Denise Mega, de Salvador (BA)

Denise Mega, de Salvador (BA)

No último dia 16 de julho, em meio a negociações e a compra descarada de votos no Congresso Nacional, buscando a aprovação da reforma da Previdência, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou que o MEC interveio na Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) e cancelou o edital que abria vagas para pessoas trans. Uma ação absurdamente transfóbica e que demonstra mais uma vez que as leis não protegem a classe explorada e oprimida dos ataques desse ou de qualquer outro governo.

A Constituição prevê a autonomia das universidades públicas e isso não impediu Bolsonaro e Mourão de intervirem contra o que parecia pétreo. O STF equiparou a LGBTfobia com o crime de injúria racial. Uma grande vitória! Mas que não garante segurança à vida das LGBTs.

Esse governo valida o assassinato de jovens negros pela polícia e pelo Exército diariamente. Esse governo permite o massacre de indígenas e quilombolas, atando as mãos das instituições públicas que tinham como função defendê-los. Esse governo pretende jogar milhares de brasileiros na miséria quando (e se) chegar a hora da aposentadoria. Esse governo afirmou: “só não te estupro, porque você não merece“. Agora esse governo declarou que o MEC interveio em uma universidade pública, contrariando a Constituição, para cancelar um concurso que beneficiava a entrada de pessoas trans nas universidades.

Levantamento feito pela Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil) e publicado em maio deste ano mostra que apenas 0,2% dos estudantes de graduação das universidades se identificam como trans. Ser trans no Brasil significa morar no país que mais mata LGBTs no mundo e ter uma expectativa de vida de 35 anos. Significa ter tido seu acesso às instituições de ensino impedido, devido ao preconceito. Significa ser marginalizado e estar exposto diariamente a todo tipo de violência, podendo ser morta a pauladas no meio da rua, ser estuprada, mutilada, ter o coração ou os órgão genitais arrancados. Significa estar exposto ao descaso e à violência policial do Estado.

Ter algumas vagas reservadas para a população trans é o mínimo que se espera para iniciar o combate ao preconceito e compensar minimamente as condições de vida  à que as pessoas trans estão submetidas.

Esse governo é inimigo das LGBTs, das mulheres, do povo negro, dos indígenas e quilombolas. Por isso, é mais que necessário derrotá-lo. A cada dia que Bolsonaro e Mourão estão no poder, a população sofre mais ataques. Esse não é só um governo que não fará nada em defesa das LGBTs, esse é um governo que vai atacar e ameaçar nossa segurança todos os dias. É um governo capaz de se mobilizar para cancelar até mesmo as nossas menores conquistas. Precisamos nos organizar e combatê-lo nas ruas!

Este ano, a revolta de Stonewall completa 50 anos. No ano de 1969, travestis, gays, lésbicas e toda a comunidade LGBT, cansada das batidas policiais e da violência que sofriam todos os dias, tomaram as ruas e expulsaram seus opressores à pedradas. Foram 6 dias de guerra campal, com as travestis à frente da luta! Precisamos reviver esse espírito e tomar as ruas para lutar por nossos direitos e derrotar Bolsonaro e Mourão já!

Mas não podemos nos iludir. Entra governo e sai governo e nós LGBTs continuamos enfrentando o preconceito e a violência. Dilma (PT), quando esteve no lugar que Bolsonaro hoje ocupa, também barganhou nossos direitos. Não esquecemos nunca que ela suspendeu o Kit Anti-homofobia nas escolas, em negociação com a bancada evangélica no congresso que pretendia convocar o então Ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, para que ele explicasse sua evolução patrimonial. Na ocasião, Dilma foi inclusive elogiada por Bolsonaro, quando esse ainda era deputado federal.

Isso acontece porque vivemos num sistema cruel que se aproveita das opressões para lucrar mais e mais. Dessa forma, negociam nossos direitos, nos oprimem e nos exploram. O machismo, o racismo e a LGBTfobia não vão acabar enquanto não acabarmos com o capitalismo!

Por isso, a luta contra a LGBTfobia e toda forma de opressão é uma luta de todos os trabalhadores e trabalhadoras! Seguimos em frente lutando para que não haja nenhum direito a menos! Ninguém volta para o armário! Caminhamos juntos (as) contra a exploração e a opressão, combatendo toda violência LGBTfóbica, construindo uma sociedade justa e igualitária, que respeite as diferenças e não faça delas desigualdades. Por uma sociedade socialista, dos trabalhadores, apoiada por conselhos populares!