O governo Dilma não teme um golpe da direita, mas sim que as mobilizações revelem o verdadeiro caráter desse governo

 O fantasma da “onda conservadora” ronda os pensamentos de uma parcela da esquerda brasileira. Estamos falando de alguns intelectuais, jornalistas e dirigentes, a maioria vinculado ao PT e PCdoB que, diante do grito “sem partido” e do risco das mobilizações atuais serem “dirigidas pela direita”, apontam até para a possibilidade de um “golpe” contra o governo Dilma. O alerta foi dado após a grave expulsão da coluna dos partidos e movimentos sociais nas manifestações do último dia 20 por grupos de extrema direita.

 

Os argumentos esgrimidos por aqueles que sustentam a ameaça da “onda conservadora” são os mais variados. O principal deles é o forte sentimento antipartido presente nas manifestações. De fato, partidos de direita, como PSDB e DEM, tentam surfar no sentimento antipartido nas manifestações, mas não para promover um “golpe” e sim para capitalizar o desgaste do governo nas eleições de 2014. Aproveitando-se do repúdio generalizado a todos os políticos marcam presença nas ruas, escondem suas siglas sob a bandeira nacional, e disputam a direção política dos protestos. São aproveitadores da confusão generalizada e recebem um auxilio generoso da grande imprensa, como a Rede Globo. Apostam na despolitização para semear a ideia de que todos os partidos de esquerda são iguais e tentam colocar no mesmo saco de gatos o PT, PSTU, PSOL…

 

Sua tropa de choque é a extrema-direita que realiza o trabalho sujo, atacando brutalmente os ativistas dos movimentos sociais e os militantes da esquerda socialista, arrancam nossas bandeiras vermelhas e tentam nos expulsar dos atos. Seu objetivo é claro. Querem impedir que um campo de oposição de esquerda se afirme enquanto direção do atual processo de lutas.

 

O fato é que o sentimento antipartido presente nas mobilizações expressa um repúdio ao corrupto sistema político da “democracia dos ricos”. Boa parte disso tem a ver com a enorme frustração da população, sobretudo da juventude, com os governos do PT. As pessoas votaram no partido buscando justiça social e o fim da corrupção. Mas em 10 anos de governo de Lula e Dilma, o PT manteve a essência do projeto econômico tucano, se afundou no mar de lama da corrupção e ainda governou ao lado de Renan Calheiros, Collor, Sarney… A traição do PT foi uma tragédia para a esquerda. Produziu uma espécie de terra arrasada, em que nada pode crescer porque impera o ceticismo. Mas nem todos os gatos são pardos. O PSTU se afirmou como oposição de esquerda ao PT desde o primeiro dia de mandato de Lula. Já dizíamos na campanha eleitoral do PT, em 2002, que nada mudaria se não houvesse ruptura com as multinacionais e com o imperialismo. Nosso partido não se guia por interesses eleitorais ou cargos no aparelho de Estado. Somos um partido revolucionário que tem uma estratégia socialista para o Brasil.

A classe média e o PT

Os defensores da tese da “onda conservadora” dizem que as manifestações são realizadas por uma classe média que sempre foi hostil ao governo do PT.

 

Sempre é bom lembrar que a tese de que 40 milhões de pessoas acenderam à classe média foi inventada pelo próprio PT. Segundo o governo, está na classe média quem dispuser de renda per capita entre R$ 291 a R$ 1.019 reais por mês. Essa tese é um verdadeiro absurdo. Ao invés de nova classe média, estamos vivendo um processo complexo de ampliação da classe trabalhadora assalariada, que passou a ter acesso ao consumo pela expansão do crédito. Uma ampliação marcada pela precariedade do trabalho e pelo crescente endividamento.

 

Quem foi para as ruas é a juventude que é parte destes trabalhadores assalariados que surgiram sob o governo do PT. Uma juventude que acreditou na propaganda oficial de “um país mais justo”, mas foi frustrada pela realidade. Nestes 10 anos, os mais jovens entraram no mercado de trabalho e nas universidades. Mas 59% destes empregos são ocupados por quem recebe até 1,5 salário mínimo. São os jovens que recebem os piores salários e os empregos mais precários. A vida para eles é muito dura. São obrigados a enfrentar o caos urbano, dos serviços públicos e a comprometer boa parte de sua renda para pagar mensalidades nas universidades privadas. Estão lá porque, nesses 10 anos de governo, o PT tratou a educação como mercadoria e não como direito. Privilegiou os tubarões do ensino privado em detrimento da expansão do ensino público superior.

 

Estamos diante de um momento extraordinário da vida política do país. O debate político saiu dos tradicionais corredores do poder e tomou as ruas, escolas, universidades, fábricas e locais de moradia e trabalho. As mobilizações dos últimos dias arrancaram conquistas numa velocidade espantosa. Os governos foram obrigados a recuar e revogaram o aumento das tarifas. Muitas outras tarifas públicas foram congeladas, como os pedágios nas estradas de São Paulo. Apavorado com o poder das massas, deputados no Congresso Nacional aprovaram apressadamente a rejeição à PEC 37 e até classificaram a corrupção como crime hediondo. Ironicamente, o projeto foi apresentado pelas mãos de Renan Calheiros, aliado do governo Dilma e símbolo da corrupção nacional.

 

A verdade é que Dilma, a direita, os governos estaduais, municipais e o Congresso Nacional tremem diante da força das ruas. Neste sentido, temer uma “onda conservadora” significa fazer o jogo do governo do PT que anseia pôr um ponto final em todo esse processo de lutas. Dilma não teme uma “onda conservadora”. Teme sim que um tsunami de mobilização abra os olhos de milhões de trabalhadores para o verdadeiro caráter do seu governo.

 

Nada será com antes. O movimento é vitorioso e as massas estão confiantes. Mas é preciso tomar cuidados com as armadilhas e romper algumas limitações. Não podemos aceitar a farsa do plebiscito da reforma política. Essa pauta não surgiu das ruas. Trata-se de uma armadilha de Dilma para canalizar a força das ruas para via morta da institucionalidade. O governo também deseja impor uma agenda que tenta limitar ainda mais a ação dos partidos da esquerda socialista nas eleições burguesas.

 

É preciso avançar na unidade com a classe trabalhadora organizada. A aliança entre operários e estudantes acuaria a burguesia e os governos, proporcionando um novo salto do movimento. Também é preciso avançar na organização coletiva. Em várias cidades, como Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte, já existem comitês ou assembleias de lutas. São elas que transformam a força espontânea das ruas em organização. São espaços democráticos de unidade de ação que possibilitam o movimento sindical, popular e estudantil dirigir as manifestações.

 

Nem direita, nem PT, trabalhadores no poder!
Nas últimas décadas, o PT e o PSDB aplicaram o mesmo plano econômico, mantiveram as privatizações, destinaram o dinheiro da saúde e educação para o pagamento da dívida pública, engordando o bolso dos banqueiros. Precisamos apontar para outro rumo. Precisamos de um governo dos trabalhadores que rompa com as multinacionais e com os banqueiros. Destine o dinheiro do pagamento da dívida pública para saúde, educação, reforma agrária e transporte público de qualidade.

 

O PSTU está nas ruas lutando por um país justo e soberano. No dia 11 de julho, vamos parar o Brasil, em um dia nacional de paralisações chamado pelas centrais sindicais. Vamos levantar nossa bandeira vermelha, a bandeira do socialismo.
 

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