Jeferson Choma, da redação

Pense nas primeiras gerações de seres humanos que caminhavam pela Terra e tiveram suas noites escuras quase exclusivamente iluminadas pela Lua. Nos primórdios da humanidade, a luz do luar era garantia de noites seguras contra predadores e também proporcionava boas caçadas.

Naqueles tempos, a Lua, assim como outros corpos celestes, era reverenciada. Essa fascinação rendeu muitos mitos e lendas. Na mitologia tupi-guarani, por exemplo, a Lua é chamada de Ya-Ci, uma deusa-guardiã da noite que protege os amantes. Um de seus papéis é despertar a saudade no coração dos guerreiros e caçadores, apressando a volta para suas esposas.

Esses mitos, pelos quais devemos ter o maior respeito, povoaram a imaginação das mais de 40 mil gerações de seres humanos que passaram pela Terra. Sob essa perspectiva, as primeiras viagens à Lua, iniciadas há 50 anos, ou seja, há apenas três gerações, são uma verdadeira façanha da nossa espécie. Mas poderíamos ter ido mais longe neste meio século se não fosse a permanência do sistema capitalista.

Corrida espacial
Em 16 de julho de 1969, a nave espacial Apollo 11 partiu do Cabo Canaveral. A bordo estavam os astronautas Neil Armstrong, Edward “Buzz” Aldrin e Michael Collins. Após atravessar os 386 mil quilômetros que nos separam da Lua, os dois primeiros desceram rumo à superfície no Módulo Lunar no dia 20 de julho. Ao todo, 12 pessoas caminharam sobre a Lua entre 1969 a 1972. Todos homens, brancos e norte-americanos.

Apollo 11 parte rumo à Lua no dia 16 de julho de 1969

Isso nos diz muito sobre a nossa sociedade e as motivações que levaram os primeiros seres humanos a caminharem pela Lua. A chegada do homem ao nosso satélite foi motivada pela intensa polarização entre Estados Unidos e União Soviética.

Feitos soviéticos
O imperialismo norte-americano investiu alto para superar a URSS na chamada “corrida espacial”. Uma corrida, entretanto, extremamente desigual. Como potência capitalista hegemônica, os EUA tinham a seu dispor todo o parque produtivo do planeta. Já a URSS havia superado há pouco o enorme atraso econômico e científico e, mesmo assim, logrou incríveis feitos.

Em 1957, os soviéticos colocaram em órbita o primeiro satélite da humanidade, o Sputnik. A URSS também foi o primeiro país a atingir a Lua com sondas não tripuladas em 1959. Em 1961, realizou um feito ainda mais notável quando o cosmonauta Iuri Gagarin, o primeiro ser humano a viajar ao espaço, proclamou: “a Terra é azul”. Feitos admiráveis para um país que, quatro décadas antes, tinha cerca de 90% da população analfabeta.

O soviético Gagarin, o primeiro ser humano a atingir o espaço

Contudo, o maior obstáculo ao programa espacial soviético e suas pesquisas científicas foi a existência de uma ditadura burocrática que tolheu o livre desenvolvimento do pensamento, impôs um planejamento burocrático à economia e manteve o país isolado, impedindo o desenvolvimento da revolução socialista. Apesar dessas limitações, a URSS foi pioneira na conquista do espaço, o que sugere, apesar de todos os problemas mencionados, a superioridade da economia planificada, livre das amarras do capitalismo.

CIÊNCIA E CAPITALISMO
O desenvolvimento das forças destrutivas

O fim do programa Apollo e a ingerência militar cada vez maior na Nasa (Agência Espacial dos EUA) fizeram ruir as ilusões de que a conquista da Lua fosse o primeiro passo para que humanidade pudesse viajar pelo Cosmos. Como se não bastasse, as políticas neoliberais dos anos seguintes resultaram em cortes de verbas à agência. Nos anos 1970, o orçamento da Nasa chegou a 4% do total para aproximadamente 0,6%. Só para comparar, em 2018 a agência recebeu do governo dos EUA aproximadamente US$ 21 bilhões. Parece muito dinheiro, não é? Ledo engano. No mesmo ano, o orçamento para despesas militares no país foi de mais de US$ 700 bilhões.

Cinquenta anos após ir à Lua, o capitalismo mostra claramente o retrocesso nas áreas da pesquisa espacial. Isso ocorreu porque nesse sistema a pesquisa científica a serviço do bem-estar do ser humano é deixada de lado pelo desenvolvimento das forças destrutivas.

Trump, o obscuro
Programas espaciais se tornaram instrumentos para populismo eleitoral. Uma comprovação é a declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, que ordenou um novo programa espacial para levar astronautas à Lua e, possivelmente, Marte. A motivação é eleitoral. A campanha para a reeleição de Trump vai mal, e sua rejeição não para de crescer. O ex-presidente norte-americano, George W. Bush, fez a mesma promessa em 2012. Portanto, não há motivos para acreditar nas mentiras de Trump, o Obscuro, que nega a realidade do aquecimento global e defende o criminoso movimento antivacina. Sob o capitalismo, só a barbárie é que avança.

SAIBA MAIS
As origens da Lua

A prioridade do programa Apollo sempre foi política e militar. Era uma oportunidade para o desenvolvimento de foguetes e mísseis, mas também para servir como peça de propaganda contra a URSS. O efeito indireto foi o desenvolvimento tecnológico, como a comunicação via satélite, o desenvolvimento de computadores, a observação das condições meteorológicas, entre outros.

A viagem à Lua também possibilitou que soubéssemos um pouco mais sobre sua origem, a da Terra e do nosso sistema solar. A partir de estudos sobre amostras do solo lunar coletadas pelas missões Apollo, a hipótese mais aceita pelos cientistas é de que a Lua teve origem nos primórdios do sistema solar, há 4,5 bilhões de anos, sendo formada a partir dos detritos de um impacto de proporções gigantescas entre a Terra e outro planeta do tamanho de Marte, chamado Theia.

Representação da “teoria do impacto”

Também sabemos que a Lua teve um papel essencial na estabilidade climática do planeta, o que possibilitou o desenvolvimento da vida tal como conhecemos hoje. Isso ocorre em função da força gravitacional que impede a oscilação aleatória da Terra, ou seja, que o planeta orbite de forma desordenada em torno do Sol. Sem a Lua, é muito provável que nenhum ser humano pudesse caminhar algum dia pela Terra.