Fotos: Luiz Fernando Nabuco/Aduff SSind
PSTU Rio de Janeiro

Hoje, 14 de março, completam-se cinco anos do brutal assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. No entanto, não se está nem perto de saber quem são os mandantes e quais são suas motivações. A demora nas investigações e nos resultados é justificada pela complexidade do caso e pelo “profissionalismo” dos executantes. Inclusive, os dirigentes do PSOL, partido de Marielle, endossaram esta razão em meio aos vários protestos que denunciavam a demora na resolução do caso. Porém, ainda que os assassinos de Marielle fossem de fato profissionais no ramo das execuções, essa não é a principal causa de tanta demora, mas sim o fato de que as forças que deveriam elucidar o caso estão, em parte, também envolvidas na autoria do crime.

As investigações e levantamentos da imprensa apontam para uma rede complexa e poderosa que envolve a milícia e políticos, incluindo até mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos. Por isso, sempre se perguntou: “Quem mandou o vizinho do Bolsonaro matar Marielle?”.

Quais as ligações políticas, sociais e ideológicas entre a milícia (e especificamente os executantes do assassinato) e o clã Bolsonaro? Em relação aos motivos do crime, o próprio Raul Jungmann, ex-ministro da Segurança Pública do governo de Michel Temer (MDB), afirmou que haveria um “complô”, com “interesses que envolvem agentes públicos, milícias e políticos” que estariam dificultando a resolução do caso. Ou seja, improvável que a motivação do assassinato não tenha sido a luta que Marielle travava contra os grupos paramilitares, as milícias.

Leia também

O que são as milícias?

“Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”

Marielle era uma vereadora do PSOL, ligada à luta por Direitos Humanos e ao combate às milícias. Mulher, negra, lésbica e de origem da Favela da Maré, localizada na periferia do Rio de Janeiro. Seu assassinato chocou e mobilizou milhares, no Rio, no Brasil e até no mundo.

Se hoje os assassinos estão presos, é porque houve muita luta. Por conta de sua execução, mobilizações imensas tomaram as ruas em todo o país.

Hoje, Marielle não é mais só a Marielle. Não à toa o samba da Mangueira de 2019 colocava Marielle no plural. Marielles. Essa mulher virou um símbolo. Símbolo da luta dos setores oprimidos e da periferia. Símbolo da luta contra os poderosos. Símbolo da necessidade de lutar para sobreviver no capitalismo que nos assola.

Ato contra o assassinato de Marielle e Anderson, por prisão dos assassinos e mandantes | Foto: Romerito Pontes

“Na luta é que a gente se encontra!”

Marielle era uma vereadora. Mas, justamente porque Marielle se tornou um símbolo, algo que extrapola sua própria história de vida e luta, é que não devemos minimizar os ensinamentos que podemos tirar de sua existência.

Nossa tarefa não é, portanto, ter mais “Marielles” da forma como Marielle atuava, ou seja, por dentro do parlamento, como o PSOL segue atuando. Queremos mais “Marielles” no parlamento como a voz de defesa das lutas e de denúncia do sistema capitalista. Queremos mais “Marielles” fortalecendo as lutas, mas também combinando essas lutas com a estratégia da revolução socialista, por uma sociedade sem opressores nem oprimidos, sem exploradores e explorados.

É preciso seguir a luta nas ruas e com mobilizações por justiça pelo assassinato de Marielle e Anderson. Não negamos que, em virtude das crises e do descontrole que se instalou nos três poderes da República, e que não estão descoladas da crise econômica e social brasileira, pode haver uma resolução do caso pela justiça burguesa. É por meio da luta que poderemos solucionar os problemas das vidas das “Marielles” que existem em todo o país.

Nesta luta, não podemos dar espaço para o medo. A execução de Marielle nos mostrou que os poderosos não estão de brincadeira. Mas nós também não estamos. A nossa luta e organização pode e deve garantir nossa auto-defesa. Os trabalhadores devem se organizar para resistir aos ataques do Estado, da Polícia Militar (PM), do tráfico e da milícia. Especialmente os trabalhadores, as mulheres, negros e negras e as pessoas LGBT’s devem confiar nas suas próprias forças, contra os racistas, machistas e LGBTfóbicos, e contra as mazelas do capitalismo. Estes setores precisam também se organizar.

Não podemos confiar na justiça, na polícia, nas instituições dessa democracia que é controlada pela burguesia. Seremos nós mesmos que nos defenderemos dos ataques e perseguições. Nós temos força!

Se somos nós que fazemos a roda da história girar, se somos nós que tudo produzimos, somos nós que garantiremos nossas vidas. Se é verdade que, como dito no samba da Mangueira, campeão do carnaval carioca de 2019, “há sangue retinto pisado, atrás do herói emoldurado”, é desse sangue que tiraremos a força para mudar o retrato do país.