Desocupação no Pinheirinho Foto RDTEIXEIRA/ Vírus Planetário
Redação

No último dia 22 de janeiro, centenas de manifestantes revisitaram um dos cenários mais emblemáticos da luta por moradia no Brasil: a antiga ocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). Em frente ao terreno que chegou a abrigar 1.800 famílias, ex-moradores da ocupação e ativistas realizaram um ato para marcar os 10 anos da violenta reintegração de posse ocorrida no local. 

O ato contou com a participação de partidos políticos, entidades sindicais, movimento popular e moradores de várias ocupações. A nota de convocação da atividade foi assinada por duas centenas de organizações, ganhando apoios de parlamentares, intelectuais e artistas.

Além de lembrar a violência e a crueldade que marcaram o despejo, denunciar os governantes responsáveis pela ação (Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e Eduardo Cury, prefeito, ambos do PSDB), o ato reafirmou a atualidade da luta por moradia no país e a necessidade de enfrentar a lógica capitalista da desigualdade social.

Alckmin não gosta de pobre

Toninho Ferreira, presidente do PSTU de São José dos Campos, abriu o ato lembrando que os governos e poderosos fizeram de tudo para destruir a organização e a luta dos moradores do Pinheirinho.

“Desde os primeiros dias que a ocupação se formou, as famílias tiveram de enfrentar dificuldades, lutar contra ordens de despejo e ataques”, disse. “Recentemente, vimos Lula dizer que Alckmin é o único tucano que gosta de pobre. Se gostar de pobre for isso, imagina quando ele ficar irritado com os pobres”, criticou. “Nós queremos que esse terreno volte pra mão do povo e que as famílias que sofreram aquela violência tenham reparação por danos morais e materiais”, disse o dirigente.

“Dez anos atrás, a polícia do governador Alckmin passou com trator por cima da casa das pessoas alegando que esse terreno teria uma destinação mais nobre. São dez anos desse terreno virando mato. É dessa forma que se acumulam as fortunas dessa sociedade. O Naji Nahas está muito mais rico hoje do que era naquele momento. Uma riqueza que se constrói com a destruição de tudo aquilo que a classe trabalhadora tem”, destacou Zé Maria, presidente nacional do PSTU, em sua fala durante o ato.

Ocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos, foi exemplo de organização

Ameaças de despejos

Moradores de ocupações no estado de São Paulo estiveram presentes na mobilização. Vanessa Mendonça, moradora da ocupação dos Queixadas, organizada pelo Movimento Luta Popular, destacou a importância do Pinheirinho como exemplo de luta e resistência, principalmente no momento em que milhares de famílias estão sob ameaça de despejo no país.

“Milhares de famílias estão ameaçadas de despejo a partir do dia 31 de março”, alertou. A data citada diz respeito ao prazo de validade da decisão do STF que proíbe despejos no Brasil durante a pandemia. Segundo a Campanha Despejo Zero, no estado de São Paulo, são mais de 36 mil famílias ameaçadas.

 “Se existe despejo e desocupação violenta, é porque existe capitalismo. Se existem miséria e pobreza, é por conta desse sistema. A única forma de acabar com a pobreza, de garantir terra, reforma agrária e teto é construindo uma sociedade mais justa e igualitária, uma sociedade socialista”, defendeu Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José e região.

Luta contra  déficit habitacional

Uma lição de luta, organização e resistência

Ao Opinião Socialista, Toninho Ferreira, que foi liderança na ocupação desde o início, falou sobre o significado da ocupação do Pinheirinho e porque dez anos depois sua história ainda é referência.

Segundo Toninho, todos os governos foram incapazes de resolver o problema do déficit habitacional. “No Brasil, vimos cidades serem formadas para favorecer os mais ricos, que moram nas regiões mais urbanizadas, enquanto o povo pobre é empurrado para as periferias. Uma lógica de desigualdade e exclusão”, disse. “Apesar de a moradia ser uma reivindicação democrática, os governos não querem resolver essa demanda, porque estão a serviço dos super-ricos. O Pinheirinho foi um desafio a essa lógica”, afirmou.

“O Pinheirinho deixou uma lição que os poderosos não conseguem apagar. Na ocupação não tinha secretaria de habitação, mas as famílias fizeram casas. Não tinha secretário de obras, mas tinha ruas e praças planejadas. A gente fazia luta por reivindicações do povo e questões gerais do país. Sem recursos, as famílias fizeram um bairro existir e funcionar por oito anos, provando que é possível o povo pobre se auto-organizar. É isso que eles não podiam suportar”, disse.

Saiba mais

A desocupação

Na madrugada do dia 22 de janeiro de 2012, apesar de que avançavam as negociações para a regularização da ocupação, os governos Alckmin e Cury montaram um aparato de guerra, com dois mil policiais, helicópteros, cães, cavalos, gás lacrimogênio, balas de borracha e spray de pimenta para despejar 1.800 famílias. A ação foi marcada por violações dos direitos humanos e irregularidades, gerando repercussão internacional. Pelo menos duas mortes resultaram da ação. 

As famílias ficaram desalojadas durante vários meses, mas a luta não parou. A pressão obrigou os governos a garantirem um aluguel social até a entrega de novas casas no conjunto Pinheirinho dos Palmares, na região sudeste de São José, em 2016.