O mês de julho tem sido amargo para os trabalhadores da mineração da Vale, antiga Companhia Vale do Rio Doce. Enquanto o presidente da empresa faz pronunciamentos do exterior dizendo que quer fazer novas aquisições e transformá-la na maior mineradora do mundo, a Vale anuncia o fim de um direito histórico de seus empregados: a jornada de turno rodízio de seis horas.

A jornada atual foi conquistada com as heróicas greves do final da década de 1980 e se mantém como um dos poucos direitos intocados pela patronal desde a privatização. O turno de seis horas garante, minimamente que, num trabalho desgastante, perigoso e insalubre como o da mineração, os trabalhadores consigam algum tipo de bem-estar e tenham tempo livre fora das minas.

O aumento da jornada de trabalho para oito horas significa mais acidentes, mais afastados por doença e o aumento de uma praga que vem destruindo a saúde do trabalhador mineiro: a depressão. Fora isso, a real intenção da empresa é realizar uma demissão em massa após a consolidação da nova jornada.

“O objetivo da Vale é reduzir cada vez mais os custos de sua mão-de-obra e garantir o aumento do lucro. Aumentar a jornada é apenas o primeiro passo, o segundo são as demissões e o terceiro é a instituição do banco de horas”, diz Valério Vieira, presidente do Sindicato Metabase Inconfidentes, que representa os trabalhadores da Vale das Minas de Fábrica (em Congonhas) e de Timbopeba (em Ouro Preto). O Sindicato é filiado à Conlutas.

O ataque é também ao direito de organização independente dos trabalhadores. Os supervisores da empresa anunciaram nas reuniões de Discurso Diário de Segurança (DDS) que não negociarão a alteração com os sindicatos e não compareceram à mesa redonda junto ao Ministério do Trabalho. Apesar do acordo coletivo que regulamenta o turno de seis horas estar em vigor, a empresa pretende impor, assim mesmo, o novo turno.

“A ação da Vale é de puro desrespeito com os sindicatos. Nenhum aviso nos foi dado. Será que a empresa pensa que está na China? Que não temos sindicato?”, diz Wilson Fernandes, diretor do Sindicato Metabase, trabalhador da Mina de Fábrica e candidato a vereador em Congonhas pelo PSTU.

Uma assembléia geral já está convocada para discutir um plano de ação contra o ataque da empresa. Os trabalhadores não descartam a possibilidade de greve.

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