PSTU-Campinas

Há 30 dias, os operários e operárias da empresa MRV estão parados exigindo um aumento do PLR (Participação nos Lucros e Resultados). A proposta da empresa é um PLR de miséria, que varia de 30 a 390 reais submetido a metas. A greve está muito forte e os trabalhadores mostram muita disposição de luta. Mesmo diante da intransigência da empresa bilionária que não quer ceder, os trabalhadores mantêm os piquetes e assembleias diárias sem perder o ânimo e a energia.

MRV: lucrando com a superexploração

A MRV é hoje uma das maiores construtoras do Brasil, a maior construtora de imóveis da América Latina, e tem batido recordes de lucratividade e vendas. Mesmo com a pandemia, no primeiro trimestre desse ano registrou o lucro líquido R$137 milhões, um aumento de mais de 30%, mais de R$400 milhões de lucro bruto, uma receita operacional de mais de R$1 bilhão e mais de R$2 bilhões em vendas. Faz planos de expansão no Brasil e EUA, sendo boa parte de suas obras, aproximadamente 70%, do programa “Minha Casa Minha Vida”, iniciadas nos governos do PT. Não é à toa que a empresa financiou campanhas desse partido.

Desde então se transformou numa gigante do setor da construção. Uma empresa que cria uma auto imagem de “transparente”, defensora de um código de conduta “ética”, afirma que “todos que fazem parte do nosso crescimento e que nos ajudam a gerar mais valor, são valorizados”; mas a realidade não é bem assim. Pois o que existe por trás desses grandes lucros é sangue e suor de trabalhadores, que erguem grandes prédios, mas sofrem com salários baixos, péssimas condições de trabalho e truculência quando se mobilizam.

Trabalho escravo, danos ambientais e péssimas condições de trabalho

A MRV tem um longo histórico de trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão. Houve casos em Macaé (2014), Contagem (2013), Americana, Bauru e Curitiba (2011). O caso mais recente é desse ano, onde 16 trabalhadores foram resgatados no Rio Grande do Sul.

Além disso há longas reclamações da qualidade das construções e denúncias de construções em áreas tóxicas e áreas de preservação ambiental. Nas obras de Campinas que estão em greve há relatos de falta de papel higiênico e até falta de copos plásticos para beber água (bom lembrar que estamos no meio de uma pandemia).

O sindicato da categoria denuncia que não assina acordo de PLR com a empresa há 3 anos porque a proposta é sempre muito rebaixada. Os trabalhadores são obrigados a bater o concreto na inchada por falta de betoneira, subir as janelas no braço por falta de elevador. Coisas básicas que existem em qualquer obra. Essa é a cara do capitalismo e o Brasil de Bolsonaro.

À luta

Os altos lucros da empresa vêm de tudo aquilo que é construído pelas mãos dos operários e operárias desse mundo, e no capitalismo a geração de riqueza é transformada ao mesmo tempo em geração de pobreza e miséria para a nossa classe. Diante de toda essa situação, há 30 dias, pela pressão da base e de sua vanguarda, foi deflagrada a greve.

Os preços dos alimentos, combustíveis, gás e alugueis nas alturas, a crise sanitária e o aumento do desemprego, formam um barril de pólvora que explodiu nas obras da MRV em Campinas, servindo de exemplo para toda a classe trabalhadora e dando indícios de uma possível explosão social. O governo planeja muitos outros ataques a nossa classe como a retirada de direitos, a exemplo da MP 1045 aprovada a toque de caixa, a piora nos serviços públicos com a reforma administrativa e as privatizações. A crise ambiental e a pandemia que continuam matando aos milhares.

A greve chama a atenção pela força, que se expressa na quantidade de dias parados, algo que muitos dirigentes do próprio sindicato dizem não ter visto na categoria. A queda de braço com a empresa está difícil, mas a garra e a vontade de manter a luta até a vitória enche de orgulho a todos que vão lá prestar apoio e solidariedade.

A imprensa até agora tem invisibilizado e escondido a greve, e muitos ativistas e lutadores ainda não sabem dessa grande luta. No momento difícil que estamos passando essa greve deve servir de ponto de apoio para várias outras que estão por vir e indicam quais podem ser as cenas dos próximos capítulos da luta de classes em nosso país.

É tarefa de todo movimento operário comparecer para prestar apoio e solidariedade, somar essa luta com as lutas programadas para o próximo dia 18, fortalecer a campanha pelo Fora Bolsonaro e Mourão e pela construção da greve geral.

Nesse terreno é que será forjado o polo operário e socialista que precisamos construir para contrapor os projetos da burguesia e da conciliação de classes.

Confira o diário da greve

10 de agosto

Depois de uma forte assembleia, houve a segunda audiência de mediação no TRT com o sindicato e a empresa buscando um acordo no valor da PLR e pagamento dos dias parados. Não houve acordo entre as partes. A empresa apresentou uma proposta muito rebaixada de 600 reais, menor que a proposta de mediação feita pelo MPT. Apesar dos trabalhadores aceitarem a proposta do MPT desde a primeira audiência, a empresa foi intransigente e não aceitou, levando a decisão para julgamento.

11 de agosto

O dia começou com a concentração na frente de uma das obras, como todos os dias, mas dessa vez os trabalhadores foram recebidos com a presença da polícia para intimidar o movimento. Os trabalhadores ocuparam a obra para realizar sua assembleia e avaliar os rumos da luta. Com muita força e determinação os trabalhadores decidiram manter a greve e foram parar outras obras.

Numa ação de desespero, a MRV ameaça demissões dos grevistas, mas a intimidação não está funcionando e a luta segue firme.  Apesar da apreensão pela possibilidade de retaliação e punição, os trabalhadores mostraram que não vai ter arrego!

12 de agosto

Os trabalhadores seguem em greve e fortalecendo o movimento nas obras da região. Os trabalhadores têm feito piquetes que impedem as empreiteiras terceirizadas de entrar nas obras. Como parte do fortalecimento da greve foi parada hoje de manhã uma obra em Santa Bárbara D’Oeste.

O PSTU estive prestando solidariedade e convidando os trabalhadores e trabalhadoras que se somem as mobilizações do dia 18 de agosto em Campinas.