PSTU-Teresópolis
O prefeito de Teresópolis, Vinícius Claussen (PSC), foi mais um que resolveu flexibilizar as medidas de controle da pandemia do novo coronavírus, mesmo com o número de casos de contaminação crescente, hoje com 1.120, e com índice de isolamento social abaixo dos 50%¹.
Desde a primeira morte por Covid-19 (14/04), o número chega a 41 de acordo com dados da prefeitura. Mas, de acordo com o Portal de Transparência de Registro Civil, de 16 de março a 16 de junho, tivemos 58 mortes2. Se compararmos o mesmo período com o 2019, o número de mortes por causas respiratórias3, salta de 67 para 140 mortes4. Ou seja, um aumento de 109%.
Segundo o painel do governo do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com a UFRJ5, a taxa de transmissão da Covid no estado é de 1.8 atualmente. Isso quer dizer que, a cada 10 pessoas, mais 18 são infectadas. O “covidímetro” está em alerta vermelho! Para se dizer que a doença está controlada, essa taxa deveria estar abaixo de 16. A taxa de letalidade para o estado do Rio é de 12,41%; de Teresópolis, de 5,82%. O sarampo, que é altamente contagioso, é de 0,2% 7.
A morte atinge aos mais pobres
Uma das mortes que veio a público e chocou a população, foi a da técnica de enfermagem Monique Magalhães, que trabalhou como voluntária na barreira sanitária do Soberbo. Ela gravou áudios denunciando a peregrinação que fez até a UPA e ao Pedrão. A sua morte é emblemática, pois revela a precariedade do atendimento à população que mais necessita de cuidados médicos, que é a parcela mais pobre. Ela não queria privilégio, queria ser atendida com dignidade!
Muito se tem falado que a Covid-19 atinge a todos da mesma forma, independentemente da classe social, o que não é verdade. As maiores possibilidades de sobreviver à pandemia está restrita aos mais ricos, que podem pagar por um bom plano de saúde e fazer a quarentena. Há comunidades em Teresópolis em que o isolamento social não aconteceu, porque parte de seus moradores ou foram classificados como “trabalhador/a essencial” pelos decretos do prefeito, ou foram obrigados a procurar qualquer trabalho para levar comida para casa. Não é coincidência que o bairro mais populoso da cidade, São Pedro, onde se concentra uma grande maioria dos mais necessitados, esteja em segundo lugar no número de casos, mas é o primeiro em mortes. E isso pode aumentar!
Apesar de todos esses fatos, a cidade parece voltar ao normal com ruas cheias e aglomerações nas calçadas das principais lojas da cidade, inclusive com a liberação de culto nas igrejas. Essa abertura “antecipada” pode também contribuir para um retorno “forçado” de outras categorias com alto risco de contaminação, como os trabalhadores da educação.
A quem serve a flexibilização?
As “parcerias” feitas na elaboração do plano retomada da economia ratificam a quem, de fato, interessa a flexibilização: aos grandes empresários da cidade. Os sindicatos participantes são patronais. Tudo isso bem claro no site da prefeitura. Destacamos que, além de prefeito, Vinícius Claussen também é empresário e parece administrar a prefeitura como se fosse seu próprio negócio.
Assim como Witzel, Claussen fez a população crer, inicialmente, na rigidez das medidas de isolamento, a fim de se diferenciar da ala negacionista de Bolsonaro, afirmando que as medidas de controle seriam tomadas com base científica. O tal plano mostra justamente o contrário, pois não tem a assinatura de qualquer organização sanitária ou de saúde, ou universidade brasileira que participe de pesquisas sobre o coronavírus para orientá-lo. A preocupação com a perda dos lucros desses empresários falou mais alto.
A opção política feita pelo prefeito confirma que não se pode governar para todos. Ele escolhe defender a burguesia da cidade, que demite e explora os trabalhadores. Dentro do capitalismo, governar para todos é impossível. Para abrir os shoppings, restaurantes, bares, centros comerciais, ele coloca em risco a saúde dos mais explorados, daqueles e daquelas que precisam usar transporte público, expondo-se muito mais do que antes, podendo levar o vírus para dentro de suas casas e contaminar suas famílias. Para os ricos empresários, tanto faz quantos trabalhadores morram, pois há uma legião de desempregados para substituí-los.
Só a luta poderá garantir a quarentena, estabilidade no emprego, garantia de salários e direitos
Ainda não há vacina para se combater o coronavírus. Segundo a OMS, os testes em massa são primordiais para o controle da pandemia. A política genocida do governo Bolsonaro já mostra que essa medida não será adotada pelo Ministério da Saúde, e, apesar da autonomia dos municípios, isso não deverá acontecer em Teresópolis. Sendo assim, a medida mais eficaz ainda é a manutenção do isolamento social, com medidas rígidas, como o lockdown.
Mas não podemos ter ilusão de que os governos serão sensíveis e farão isso por nós. Somente em uma sociedade socialista, em que o Estado garanta saúde, trabalho e sustento, existirá essa possibilidade. Qualquer medida que possa surgir agora, como benfeitoria para a população é, na verdade, reforma dentro do sistema capitalista. A distribuição de cestas básicas, por exemplo, atende a uma necessidade emergencial. Mas o ideal seria que ninguém passasse fome e precisasse dela.
Apesar das limitações da pandemia, urge que os trabalhadores e os mais pobres se organizem nos sindicatos, nas associações de moradores, nos movimentos sociais, nos bairros, nas favelas e lutem por suas vidas, com exigências que ultrapassem os limites da cidade. Elas devem chegar ao governo federal, porque as medidas aprovadas para a garantia de emprego nada mais foram do que uma autorização para os grandes empresários demitirem trabalhadores e reduzirem salários. Bolsonaro transferiu bilhões para socorrer os banco, assim, reafirma que os mais pobres e os pequenos empresários não são prioridade. E o ministro da economia Paulo Guedes chegou a confirmar: “Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias”
Já são mais de 1 milhão de desempregados durante a pandemia8, e essa taxa pode ultrapassar 14% ao final de 20209. Os/as que necessitam do parco auxílio emergencial aglomeram-se nas filas da Caixa Econômica e não conseguirão se sustentar com o auxílio de 600 reais, que está, às vésperas, de ser reduzido ou acabar de vez. A fome já bate à porta de muitos que já não têm mais a quem recorrer, pois o desemprego toma conta de suas famílias. É uma política vem de cima para oprimir os mais pobres, seja ela de Claussen ou de Bolsonaro.
Para garantir a quarentena geral e renda, falta que atingem também os trabalhadores/as Teresópolis, enfim, para ter o direito à vida, é necessária uma luta unificada para pressionar não só o prefeito Vinícius Claussen, mas também o presidente Bolsonaro. Para além da luta local, é urgente que se fortaleça o fora Bolsonaro e Mourão nacionalmente, pois esse governo usa os holofotes voltados à pandemia para “passar a boiada” e retirar mais direitos dos trabalhadores. Eles querem nos matar de duas formas: ou de Covid-19 ou de fome! E não podemos mais permitir isso! Basta!
Pela direito à quarentena!
Por testes em massa para a população!
Por atendimento digno nas unidades de saúde!
Pela garantia de renda aos desempregados, aos mais pobres, pequenos comerciantes e agricultores! Pela ampliação e aumento do valor do auxílio emergencial!
Por investimento de recursos para a construção de hospital público em Teresópolis!
¹ Dados do Portal Covid-19 da prefeitura de Teresópolis no dia 15/06/2020.
² Causa de mortes pesquisadas no portal https://transparencia.registrocivil.org.br/especial-covid: SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave); pneumonia, insuficiência respiratória, causas indeterminadas ligadas a doenças respiratórias não conclusivas.
³ Óbitos registrados com suspeita ou confirmação de COVID-19.
4 Estão incluídas as mortes por Covid-19 nesse total.
5 Dados do site https://dadoscovid19.cos.ufrj.br/
7 Percentual divulgado pela OMS