Redação
O ano de 2021 começa com a explosão nos casos e mortes por COVID-19, indefinição de um programa nacional de vacinação e o fim do auxílio-emergencial, sem que tenha sequer sido substituído por algum complemento inferior como havia se cogitado lá atrás. Resultado: enquanto as UTI’s tendem perigosamente ao colapso nos estados, como no Rio de Janeiro e Amazonas, o desemprego bate recorde, e a pobreza e a miséria avançam sem qualquer perspectiva para o final dessa crise sanitária, social e econômica.
Enquanto isso, Bolsonaro reforça seu negacionismo genocida, continua jogando contra a vacina e propagandeando o tal “tratamento preventivo” à base de cloroquina e ivermectina, num momento em que os governantes mais negacionistas do planeta já começam a imunizar suas populações, como é o caso da Hungria ou do México.
Pandemia avança
O ano terminou com a contabilização de mais de 186 mil mortes pelo novo coronavírus. No momento em que este texto estava sendo escrito, já eram 196 mil. Levantamento da Fiocruz, porém, baseado nos casos de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), indica 253 mil mortes a mais que nos anos anteriores, em números parciais que ainda podem ser revisados para cima. Isso pode ser, porém, apenas a ponta do iceberg dos casos que deixam de entrar para as estatísticas oficiais.
O avanço da segunda onda da pandemia, por sua vez, faz retornarem as dramáticas cenas de câmaras frigoríficas sento utilizadas para comportar corpos, como em Manaus, além das filas para sepultamentos. Espera-se um salto nos casos com as aglomerações nas festas de final de ano, impulsionadas pela negligência por parte dos governos estaduais e pela sabotagem e campanha de Bolsonaro contra as medidas de isolamento social e de uma real prevenção, como o uso de máscaras.
Vacina para todos já
Enquanto os casos de COVID-19 sobem de forma vertiginosa no país, 51 países já aplicavam alguma das 10 vacinas aprovadas para uso, incluindo de países imperialistas a nações mais pobres que o Brasil, como o Chile, Argentina e Costa Rica. E o Brasil, embora seja referência em vacinação em massa, com institutos de renome internacional como o Instituto Butantan e a Fiocruz, continua sem qualquer perspectiva de iniciar a imunização.
O Governo Federal, que se omitiu de forma criminosa na busca por vacinas, apostando numa única opção, a AstraZeneca/Oxford, prova cada vez mais que a ausência de um programa de vacinação não se trata apenas de incompetência, mas sim de uma política. Sequer seringas foram garantidas pelo governo para aplicar a vacina, quando ela vier. Na semana passada, o Ministério da Saúde tentou comprar 331 milhões de unidades, mas só conseguiu 7,9 milhões. Ou seja, se houver vacina, não vai ter seringa para aplicá-las.
Mas ao que parece, não teremos vacinas tão cedo. Pressionado pela disputa com Doria e pela opinião pública, o governo tenta importar 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, a fim de começar a vacinar em janeiro, já que as primeiras doses produzidas pela Fiocruz só deverão ficar prontas no mês que vem. A Anvisa autorizou a importação das doses, mas a Índia, onde está a fábrica da AstraZeneca, vetou a exportação do produto até que os grupos prioritários do país estejam imunizados.
Já o tucano João Doria, que vinha tentando polarizar com o negacionismo de Bolsonaro em relação à vacina, se desmoralizou ao anunciar medidas de restrição no estado durante as festas de final de ano, para tão logo tomar um avião para Miami. A CoronaVac, que o estado produz em parceria com a chinesa SinoVac, por sua vez, padece da falta de transparência dos resultados de sua 3ª fase de testes, reiteradamente prorrogada pelo governo ou pela farmacêutica.
O secretário de Educação de Doria, Rossieli Santos, por exemplo, anunciou a volta obrigatória das aulas presenciais em todo o estado para 1º de fevereiro, mostrando que a pretensa preocupação com a saúde da população é mero discurso fake e eleitoreiro. O anúncio do retorno das aulas, aliás, acontece no mesmo dia em que o primeiro-ministro Boris Jonhson decreta lockdown no Reino Unido, incluindo o fechamento das escolas, por conta da nova cepa do coronavírus, mais transmissível e que já foi localizada no estado de São Paulo.
No meio de toda essa indefinição que cerca o imbróglio das vacinas, a única certeza é que, a depender do governo Bolsonaro, a população, sobretudo os trabalhadores e a população mais pobre, continuarão morrendo, mas desta vez não pela COVID-19, mas pela falta de vacinas.
Pela retomada do auxílio-emergencial
A partir de janeiro, 67 milhões de brasileiros que dependiam do auxílio-emergencial no início da pandemia estão à míngua, sem fonte de renda e em meio à escalada exponencial da pandemia. Sem o auxílio, a pobreza, a miséria e a fome que foram represadas em 2020 com a medida tendem a explodir com toda a força, assim como o desemprego. Estimativas da FGV apontam que, com o fim do auxílio, a fome pode atingir 10% da população. Da mesma forma, a extrema-pobreza em que se encontravam 7% antes da pandemia, superará os 10%. E a pobreza, que era de 25%, vai subir para 30%.
O programa do governo para a crise é mais ataques aos direitos e aos salários, entregar o que resta do patrimônio público ao imperialismo e avançar na destruição do meio ambiente. Os empresários, por sua vez, pressionam pela prorrogação da redução dos salários dos trabalhadores. Os planos privados de saúde já buscam alternativas para importar vacinas e venderem a quem possa comprá-las. Os ricos querem se vacinar e deixar os pobres morrerem.
Em meio a essa verdadeira crise humanitária, partidos como o PT e o PSOL estão absorvidos no debate sobre apoiar o candidato de Rodrigo Maia (DEM) à presidência da Câmara dos Deputados. As organizações da classe trabalhadora precisam chamar a mobilização e a unificação das lutas, em defesa da vacinação para todos já, pela retomada do auxílio-emergencial enquanto durar a pandemia, e em defesa dos empregos, dos salários e dos direitos.
É preciso lutar pelo Fora Bolsonaro e Mourão, pois enquanto este governo e sua corja estiverem no poder, nada vai mudar. Nessa luta em defesa da vida e contra os ataques do governo, é preciso avançar na auto-organização da classe trabalhadora e do povo pobre.
LEIA MAIS
O mundo nas mãos de meia dúzia de grandes farmacêuticas