Podemos afirmar sem medo de errar que Fortaleza é hoje uma das principais capitais da indústria da construção civil do Brasil. A forte tradição do turismo, somada ao crescimento industrial e aos investimentos federal e estadual por ocasião da Copa do Mundo de 2014 fizeram com que a categoria de trabalhadores da construção civil na grande Fortaleza chegasse a quase 35 mil operários.

Muitos trabalhadores e trabalhadoras vindos do interior e até de mesmo de outros estados se dividem entre obras privadas, da prefeitura de Fortaleza e dos governos estadual e federal. Ainda assim, a demanda por mão de obra segue alta, e a forma que os empresários do setor encontraram para atender as necessidades do setor é manter rebaixados os salários para que o trabalhador seja obrigado a esticar a jornada e complementar a renda da família. O piso do profissional hoje é de R$ 800 e, para ultrapassar a barreira dos R$ 1 mil, via de regra o trabalhador se sujeita a metas de produção desumanas e uma quantidade sem fim de horas extras. Já para o servente e o semiprofissional, a situação é ainda pior, com pisos menores. Não bastasse a jornada para lá de puxada, a busca incessante por lucros dos empresários faz com que a terceirização se torne praticamente uma regra em todos os canteiros e, com ela, uma precarização sem fim das condições de trabalho.

“Já foi pior, os novos não sabem, mas foi graças à luta do nosso sindicato que a gente tem o que tem hoje”, conta Seu Antônio, 52 anos, pedreiro de longa data na categoria. “Agora, se deixar, a gente volta para o tempo da escravidão”, completa o operário, chamando a atenção para as intenções dos empresários de impor cada vez mais um ritmo de superexploração.


Na quarta-feira, dia 13, uma assembleia com mais de 1.400 operários aprovou a greve, recusando o reajuste de 7,42% proposto pela patronal e o auxílio-alimentação mensal de R$ 25 que os empresários têm o descaramento de apresentar como uma “espécie de cesta básica”.

“Qual é o peão que vai estar satisfeito com uma cesta básica de R$ 25? Já viu R$ 25 dar de comer a alguém, meu irmão? E eu, um pai de família que tenho dois filhos, como é que vou dar de comer a eles com uma cesta dessa?”, desabafa Alcides, operário que trabalha em uma das obras do governo do estado, o Centro de Eventos. É exatamente esse sentimento de indignação de Alcides que levou a categoria a fazer uma campanha salarial das mais aguerridas dos últimos tempos e a iniciar na segunda-feira, dia 18, mais uma greve no setor.

A patronal, que durante toda a campanha salarial mostrou-se intransigente, deixa claro que nem com a greve na rua pretende negociar. “Isso aí é caso para a polícia”, dizia Roberto Sérgio, presidente do Sinduscon (sindicato patronal), já durante as mesas de negociação. “Isso é coisa da Conlutas e do PSTU. Eu vi o Zé Maria e o tal de Atnágoras lá na reunião com o ministro. Esse pessoal não quer ajudar não. As outras centrais ajudam mas ‘eles’ querem mesmo é a confusão. Que isso aconteça lá no Jirau é uma coisa, mas que não inventem de trazer isso para cá não”, falou o representante da patronal, ignorando que os verdadeiros responsáveis pelo “tsunami de peão” são os próprios empresários.

Quando encerrávamos esta edição, a greve já havia chegado ao terceiro dia. “Acabamos de sair de mais uma rodada de negociações, mas a patronal se mantém intransigente”, informa Atnágoras Lopes da CSP-Conlutas. A greve continua e conta com a disposição de luta da categoria e o apoio da militância da CSP-Conlutas e do PSTU.
Post author
Publication Date