Protesto em São José, capital da Costa Rica (Xinhua/Kent Gilbert)
Juventude do PSTU

Juventude está mobilizada em todo o continente contra os ataques dos governos

Marina Cintra, da Juventude do PSTU

Cada vez mais vemos que a juventude em todo lugar do mundo não tem perspectiva de presente e nem de futuro. Os grandes bancos internacionais, e seus organismos como o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional), jogam a crise nas costas dos trabalhadores e da juventude, através de cortes nos nossos direitos, repressão às nossas lutas e, assim, a vida vai se tornando cada vez mais difícil.

Esses problemas são enfrentados em todas as partes do mundo, assim como no Brasil, que querem aprovar a reforma da Previdência; aprovaram também a reforma do Ensino Médio, que vai piorar cada vez mais a educação pública. O governo Bolsonaro também já ameaçou atacar nosso 13º terceiro e implementar educação à distância desde o Ensino Fundamental, bem como é um governo que defende a ditadura e a repressão a qualquer levante. Esses exemplos de ataques não estão reservados apenas ao Brasil, mas sim a diversos países, como Argentina, que também aplicaram uma reforma parecida com a nossa.

O que estamos vendo, porém, é que todos esses ataques vem sendo respondendo pela juventude, que está protagonizando grandes lutas ao redor do mundo, lutas em defesa da educação pública, contra a repressão, contra toda forma de opressão!

O que está aconteceu por aí?
No México, estudantes secundaristas das escolas técnicas da UNAM (maior universidade pública do México), chamaram uma manifestação por contratação de professores, contra o fechamento de espaços de lazer das escolas e por justiça ao assassinato de uma estudante que foi raptada no caminho da escola e posteriormente encontrada nua e morta na estrada.

A manifestação, que seguia pacífica até a universidade, foi brutalmente reprimida por “bate-paus” mandados pela reitoria e pelo governo. Dezoito pessoas invadiram a manifestação e começaram a agredir os estudantes, sendo que um deles chegou a perder a orelha e outro ficou gravemente ferido, podendo perder até um dos rins. Além disso, vazou um vídeo do reitor da universidade negociando com os “bate-paus” para reprimir a manifestação. A resposta dos estudantes secundaristas foi de paralisar as aulas, o que influenciou outras escolas, e houve grande apoio por parte do restante da população, desencadeando em 200 mil pessoas na rua em defesa dos estudantes.

A repressão é uma resposta comum dos governos em cima das lutas. Nesse ano de 2018, fazem 4 anos de Ayotzinapa, quando 43 estudantes que pegavam ônibus na estrada para ir a uma manifestação na Cidade do México desapareceram. O Estado e o governo mexicano têm culpa no cartório. Ainda estamos lutando por justiça ao desaparecimento dos estudantes. Sigamos na luta!

Na Argentina, os trabalhadores fizeram algumas greve gerais contra as políticas econômicas do governo Macri. Assim como no Brasil, o governo tenta jogar a crise nas costas dos trabalhadores, com demissões em massa, aumento das tarifas, inflação e maior repressão. A juventude começou uma luta junto com os professores por melhorias salariais, mas a luta extrapolou essa pauta, pois o governo Macri estava cortando os ministérios, inclusive o ministério da Ciência e Tecnologia, que influencia diretamente na luta pela educação. Por isso, estudantes ocuparam as universidades e foram para as ruas numa luta radicalizada. Além disso, a juventude secundarista também lutou contra a “Reforma do Ensino Médio”, que troca aulas presenciais do Ensino Médio por estágios não remunerados em empresas!

É importante lembrar também que a Argentina esteve à frente de uma luta importantíssima pela legalização do aborto, e que a juventude foi parte importante desse processo, acontecendo inclusive ocupações de escolas pela pauta.  Vemos que os trabalhadores e a juventude no país estão em ebulição, resistindo à forte repressão do governo Macri, repressão essa inclusive que tem perseguido ativistas, como Sebastián Romero, e que recentemente prendeu Daniel Ruiz, militante petroleiro do PSTU da Argentina, que segue preso. É preciso exigir o fim das perseguições e da repressão aos trabalhadores e a juventude.

Na Costa Rica, a juventude saiu em lutas pela autonomia universitária e, na Nicarágua, a juventude se enfrentou bravamente contra a ditadura de Ortega, construindo comitês nos bairros populares para enfrentar o governo e barricadas nas ruas para enfrentar a repressão. No Chile, a juventude esse ano saiu em luta e houve ocupações pela questão das mulheres, contra os estupros, assédios e o feminicídio. Nesse ano, já foram mais de 25 mulheres assassinadas no país.  Pressionados pela luta, o governo chegou a admitir que não tem medidas efetivas para o combate a mulher, mas segue não fazendo investimentos para realmente sanar o problema.

No Brasil, o próximo governo, de Jair Bolsonaro, já disse ser a favor da tortura e da ditadura, é declaradamente racista, machista e LGBTfóbico. E, se não bastasse isso, quer acabar com os direitos trabalhistas e transformar a educação pública nas escolas em ensino à distância, bem como militarizar as escolas. Desde já, já estamos mostrando que não vamos aceitar isso e estamos nos organizando para estar nas lutas. É preciso que a gente se espelhe nas lutas da juventude da Nicarágua, da Argentina, do México, esse é o espirito que devemos seguir!

Essas lutas não se restringem apenas à América Latina. Vemos que os trabalhadores e a juventude podem explodir a qualquer momento em qualquer parte do mundo. Em maio desse ano, por exemplo, estudantes tiveram em luta em diversas universidades do Senegal, na África, depois da morte de um estudante pelas mãos da polícia. Nas manifestações, houve enfrentamento direto com a polícia.

Estudantes resistem na Nicarágua

Quais são as conclusões que devemos tirar desses processos?
A partir desses processos podemos chegar a algumas conclusões: primeiramente, de que os ataques sempre ocorrem a nível internacional. Não é apenas o governo no Brasil que tira nossos direitos cotidianamente, a política é a mesma para os diversos países, isso porque faz parte dos planos que a burguesia imperialista tem para garantir seus lucros, que atinge especialmente os países “subdesenvolvidos”, como os países da América Latina e da África.

A segunda lição que podemos tirar é que os trabalhadores e a juventude não estão aceitando os ataques tranquilamente. Vendo pela América Latina, nosso continente está em ebulição e as lutas vem se radicalizando cada vez mais e essas lutas irradiam por todo continente. Vimos isso com a luta das mulheres, contra o feminicídio e pela legalização do aborto, que tiveram manifestações por todo continente.

A terceira lição que devemos tirar é que é sempre importante a juventude buscar se aliar com os trabalhadores nas lutas. É dessa forma que a luta se potencializa ao máximo. Foi assim que fizemos no Brasil dia 28 de abril de 2017! A juventude se colocou na Greve Geral contra a reforma da Previdência e é por isso que até agora o governo não conseguiu aprová-la! Esse é um bom exemplo e devemos sempre buscar essa aliança.

A quarta lição que devemos tirar é que a luta da juventude deve ser necessariamente contra o capitalismo. O capitalismo tem uma política muito definida para os jovens: empregos precários, menos investimento em educação pública, desemprego. Se for parte da juventude negra ou indígena, nem sequer direito à vida tem.

Isso prova que nossas lutas devem servir para impulsionar a luta contra o capitalismo, e para isso é preciso nos organizarmos. E só organizados que conseguiremos dar conta da imensidão de coisas que temos pela frente e ir a fundo na derrubada do capitalismo. É preciso construir uma sociedade socialista, que seja governada pelos próprios trabalhadores. Nós não temos nada a perder, apenas um mundo novo a ganhar! Como já diriam os mexicanos após o desaparecimento dos 43 estudantes: “Tentaram nos enterrar, mal sabiam que éramos sementes”.