Praça Portugal, Fortaleza, 10h da manhã de 18 de abril. Passeatas e ônibus fretados vindos dos mais diferentes canteiros de obra despejam operários da construção civil no coração de um dos bairros mais nobres da cidade.

A chuva agora fina, que acompanhou a paralisação desde cedo, em vez de atrapalhar, alivia o clima. Enquanto diretores do sindicato e trabalhadores se revezam no microfone, tiros são disparados para o alto pela Polícia Militar. Mas ninguém corre. O que se vê é um grupo de trabalhadores avançando para cima de uma viatura. O motivo? Um trabalhador havia sido detido por policiais ao reagir a uma provocação de um motorista que tentara atropelá-lo. Pedras voam até que o operário seja solto e, como se o time do coração tivesse marcado um golaço, um grito de guerra ecoa pela praça: “Ão, ão, ão, tsunami de peão”.

Rapidamente o batalhão de choque se organiza e, antes que avance, um trabalhador se aproxima do comandante e se apresenta. É Franklin, escrivão da PM e ex-servente de obra. Desde as 7h, Franklin esteve nos piquetes de greve e acompanhou a mobilização como se servente nunca tivesse deixado de ser. E, quando as coisas pareciam descambar para uma pancadaria, o escrivão se colocou ao lado do advogado do movimento para negociar com a polícia.

Esclarecido o episódio, a manifestação prosseguiu com a praça ocupada pelos trabalhadores. Quando conversamos com Franklin, ele nos contou sua história e disse o que estava fazendo lá: “Passei fome como operário da construção civil por muito tempo, já fiquei 39 dias sem ver um centavo no meu bolso, pegava dinheiro emprestado para ir trabalhar, ninguém acreditava que era o patrão que não queria me pagar. A luta aqui é justa e se tem algo de certo que alguém pode fazer é apoiar”.

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