Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU
Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU
Introdução
Artigo 1 | Covid-19 na África: uma bomba-relógio um terreno minado
Artigo 2 | Uma bomba prestes a explodir, do Norte ao Sul da África
Artigo 3 | Governos africanos e prevenção da Covid-19: hipocrisia e irresponsabilidade
O rápido aumento de casos confirmados de Covid-19 que vimos na África, na última semana, a dinâmica que a pandemia terá, e as possíveis consequências em termos de vidas humanas, têm que ser analisadas de um ponto de vista um tanto diferente daquele que vemos acerca da lamentável situação de países como a Itália e a Espanha, ou mesmo o que aconteceu na China, no pico do contágio.
Para começar, falar da África é falar de um continente há muito tempo debilitado por problemas de saúde que são sintomas dos muitos males que, no decorrer dos séculos, foram alimentados por níveis absurdos de exploração capitalista. Males que afetam profundamente a forma como o vírus irá se comportar no continente. Em todos os sentidos: das formas de transmissão aos “grupos de risco” e setores da população mais vulneráveis, passando pelas políticas de contenção e condições de tratamento.
Para se ter uma ideia do atual “estado de saúde” do continente onde a Covid-19 está ganhando força e como isto pode incidir numa dinâmica completamente distinta no que se refere à pandemia (na medida que o coronavírus interaja com estas enfermidades), basta um dado da Organização Mundial de Saúde (OMS): no mundo inteiro, “na Africa Subsaariana, quase 62% das mortes são resultado de doenças transmissíveis, problemas nutricionais e problemas perinatais/maternos; em comparação, a taxa global de mortes por essas causas é de cerca de 23% e na América do Norte é de apenas 6%”.
O impacto que essas questões podem ter sobre a dinâmica da pandemia pode ser exemplificado por um estudo feito por uma organização norte-americana chamada Rand Corporation, que chegou à conclusão que, em 2016, dentre os 25 países do mundo mais suscetíveis à explosão de epidemias, 22 estavam no continente africano (os outros três eram o Afeganistão, o Iêmen e o Haiti).
Como exemplo das cruéis contradições que caracterizam a história da África, segundo alguns especialistas, um dos únicos fatores “positivos” que podem auxiliar na contenção da pandemia resultam dos graves e recorrentes problemas de saúde enfrentados no continente, a começar pela longa experiência em controlar doenças altamente infecciosas e potencialmente letais.
Além disso, muitos têm apostado na hipótese de que, ao não ter, ainda, atingido o continente com a mesma força que em outros continentes, a pandemia possa ser enfrentada de uma forma mais eficiente, permitindo que governos, a própria população, organizações não-governamentais e entidades dos movimentos sociais tomem providências mais adequadas. Uma hipótese que, pelo menos no nível governamental, está longe de ser real.
Morre-se muito mais cedo
Quando a Covid-19 começou a se alastrar pelo mundo, por exemplo, não faltou gente na África (nos governos e na imprensa) que usou um argumento no mínimo irritante e hipócrita para defender que o vírus teria um impacto menos letal no continente: a África teria uma “vantagem” em relação aos países já atingidos, pois tem menos idosos, setor onde o vírus demonstra maiores índices de letalidade (algo que, agora, também está sendo relativizado, mundo afora).
A afirmação tomava como base dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) que apontam que apenas 5% da cerca de 1,3 bilhão de pessoas que vivem no continente têm mais de 65 anos, sendo que na África Subsaariana a taxa é ainda menor (3%); enquanto na Itália, por exemplo, a população acima desta idade corresponde a 22% do total. E, como se sabe, é entre os italianos maiores de 60 anos que se encontra a maioria dos casos confirmados (60%) e a maior taxa de mortes (7% dos contaminados, o que representa o dobro da média mundial).
Contudo, celebrar isto como “vantagem” e/ou minimizar os efeitos do vírus dentre os mais jovens é, ao mesmo tempo, um insulto à história de sofrimentos no continente (a principal explicação para o porquê de tão poucos ultrapassarem a casa dos 65 anos).
Por isso mesmo, é um crime fazer prognósticos ou pautar políticas públicas baseadas nesta avaliação, já que é exatamente dentre as crianças e os jovens que existe uma quantidade gigantesca de pessoas mais vulneráveis ao vírus em função de já terem seus organismos debilitados pela desnutrição crônica, por outras doenças (principalmente a AIDS, a malária e a tuberculose) e, acima de tudo, pelos diversos problemas decorrentes do desamparo social que aumentou muitíssimo nas últimas décadas em função da aplicação do receituário neoliberal no continente. Algo particularmente dramático, como veremos, no país que, agora, é o epicentro da pandemia, a África do Sul.
Epidemias em cima de epidemias
Na atual situação, um dos temas que mais tem sido debatido pelos especialistas em saúde e todos que realmente estão preocupados com o impacto da pandemia na África é a forma como a Covid-19 irá interagir com o HIV.
Iremos voltar ao tema quando falarmos especificamente da África do Sul cujos números falam por si sós. Somente no país, que é o epicentro da pandemia da Covid-19, segundo o relatório, com dados de 2018, Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) existem 7,7 milhões de pessoas vivendo com HIV; a cada ano há 240 mil novos casos; somente naquele ano 71 mil pessoas morreram com doenças relacionadas à Aids e, assim como no resto do continente, acreditava-se que quase metade dos (as) portadores (as) não fazem qualquer tipo de tratamento antirretroviral.
Mas, para se ter uma ideia da catástrofe que pode vir à tona no continente, vale checar alguns dados continentais, apresentados no mesmo relatório da UNAIDS. Em 2018, estimava-se que, ao redor do mundo, existiam 37,9 milhões de pessoas vivendo com o HIV (incluindo 1,7 milhão de crianças) e nada menos que 68% delas viviam na África Subsaariana. E, dentro deste grupo, cerca de 20,6 milhões são moradores dos países do Leste e do Sul da África, onde, somente em 2018, foram contabilizados 800 mil novos casos.
Estamos falando de 25,7 milhões de pessoas que, neste exato momento, estão vivendo com HIV nesta parte do continente africano (85% do território), sendo que, ainda segundo a OMS, 49% delas desconhecem sua condição clínica e, consequentemente, não recebem o tratamento antirretroviral (conhecidos aqui, como “coquetéis”), isto quando eles são oferecidos, algo que não é generalizado no continente africano. A título de exemplo, somente nos 25 países da África Central e Ocidental, mais de 4,5 milhões, das 6,5 milhões de pessoas que vivem com HIV na região, continuam sem tratamento.
As mesmas instituições indicam que a relação do HIV com a possibilidade da Covid-19 se espalhar, com consequências fatais dentre os mais jovens (principalmente mulheres) é particularmente concreta nesta região, onde quatro de cada cinco novos casos de infecção envolvem garotas de 15 a 19 anos e as mulheres jovens de 15 a 24 anos têm duas vezes mais probabilidade de estar vivendo com o HIV do que os rapazes.
Na edição de março da conceituada revista “Science”, um artigo chamava a atenção para como a Covid-19 poderia se combinar de forma catastrófica com as doenças que já infestam o continente, principalmente as que afetam o sistema respiratório, como a tuberculose e o HIV, destacando que, no início de março, um comunicado da Academia de Ciências da África do Sul, alertou que “pessoas vivendo com HIV têm oito vezes mais chances de serem hospitalizadas com pneumonia causada pelo vírus da gripe do que a população em geral e três vezes mais probabilidade de morrer em função disto”.
Além do HIV/AIDS outras doenças são crônicas e epidêmicas no continente africano. E, agora, podem estar tendo uma interação fatal com a Covid-19. Uma delas é exemplar da forma desumana que o povo africano e tratado: a malária. Apesar de existirem formas conhecidas de prevenção e cura, esta doença ainda tem uma presença devastadora no continente africano sendo responsável, segundo a OMS, por absurdos 20% de todas mortes registradas entre as crianças. Ainda segundo a entidade, em 2015, houve a notificação de 212 milhões de casos de malária em todo mundo, que resultaram em 429 mil mortes. 90% dos casos e 92% dos mortos eram residentes da África.
A grande preocupação dos especialistas, contudo, é como a Covid-19 tem a ver com as chamadas “infecções do trato respiratório inferior”, principalmente pneumonia, gripe, bronquite e tuberculose. Essas infecções virais ou bacterianas dos pulmões (o órgão geralmente mais atingido pelo coronavírus) são a segunda causa de morte na África Subsaariana, representando cerca de 15% do total de mortes.
Como também, é preciso considerar que, até hoje, há um forte impacto de epidemias mais “localizadas” como o ebola que, entre 2013 e 2016, atingiu os países do Oeste Africano, provocando a morte de 11 mil pessoas e outras 28 mil infectadas, todas elas, hoje, muitíssimo vulneráveis, diante da Covid-19.
Uma rede hospitalar doente
Ao redor do mundo, já está evidente que a única forma de impedir que a Covid-19 provoque um processo de extermínio é a sua contenção através de medidas preventivas que impeçam o rápido contágio. Mas, chega a ser enervante a forma como a imprensa vende a ideia de que esse é o único caminho porque “é impossível que a rede hospitalar absorva a demanda”.
Quando dizem isto, o que esquecem de mencionar é que está impossibilidade foi elevada a um patamar absurdo em função dos ataques neoliberais ao sistema de saúde mundo afora que, literalmente, destruíram o sistema público de saúde da maioria dos países, sucateou o pouco que restou e, ainda, detonou as condições materiais e de trabalho no interior das unidades hospitalares. E tudo isto, hoje, está cobrando um preço altíssimo em termos de vidas humanas, até mesmo no chamado “Primeiro Mundo”.
E a lamentável especificidade da África é que, para além das epidemias mencionadas acima, no campo da saúde, os problemas vão de ponta a ponta. Se a prevenção é difícil pelos muitos motivos que estão sendo apresentados no decorrer destes artigos (inclusive a inércia e irresponsabilidade de muitos governos locais), a possibilidade de tratamento é ainda pior, já que uma característica do continente é ter um sistema hospitalar completamente deficitário.
Nos últimos dias, algumas das cenas que mais impactaram o mundo são as de hospitais italianos apinhados de gente e de caixões se acumulando em saguões. E, aqui, também cabe uma comparação da OMS, para entender o que pode acontecer na África: no país europeu há 41 médicos para cada 10 mil habitantes; em todo o continente africano, esta proporção é de dois médicos para cada 10 mil pessoas.
Sem leitos para tratamento intensivo
Um artigo publicado, em 20 de março, pelo jornal “The Guardian”, traz um diagnóstico perturbador em relação à capacidade da rede de saúde do continente para absorver as demandas provocadas pela pandemia. Na África do Sul, o país com o terceiro maior PIB (Produto Interno Bruto) do continente, depois do Egito e da Nigéria, e que é considerado como o que tem o melhor sistema de saúde pública no continente, existem menos de 1 mil leitos em UTIs, para uma população com cerca de 59 milhões de habitantes, sendo 160 deles em hospitais privados, praticamente inacessíveis para a enorme maioria da população.
No Maláui, país do sudoeste africano, com 17 milhões de habitantes, há apenas 25 leitos de UTIs. No Zimbabué (também no Sudoeste, com cerca de 16 milhões), o principal hospital para doenças infecciosas, localizado na capital, tem apenas um leito.
A capacidade de isolamento e quarentena também é extremamente limitada na maioria dos países. No Sudão do Sul, além de todas complicações inerentes a um conflito que tem devastado o país nos últimos cinco anos, há apenas 24 leitos com condições de isolamento, segundo Dr. Angok Gordon Kuol, indicado pelo governo para administrar a crise.
E o pior é que, também diante desta situação lamentável, a postura da maioria dos governantes é caracterizada pela hipocrisia e pela farsa. Para dar um exemplo, em um artigo publicado pelo The Guardian, o Ministro da Saúde da Somália, Dr Fawziya Abikar, disse que o governo está se preparando para montar um centro de quarentena no aeroporto da capital, Mogadisu, e está aguardando os equipamentos para montar um hospital específico para lidar com a Covid-19.
Uma expectativa, contudo, que é questionada até mesmo por membros da equipe montada para lidar com a pandemia, como o médico Ali Yusuf, que disse: “Nós temos apenas 15 tendas, com uma cama cada, para quarentena e isolamento de casos suspeitos. Nosso hospital pode acomodar somente 100 leitos”.
A já mencionada edição de março da revista “Science”, também chamou a atenção para um ensaio acadêmico sobre unidades de terapia intensiva em países de baixa renda na África Oriental. Publicado em 2015, no “East African Medical Journal” (Revista de Medicina da África Oriental”), o levantamento revelou no Quênia, por exemplo, com 50 milhões de habitantes, há apenas 130 leitos em UTIs e somente cerca de 200 enfermeiras especializadas em tratamento intensivo.
Uma limitação que se repete em muitos países do continente, criando uma situação que fez com que Ifedayo Adetifa, um epidemologista do centro internacional de pesquisa médica KEMRI-Wellcome Trust declarasse: “sem assistência médica universal e sem seguro de saúde, simplesmente não podemos nos dar ao luxo de ter muitos casos de COVID-19 porque não podemos gerenciar os casos mais graves” .
Um alerta que, inclusive, está sintonizado com o aprendizado fundamental que está surgindo no meio de tanto medo, caos e sofrimento: é preciso reestatizar a rede hospitalar e tudo que tenha a ver com a Saúde. Uma tarefa colocada desde já.
O risco para os profissionais de Saúde
Uma reportagem publicada em 20 de março, no portal “NewsDay”, do Zimbabwe, relata as enormes dificuldades que o país –o mesmo onde a ministra responsável por combater a pandemia disse que a Covid-19 é um “castigo de Deus” contra seus inimigos – está tendo com a prevenção e contenção da pandemia, a começar pelo fato de que o presidente Emmerson Mnangagwa só decretou Estado de Calamidade pública depois de uma forte pressão popular. Mas, mesmo assim, relutou em fechar as escolas e universidades (o que só ocorreria depois do dia 24 de março).
Contudo, segundo os especialistas, os maiores problemas ainda estão por vir e certamente virão, já que o país, além de fazer fronteira com a África do Sul, tem um histórico de enormes problemas na rede de Saúde. Segundo o médico e presidente da Associação de Médicos e Odontólogos do Zimbabwe, Johannes Marisa, as unidades de saúde do país podem se transformadas em nada menos que “campos de morte ou centros de contaminação”, com um vírus altamente transmissível como a Covid-19 se espalhando em clínicas ou hospitais pouco capacitados.
Um perigo que, obviamente, afeta os profissionais de saúde: “Se um cuidado extra não for tomado, a equipe médica pode se tornar o pior grupo de pessoas a serem afetadas e isso será uma catástrofe médica em nosso país, pois a disseminação pode ser incendiária, pois a maioria dos pacientes baseia suas esperanças na equipe médica”. E se a Itália serve como exemplo, cabe lembrar que, lá, 9% dos casos de Covid-19 estão entre profissionais de saúde.
Ainda segundo Marisa, a situação pode ser exemplificada pela situação no principal centro de isolamento do país, o Hospital Wilkins, onde “já faltam roupas de proteção para as equipes”, mesmo depois de uma doação feita, há apenas duas semanas, pela OMS.
A situação no país é tão grave que uma semana depois desta entrevista (no dia 24 de março, quando já havia a confirmação de sete casos de Covid -19), os profissionais da saúde zimbabuenses – médicos(as) e enfermeiras(as) – lançaram um ultimato de 24 horas, exigindo que o governo tomasse providências básicas: treinamento adequado para que as/os profissionais da categoria pudessem lidar com a pandemia e o equipamento de proteção individual (EPI) fundamental para que possam exercer seu papel na linha de frente do combate à pandemia.
Além disso, os profissionais também reivindicam condições objetivas para que possam trabalhar, a começar uma ajuda de custo para que possam se locomover e cuidar de suas próprias necessidades básicas, a começar pelas de higiene. A campanha “Sem EPI, sem trabalho; sem ajuda de custo, sem trabalho; sem água, sem trabalho” se alastrou pelo país e diante da recusa do governo em atender as demandas, os hospitais começaram a parar no dia 26 de março, e até o momento em que publicamos esta matéria, a situação ainda não havia sido resolvida.
Ao contrário do que, agora, diz o governo, o que levou os (as) trabalhadores (as) ao movimento não foi um descaso para com a população. Muitíssimo pelo contrário.
O compromisso dos profissionais de saúde com a tarefa que cumprem com uma seriedade rara de ser vista entre os governantes foi enfatizado por Zina Enock Dongo, presidente da entidade que organiza os(as) enfermeiros(as), em uma entrevista à agência de notícias Al Jazeera, em 25 de março: “(…)“Se os enfermeiros atenderem a um paciente com COVID-19 sem uniformes de proteção, eles poderão ser contaminados pelo vírus e, depois, embarcar no transporte público, onde infectarão outros passageiros e a doença se espalhará. Estamos dizendo para nos forneçam material de proteção antes que seja tarde demais”.
Desnecessário reafirmar o que temos repetido no decorrer destes artigos: o Zimbabwe também não é exceção no que diz respeito às condições de trabalho para aqueles e aquelas que estão na linha de frente.
Feridas históricas
Por fim, o continente africano não está infectado apenas com doenças físicas que potencializam a propagação da pandemia. As heranças da história que foram sintetizadas no início, se fazem presente em feridas abertas em quase todos países. E, todas elas, simultaneamente, facilitam a contaminação e dificultam a prevenção e o tratamento.
Seria impossível, por exemplo, listar todos os conflitos armados que estão em curso na África. Há um pouco de tudo: disputas políticas e interétnicas, lutas de resistência às intervenções imperialistas (sempre disfarçadas de “ajuda humanitária”), guerras alimentadas por fundamentalistas (não só islâmicos) e diversos confrontos que são resquícios do processo de descolonização e independência.
Mas, diante da pandemia, todas elas têm algo em comum, para além da enorme quantidade de mortos e feridos: há trincheiras por todos os lados, que podem funcionar como obstáculos para o acesso a enormes parcelas do território, tanto para a prevenção quanto para o tratamento.
E, além disso, há outro terrível subproduto desta situação: uma quantidade impossível de ser definida de refugiados, muitos deles amontoados em acampamentos que rapidamente, a pandemia de Covid-19 pode transformar em um “campo de extermínio”.
Estes refugiados foram obrigados a sair de suas terras natais tanto por questões econômicas quanto militares (ou, ainda, políticas, “culturais” e/ou sociais), mas, para se ter uma ideia, da quantidade de gente nesta situação, basta dizer que, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em 2017, somente os conflitos na República Central Africana “produziram” 500 mil refugiados, que se espalharam por toda a região.
Juntem-se a isto processos que ocorreram ou estão em curso principalmente no Sudão do Sul, Nigéria e Burundi e temos, hoje, ainda segundo a ACNUR, nada menos que 18 milhões de refugiados na região da África Subsaariana (26% do total mundial).
Todos os fatores acima dificultam a prevenção e favorecem a propagação da pandemia e, exatamente por isso, sinalizam para a necessidade de um cuidado especial com as condições de tratamento das pessoas que venham a contrair o vírus. E, também, neste sentido, na África, estamos diante da possibilidade de vermos nas próximas semanas cenas ainda mais terríveis do que os horrores que já vimos nos hospitais da China, da Itália e da Espanha.
Introdução
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