Atnágoras Lopes é dirigente da construção civil de Belém (PA) e compõe a Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas. Também representa a central na comissão que reúne as centrais sindicais, o governo e as empreiteiras, composta após a onda de revoltas que se espalharam pelas obras da PAC. O Opinião conversou com Atnágoras logo após o término da reunião de negociação da greve dos trabalhadores da construção em Fortaleza (CE), que tem o seu acompanhamento. O dirigente falou sobre a relação entre esses movimentos e o que está por trás das greves.

Opinião – Como dirigente da construção civil, como você analisa a onda de greves que atingiu os canteiros do PAC e se espalha agora para várias regiões do país?

Atnágoras Lopes – Parte da resposta para essa pergunta pode ser dada pela própria Organização Internacional do Trabalho, que divulgou recentemente um estudo sobre a recuperação econômica mundial. Nesse estudo, ela afirma que, no esforço para pôr fim à recessão da economia, as grandes potências conseguiram manter a produtividade do trabalho nos mesmos níveis observados antes da crise. Mas com uma constatação: o número de empregados caiu drasticamente. Mas bem drasticamente. Então, podemos ver que a recuperação econômica se dá através de um aumento no grau de exploração dos trabalhadores. Essa superexploração é o que explica as greves do PAC e do setor imobiliário em geral. Então, por exemplo, em Salvador tivemos 30 dias de greve, em São Luís do Maranhão foram 20 dias de paralisação. Essas mobilizações ocorrem porque a exploração é maior, os salários continuam baixos e as condições de trabalho são degradantes, a exemplo do que vimos nas obras da hidrelétrica em Jirau.

A comissão convocada pelo governo para tratar da crise no PAC fez sua segunda reunião recentemente. O que foi discutido?

Atnágoras – As mudanças na realidade forçaram o abandono da antiga pauta que seria discutida nessa segunda reunião. Que mudanças foram essas? Ficou-se sabendo da ameaça do desconto dos dias parados dos operários que fizeram greve em Suape e, principalmente, da possibilidade da demissão de seis mil trabalhadores em Jirau. Então, contra a vontade do governo, essa foi a discussão que dominou a reunião. O governo havia convocado a comissão para, segundo afirmava, estabelecer um marco regulatório na execução das obras do PAC, ou seja, das obras com dinheiro público. Mas agora se revela a verdadeira intenção do governo. Não só não querem punir as empreiteiras que impunham uma série de irregularidades aos trabalhadores, como falam agora em “premiar” de alguma forma as empresas que cumprirem a lei. Nós da CSP-Conlutas, ao contrário, defendemos que essas empresas sejam punidas, não premiadas. O pior agora é que o próprio governo assume que é “necessário” demitir trabalhadores, já que os canteiros em Jirau estariam “superlotados”. E, diante disso, as outras centrais simplesmente se omitem. Não dizem nada sobre a ameaça de demissões. Nós repudiamos qualquer demissão e fazemos um chamado às outras centrais para que também se coloquem contra mais esse ataque, mas por enquanto estamos falando sozinhos.

E como se relaciona essa onda de lutas nas obras do PAC e a greve dos trabalhadores em Fortaleza que você está acompanhando neste momento?

Atnágoras – Vemos aqui a mesma disposição de luta e indignação perante as condições de trabalho e os baixos salários. A greve que começou nesse dia 18 continua muito forte e enfrenta a intransigência da patronal. Acabamos de sair de mais uma rodada de negociação com os patrões, mas eles se mantêm intransigentes, apesar do grande crescimento do setor e dos lucros no último período. Então, tanto as revoltas no PAC e as greves da construção civil como um todo fazem parte de um mesmo processo. Com base nisso, estamos organizando para o próximo dia 27, quarta-feira, um grande dia nacional de luta em apoio aos operários do PAC e em solidariedade à greve aqui no Ceará. Vamos convidar todas as centrais, reunir os partidos, e impulsionar uma grande mobilização unitária.

Qual o quadro da greve da construção civil em Fortaleza?
Atnágoras – Aqui os trabalhadores se chocam com um operativo formado pela patronal com a contribuição da mídia local, que está tentando de todas as formas criminalizar o movimento. A imprensa só destaca as ações de infiltrados, rotulando os trabalhadores de “baderneiros”. Essa ação coordenada entre patrões e imprensa ficou ainda mais claro hoje (dia 20), quando o Sinduscon, o sindicato patronal, entrou na Justiça pedindo a abusividade da greve, com base na cobertura distorcida da imprensa. Mas apesar disso nas ruas o que vemos é um grande apoio da população. Quando passamos em passeata muitos aplaudem, jogam papel picado das janelas dos prédios.

E quais são os próximos passos dessa greve?

Atnágoras – Fizemos uma assembleia que reuniu algo como dois mil companheiros, que decidiu pelo fortalecimento da greve e a sua ampliação para toda a área metropolitana de Fortaleza. Assim, os próximos passos são: ampliar e fortalecer a greve e realizar um grande ato unitário para cercar de solidariedade os operários do PAC e a greve de Fortaleza.

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