Nos Estados Unidos, a seguradora AIG virou motivo de escândalo. Após ser socorrida por três ajudas do governo para escapar da bancarrota, num total de financiamento público que chegou a US$ 180 bilhões, a seguradora distribuiu US$ 165 milhões de bônus a seus executivos. O caso foi estampado na imprensa e vem provocando a fúria da população.

No Brasil, uma empresa alegou dificuldades no final de 2008 para impor mais de 1.300 demissões, rebaixar salários e pressionar a suspensão nos contratos de trabalho. A mineradora privatizada Vale foi uma das primeiras no país a recorrer às demissões em massa justificando para isso os efeitos da crise. Pois bem, agora, sem o alarde da imprensa, a empresa anunciou que vai distribuir R$ 5 bilhões de lucros a seus acionistas em 2009, com base nos lucros do ano passado.

Segundo comunicado da própria empresa, a distribuição dos lucros vai ser a mesma de 2008. A mineradora teria lucrado R$ 21,3 bilhões só no ano passado. A própria empresa afirmou que a crise pegou a companhia com “um caixa saudável de US$ 15 bilhões”. Os pagamentos aos acionistas serão confirmados pela reunião do Conselho Administrativo em abril e deve ocorrer em duas parcelas, no mesmo mês e em outubro.

O anúncio do reparte dos lucros se dá simultaneamente em que a mineradora anuncia o fechamento da terceira mina no quadrilátero ferrífero de Minas. A mina de Água Limpa foi fechada até pelo menos maio e a maioria de seus trabalhadores amarga licença remunerada, de 50% do salário.

Efeito da privatização
Esse caso insólito mostra de forma cruel os efeitos da privatização. Enquanto trabalhadores são mandados para rua, os acionistas têm seus lucros garantidos. O controle da Vale foi vendido em 97, no governo FHC. Na época, o grupo controlado pela CSN, adquiriu a companhia por US$ 3,3 bilhões, quase o total dos lucros distribuídos aos acionistas em 2009.