Redação
Há 35 anos, no dia 25 de janeiro de 1987, morreu Nahuel Moreno, dirigente e fundador da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT). Em sua trajetória política podemos destacar a sua luta incansável pela construção da Internacional, sua obsessão em construir um partido revolucionário enraizado na classe operária e sua preocupação constante com a elaboração teórica e programática.
Abrindo caminho
Moreno não começou a militar num grande partido. Ao contrário, teve de abrir caminho para o trotskismo no interior do movimento operário argentino. A luta pela implantação na classe operária sempre foi uma obsessão, sendo também um traço marcante da corrente internacional construída por ele.
Moreno ingressou no movimento trotskista em 1940 e quatro anos depois participou da fundação do Grupo Operário Marxista (GOM), que em 1947 adotou o nome de Partido Operário Revolucionário.
Nessa época, surgiam as grandes organizações sindicais na Argentina, e Moreno e o POR tiveram um papel destacado nesse processo, colaborando com a fundação de alguns dos mais importantes sindicatos, como a Associação Operária Têxtil e o sindicato do frigorífico Anglo-Ciabasa, o maior do país.
Depois do golpe militar pró-imperialista que derrubou Perón, em 1955, Moreno participou como dirigente do Movimento de Agrupações Operárias (MAO) que incluía as organizações sindicais e políticas clandestinas do peronismo, que combateram a ditadura militar e a derrubaram.
As décadas de 1950 e 1960 estiveram profundamente marcadas pela Revolução Cubana. A guerra de guerrilhas se converteu em estratégia única de toda uma geração da esquerda latino-americana. Moreno participou ativamente desse debate, polemizando com a estratégia de guerrilha e defendendo que o trabalho de organização na classe operária deveria ser o centro da atuação revolucionária.
Na década de 1970, da fusão do PRT (também fundado por Moreno) com uma corrente socialista, surgiu o Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), que teve um importante papel nas lutas operárias e na resistência à ditadura militar. Declarado ilegal e ferozmente perseguido, teve vários de seus militantes presos, torturados e assassinados.
Em 1986, Moreno fundou o Movimento ao Socialismo (MAS), do qual foi o principal dirigente até sua morte em 1987.
A luta pela construção da Internacional
Sua atuação na luta pela reconstrução da IV Internacional teve início em 1948. No mesmo ano, ele participou como delegado do POR do segundo congresso da Internacional e em 1951, do terceiro.
A corrente internacional fundada por Moreno participou ativamente do movimento trotskista internacional. Sua intervenção nos principais debates teóricos e políticos, assim como em distintos processos revolucionários, forneceu as bases para a construção de uma corrente internacional presente em vários países latino-americanos.
Em 1952, como parte da IV Internacional, polemizou com sua direção sobre a Revolução Boliviana. Contrário à política oficial de apoio crítico ao Movimento Nacionalista Revolucionário (um partido burguês), Moreno propôs a palavra de ordem de “Todo poder à COB”. Em 1962, com Hugo Blanco, participou do processo revolucionário peruano e, em 1974, interveio na Revolução Portuguesa.
Nesse período, polemizou com Ernest Mandel, dirigente do Secretariado Unificado, sobre o método do Programa de Transição e o caráter dos partidos. A polêmica foi sintetizada no livro “O Partido e a Revolução”. Esse trabalho influenciou e formou toda uma geração de militantes.
Em 1979, impulsionou a formação da Brigada Simón Bolívar, da qual participaram militantes revolucionários de diversos países latino-americanos, que foram à Nicarágua combater com os sandinistas.
O resultado dessa longa militância, dessa sua longa marcha, foi a LIT. Fundada em janeiro de 1982, a Liga Internacional dos Trabalhadores foi o produto, dentro do trotskismo, da corrente principista de Moreno, construída na classe operária e sempre no marco de uma organização internacional.
Teoria e programa
Como parte da tradição marxista, Moreno manteve uma preocupação constante com a elaboração teórica e programática. Deixou aportes importantes e originais no marxismo como, por exemplo, na interpretação da colonização da América Latina com a obra “Quatro teses sobre a colonização espanhola e portuguesa na América”, em que aplicou a teoria do desenvolvimento desigual e combinado de Trotsky para mostrar como se dava uma colonização inserida no capitalismo com relações pré-capitalistas.
Também foi audacioso e fez uma correção que enriqueceu as “Teses da Revolução Permanente”, de Trotsky. Constatou que as revoluções do pós-Segunda Guerra Mundial não tinham tido nem o proletariado nem um partido revolucionário à sua frente.
Na década de 1980, Moreno elaborou dois documentos, de enorme importância atual, na compreensão dos governos das frentes populares, como “O governo Mitterrand, suas perspectivas e nossa política” e a “A traição da OCI”, em que demonstrou que os governos de colaboração de classes – burgueses, mas com partidos reformistas à sua frente – causam enorme confusão e crise nos partidos revolucionários.
Moreno dizia que não acreditava na inevitabilidade da vitória do socialismo, sempre ressaltando que isso dependeria da luta de classes à qual os revolucionários estão inseridos. “Então, o indispensável é lutar, lutar com raiva para vencer. Porque podemos vencer. Não existe nenhum Deus que tenha determinado que não podemos fazê-lo.”