabilidade, enquanto o governo lhe dá dinheiro para melhorar o crédito. Por exemplo, estas mesmas montadoras enviaram daqui do Brasil R$ 8 bilhões, de janeiro a julho de 2008, para seus países de origem. Como prêmio, ganharam de Lula R$ 4 bilhões. Lula demonstra assim, que governa para estas empresas e traiu definitivamente o país e seus trabalhadores. Dá dinheiro público para empresas que enviam todo o lucro para o estrangeiro e os trabalhadores, que geraram todo este lucro, recebem como prêmio, a demissão.

A soberania do país está em jogo na crise. Lula está jogando de atacante no time imperialista. Estes não têm nenhum compromisso nem com o Brasil nem com os municípios nem com a população e muito menos com os trabalhadores.

Vamos iniciar uma grande luta para que estas grandes empresas transnacionais, começando pela Vale e pela Petrobras, saiam do controle dos estrangeiros e passem para as mãos do Estado e da classe trabalhadora. Somente desta forma as empresas poderão fazer parte de um plano de desenvolvimento do país, dos municípios, dos trabalhadores e do meio ambiente.

Infelizmente, por tudo isto que vimos dizendo, a crise atingirá com muito peso a China, o Brasil, a Rússia e o restante dos países. O segundo tombo da economia mundial, que aprofundará a recessão mundial (já iniciada nos países imperialistas) se dará com a entrada na crise dos países “emergentes” no próximo período.

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